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A L I S S A

Quando você está na meia luz, eu não gosto da metade que vejoO que possui você?

(Half Light BANNERS)

Algumas coisas são impossíveis de esquecer. Algumas coisas são tão marcantes que você simplesmente não consegue tirar da sua mente, não importa quanto tempo passe. Pode ser seu primeiro dente de leite que caiu; o divórcio dos seus pais; o enterro improvisado do seu cãozinho que se foi cedo demais; seu primeiro beijo; seu primeiro amor; seu primeiro término; o dia em que você teve a certeza que era verdadeiramente amada e que estava amando de volta; a forma como este mesmo amor te olhou quando disse que estava tudo bem entre vocês, e o quão forte seu coração bateu naquele instante, sem precedentes, e você soube que era mentira.

Não está tudo bem, não está tudo certo. E a pior parte é não ter ideia do que está indo errado.

Tento contar na minha cabeça todas as vezes em que eu e Daniel discutimos desde que nos conhecemos - e não foram muitas, então a contagem é fácil. Mas é doloroso, porque nossas poucas e pequenas discussões ocorreram todas na mesma época: nos últimos dias.

A questão chave é o motivo das discussões, Anna me disse. Eu não soube explicar a ela que não foram por motivos banais, como a maior parte dos casais. Longe disso, foram por coisas que não fazem o menor sentido para mim, como um comportamento inesperado ou uma resposta fria, o que pode parecer muito comum entre duas pessoas normais. Mas não somos normais. Não somos como os outros.

Da mesma forma sutil como nos aproximamos, parece que agora lutamos contra uma barreira invisível que insiste em nos empurrar para longe um do outro. Cada toque tem um novo significado, as palavras parecem carregar um novo tipo de peso a qual não estamos acostumados a carregar. A qual eu não estou acostumada a carregar.

"Se você gosta dele de verdade, você vai tomar cuidado com a amizade de vocês dois. Para o bem dele e para o seu próprio", foi o que Thomas me falou em sua casa numa das vezes em que nos reunimos para fazer trabalho. Ele estava me contando sobre Daniel e sua fragilidade, sobre como talvez estivéssemos indo rápido demais e eu ainda não o conhecesse o suficiente.

Eu não entendi muito bem aquilo tudo no dia, se apaixonar era algo tão bobo e simples, tão pequeno em comparação a todos os problemas do mundo. Mas é diferente quando estamos de fato apaixonados e nossos corações estão suscetíveis a serem quebrados ao mínimo deslize. Eu sinto como se estivesse deslizando, derrapando. E ele também está, mas do lado oposto ao que me encontro.

No meio de toda essa confusão, eu sei que falta alguma coisa. Só estou com medo demais de procurar e não gostar do que descobrir.

– Alissa! – ouço chamarem meu nome e a voz tem o efeito de um puxão brusco de volta a realidade.

Pisco duas vezes antes de conseguir focar minha mãe, que me encara com as sobrancelhas bem feitas franzidas de impaciência.

– Sonhando acordada no meio da clínica?

– Hã? – ainda estou meio aérea, portanto perdida na situação em que nos encontramos. Olho ao redor, tentando reconhecer o ambiente.

– Estão chamando seu nome. Ou será que você não é a senhora Alissa Junqueira Lerner?

Faço uma careta à menção do meu nome completo, que eu definitivamente acho que não combina.

– Ai, não precisa falar tão alto, é horrível.

AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora