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A L I S S A

E se deixarmos eles para trás e eles nunca nos encontrarem?

(Youth Troye Sivan)

Não faço a mínima ideia do que estamos fazendo até já estarmos num ônibus para o centro da cidade. Pegamos o primeiro ônibus que passou com destino ao centro da cidade. Seria normal se o relógio não estivesse batendo quase 23 horas.

Sem conseguir evitar, dou um bocejo.

Daniel está atento ao meu lado.

– Quer voltar para casa? – ele pergunta, preocupado. Acho que ele está tão nervoso quanto eu sobre nossa aventura repentina no meio da noite.

Faço que não e aperto mais meu casaco de frio contra meu corpo. Foi a única coisa que peguei ao sair de casa. Por baixo estou usando uma regata simples azul que não me favorece em nada no sentido de me manter mais aquecida.

Ainda prestando atenção em mim, Daniel percebe meu movimento. Ele rapidamente tira seu próprio casaco e me entrega. Estou prestes a recusar quando percebo que a camisa que ele usa por baixo é nada mais nada menos que seu suéter preto preferido, que por coincidência é meu preferido também, então aceito o moletom escuro de bom grado e o visto por cima do meu próprio casaco, aproveitando para colocar o capuz.

Ele também passa o braço ao meu redor, me puxando para perto e me aconchegando ao seu corpo. Inspiro seu perfume enquanto olho pela janela, observando as ruas quase vazias. Apesar de o verão estar cada vez mais próximo, ao contrário do que disseram as previsões do jornal, choveu esta noite e o tempo está um pouco frio, o que não é surpresa para mim, pois já estou acostumada às imprevisibilidades temporais da nossa cidade.

Estou me perguntando para aonde estamos indo exatamente quando vejo através da janela um aglomerado de pessoas mais a frente de onde estamos passando. Me estico um pouco para enxergar melhor e Daniel também capta o objeto do meu interesse, abrindo mais a janela para ter uma visão completa do que está acontecendo lá fora.

Antes que eu possa entender com precisão, ele se levanta do assento e puxa a cordinha pedindo parada.

– O que a gente vai fazer aqui? – me levanto junto com ele, o seguindo até a porta traseira do veículo.

– É um evento cultural. – ele responde, sem mais explicações.

Logo que descemos, Daniel estende sua mão para mim, que a seguro firme, com medo de me perder quando entrarmos no meio da multidão que parece ainda maior quando vista mais de perto.

Atravessamos a rua e nos embrenhamos entre as pessoas. Fico cada vez mais intrigada e curiosa para saber o que está acontecendo. Tem algumas barracas de comida espalhadas pela rua, que está bem iluminada, e as pessoas andam para todos os lados, ainda que uma maior quantidade de gente aparentemente esteja se movendo em direção a um único ponto, mais para o fim da rua. É para lá que Daniel me leva.

– É um evento cultural – ele repete, quando estamos próximos o suficiente. – Aqui sempre tem desses. Deve ser algum show.

Só então eu consigo ouvir a música. Alguma banda está tocando, mas não reconheço a voz nem a canção. Um ritmo leve, com uma pegada meio MPB, então imagino logo que seja alguma atração local.

Daniel me guia até o meio do furdunço todo, onde tem várias pessoas num público parcialmente cheio, dançando e fazendo coro junto com a banda. O vocalista é um homem de estilo bem conceitual, com barba e cabelos longos. Não entendo direito o que ele está dizendo, pois o equipamento de som não é dos melhores e a plateia faz muito barulho.

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