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A L I S S A

Podemos cair de joelhos, mas vai ficar tudo bem.

(Living On The Outside Bruno Martini)


Um mês. Um mês que Nathan sumiu e os policiais ainda vêm até minha casa pelo menos uma vez todas as semanas. Meu pai está obcecado, literalmente. É isso ou não sei outra razão para que ele peça aos seus amigos para virem aqui o tempo todo à procura de qualquer mínima pista do paradeiro do meu irmão.

Não acho algo ruim, na verdade, mas é incômodo. Eles não usam nenhum tipo de uniforme especial, para meu consolo, e os verdadeiros policiais que trabalham no caso não sentem mais a necessidade de fazer outras revistas, mas estes são amigos do meu pai e vêm sempre que ele chama, pois está fazendo uma investigação à parte e por sua própria conta.

O mais novo dos investigadores, que sempre está usando camisa social branca e quase parece um cara normal que poderia morar na vizinhança, é também o mais simpático. Eu chamo ele de Rick.

Decorei o nome de cada um dos três que se revezam nas visitas, mas prefiro chamá-los por apelidos que inventei junto com Luke e Gabe, pois assim me sinto como numa espécie de seriado policial e o clima pesado se torna mais suportável. Tem Rick, Bolota e Raul.

Hoje vieram dois, Bolota e Raul. O primeiro tem esse apelido porque ele parece mesmo um policial de filme: é um pouco acima do peso e sempre lancha café com biscoitos. Tenho vontade de fazer donuts para ele apenas para ilustrar mais a coisa toda.

Já Raul tem um bigode que me lembra um ator de novela mexicana. Ele também é o mais sério dos três. Se eu não soubesse que ele é investigador, poderia pensar que participa de alguma quadrilha de narcotráfico. Alguma coisa meio Pablo Escobar.

Estou curtindo com a cara deles assim porque estou tentando ignorar o fato de que estão no meu quarto, mexendo nas minhas coisas.

Não estão propriamente fuxicando. Eles meio que olham de leve, como se só para dizer que olharam, para satisfazer meu pai e informá-lo de que não encontraram nada que possa ajudar no caso. Pelo menos eles fazem a gentileza de deixar o meu quarto por último, só vindo checá-lo depois de terem rodado pela casa toda.

Meu pai assiste tudo da porta com um ar de ansiedade bem evidente em sua face cansada. Ele tem passado mais tempo em casa do que o normal, o que quer dizer que ele sai de casa às 7h e chega pontualmente às 20h quase todos os dias na semana, com exceção das terças e sextas que é quando ele chega às 16h. Também passa os fins de semana em casa ao invés de em clubes, e não faz mais hora extra. Ele comentou que está pensando em pedir um afastamento para poder se dedicar mais à busca de Nathan.

Devo admitir que estou surpresa. Pela forma como Nathan e nosso pai eram dentro de casa, eu nunca imaginei que papai fosse se abalar tanto com o sumiço do meu irmão. Eles mal se falavam nos últimos meses e papai reclamava sobre Nathan a maior parte do tempo. Acho que eu, assim como Nathan, esperava que ele fosse reagir a isso tudo com muito mais dureza que nossa mãe.

Ela, por outro lado, tem se mostrado uma rocha. Está mais do que nunca ligada aos meus irmãos mais novos, os dando atenção extrema e saindo com eles sempre que pode para tentar afastá-los de todo esse clima.

Também conversa comigo de vez em quando, ou tenta, mas eu não sou muito colaborativa. Talvez no fundo eu também culpe meus pais pela fuga de Nathan.

Eles exigiram dele até onde ele não podia mais dar, então a única solução do ponto de vista de Nate foi exatamente essa: fugir. Largar tudo para trás e simplesmente sumir do mapa.

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