N.A.: capítulo não corrigido.
A L I S S A
Mesmo se o céu estiver caindo, eu sei que eu e você estaremos sãos e salvos.
(Safe and Sound – Capital Cities)
Meu dia começa estranho quando, pela primeira vez em muito tempo, eu acordo depois do meio dia. Minha mãe não se incomodou em me chamar quando percebeu que eu ultrapassei meu horário usual, 8 horas da manhã. Ou talvez ela nem tenha percebido. Anda muito distraída ultimamente, como se tivesse dedicada em tempo integral a solucionar um grande programa.
Estupidez a minha pensar isso, já que temos um grande problema: meu irmão continua desaparecido.
Às vezes eu penso que Nathan não irá mais voltar. Eu tento manter minha rotina o máximo possível, ocupando meu tempo com qualquer coisa que apareça para fazer, e tenho me surpreendido com a facilidade que estou lidando com tudo isso. Como se Nathan ainda estivesse em casa, trancado no quarto, ou como se ele tivesse ido embora há tanto tempo que já não faça mais falta.
Sei que é errado pensar dessa forma. Me sinto muito mal por isso. Mas, se for ser sincera aos meus sentimentos, é dessa forma que as coisas estão ocorrendo. Talvez seja mais uma resposta do meu cérebro a tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Ele cansou de me fazer ficar para lá e para cá cuidando de tudo, simplesmente entrou no modo automático para me permitir ter uma rotina mais normal possível.
Enquanto tomo banho, aproveito para descansar debaixo do chuveiro. Deixo a água quente escorrer pelas minhas costas numa massagem suave que me relaxa e me faz esquecer do peso de mais um dia. Depois, ao me pentear em frente ao espelho, cantarolo e balanço de acordo com o som distante do meus irmãos e sua banda tocando um cover de uma música popular de 5 Seconds of Summer. Estou certa de que Luke mal pode esperar pelo fim das férias e a volta das suas aulas de canto.
Ao chegar na cozinha, encontro minha mãe terminando de lavar a louça do almoço. É com sentimento de culpa zero que a cumprimento:
– Bom dia.
Ela nem vira para mim.
– Pode me ajudar guardando essa louça?
– Assim que eu comer alguma coisa.
Entendo como seu silêncio como um acordo. Preparo um copo de iogurte com granola e faço uma torrada. São 13 horas da tarde e eu estou tomando café da manhã, sim. E daí?
Como sem pressa, olhando de vez em quando através da janela da cozinha, para a casa ao lado. Meu instinto ainda é pegar o celular e checar as mensagens, mas Daniel continua incomunicável, pois não ganhou nenhum celular novo até agora nem parece preocupado com isso.
Quando começo a secar a louça e colocar prato após prato em cima da mesa para guardá-los em seguida, minha mãe enxuga suas mãos no pano de prato e vira-se para mim.
– Aproveita e põe também o lixo para fora.
Eu assinto com a cabeça e continuo meu trabalho fazendo o mínimo de barulho possível. Ela deixa a cozinha e eu fico sozinha a louça limpa e sem graça. Guardo cada prato e copo um por um, mas largo os talheres todos de uma vez dentro da gaveta. Depois, tentando me livrar do nojo, abro a lixeira grande posta dentro do armário embutido na pia e puxo o saco úmido e fedido.
Empurro a vontade de vomitar para longe e dou um nó no saco com rapidez, mas de mal jeito. Não me importo. Passo correndo para a sala e então abro a porta, saindo em disparada pelo gramado e praticamente jogando o saco de lixo no canto mais distante da nossa calçada, perto do poste de luz, onde o outro vizinho já colocou seu próprio lixo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Afogados
Teen Fiction‣ LIVRO 2 DA SÉRIE SUBMERSOS. Daniel e Alissa já ouviram canções melhores e navegaram por mares mais calmos. Calmos porque, se pensam que o barco em que estavam passou pelo pior, estão enganados. A tempestade mal começou e com ela vem grandes estrag...