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D A N I E L

Tenho tentado não entrar em confusão, mas eu tenho uma guerra em minha mente.

(Ride Lana Del Rey)


Passos, vozes, sussurros, campainhas tocando. Tem um homem sentado num sofá acolchoado com as mãos entre os joelhos, curvando-se para frente e para trás de olhos vidrados. Uma mulher na faixa dos 40 tenta manter uma criança que não deve ter mais de dez anos parada, enquanto o menino se remexe e tenta se levantar do sofá a todo custo. Outra mulher descasca o esmalte da unha nervosamente, com os olhos fixos nos dedos finos e mordendo os lábios vez ou outra como se lutasse contra o impulso de arrancar a tinta das unhas com os próprios dentes.

Eu estou parado na porta, olhando para cada uma dessas pessoas, ponderando entre dar mais um passo para frente ou dar meia volta quando a campainha toca anunciando a entrada de outra pessoa, então eu preciso me mexer.

Ando desajeitado até o sofá mais próximo, encostado na parede cor de salmão, e me sento na ponta. Sem perceber, ponho as mãos entre as pernas, mas dou de cara com o homem que se balança na mesma posição sentado no sofá bem em frente ao meu e me ajeito, corrigindo a postura e descansando as mãos em cima das coxas.

Olho para quem acabou de entrar e é mais uma mulher com uma criança. Outro menino aparentando dez ou onze anos. Mas este é diferente. É quieto e silencioso. Acompanha a mãe como uma sombra, encarando com seus olhos claros e arregalados cada paciente naquela sala de espera da mesma forma que eu fiz segundos atrás, também da mesma forma que eu fazia anos atrás, quando tinha que vir aqui com minha mãe.

A mulher bem vestida senta num sofá posto no meio da sala, longe dos adultos que parecem mais problemáticos, e puxa com delicadeza o garoto pela mão, tentando fazê-lo sentar ao seu lado. O rosto do menino se transforma, assumindo um ar irritado, quase ameaçador. Ele puxa o braço para longe do toque da mãe com brutalidade e faz uma careta, franzindo as sobrancelhas e formando um bico em seus lábios pequenos.

– Senta aqui, filho – a mãe pede, baixinho.

– Não quero. – A voz do menino soa mais fria e firme do que as dos outros garotos de dez anos que estou acostumado a ouvir.

– Você vai ficar aí em pé? – a mãe insiste.

– Não vou me sentar.

A mulher deixa os ombros caírem, cedendo, e põe a bolsa em seu assento enquanto se levanta e vai até a recepção. Não escuto sua conversa com a recepcionista, mas foco minha atenção no garoto, que continua em pé de braços cruzados e volta a examinar a sala. Desta vez ele não parece tão assustado quanto quando entrou. Está curioso. Seu olhar pousa diretamente em mim, e ele me observa de onde está, a mandíbula cerrada. Parece querer provar para si mesmo que este lugar não o assusta, que ele é maior e mais forte do que todo mundo aqui, inclusive eu.

Não sei se concordo com a primeira parte, mas com a segunda, certamente que sim.

Depois que a mulher volta para seu assento ao lado do filho, que ainda não se sentou, é minha vez de levantar e ir até a recepção. Eu paro de frente ao balcão e estremeço quando um pedaço da pele descoberta do meu braço entra em contato com o mármore frio. A recepcionista é uma mulher jovem, loira e maquiada, que digita rapidamente em um computador sem levantar os olhos para mim.

Fico ali parado, esperando não sei exatamente o quê, olhando desconcertado para todos os objetos em cima da mesa posta por trás do balcão. A mulher finalmente ergue a vista e me encara.

AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora