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DANIEL

Quando me sinto heavy metal e sinto meu corpo queimando, bem, eu minto.

(Song 2 Blur)


Eu não sei o que merda eu pensei que estava fazendo. Sei que estou fodido.

Pode parecer bem grosseiro falar assim, mas não há forma que descreva melhor. Meu fígado dói, meu corpo todo está exausto, minha boca está seca e minha cabeça lateja. Solto um gemido quando tento me mover e um novo aperto de dor me atinge. Merda.

Abro os olhos para me deparar com Sarah sentada numa cadeira ao lado da minha cama, me encarando. Merda, merda, merda.

– Então você se divertiu bastante ontem, pelo visto.

Ela não está perguntando, está afirmando. E não parece nada feliz com isso.

Eu a ignoro, forçando-me a ficar pelo menos sentado na cama, mas até isso parece uma missão impossível. Lutando contra a dor, consigo me inclinar e me sento, buscando os travesseiros para me encostar.

– Onde está o meu pai?

– Saiu.

Mesmo todo dolorido e cansado física e mentalmente, eu ainda encontro forças para ser grosseiro com ela. Seja o que for que ela esteja pretendendo fazer, não a quero por perto.

– É agora que você vai bancar a madrasta má?

Sarah não se abala nem um pouco. Ela abre um sorriso nem um pouco simpático e ergue uma sobrancelha para mim.

– Pelo contrário. É agora que vou bancar a madrasta boa.

Ela se ergue da cadeira, ficando de pé aos pés da cama e estica os braços pra mim.

– Vem, levanta desta cama.

– Me deixa em paz. – tento resmungar, mas soa mais como um gemido.

Sarah finge que não me ouviu:

– Fiz uma sopa para você.

– Não estou com fome.

Ela suspira, visivelmente irritada com minha relutância. Aposto que ela deve estar atualizando sua lista de xingamentos direcionados a mim mentalmente agora, e não sei o porquê, mas me sinto um pouco mal por isso, então justifico:

– Eu não quero levantar.

Sarah suspira de novo, mas desta vez não é de impaciência, é de compreensão. Ela olha diretamente em meus olhos quando diz:

– Eu sei que você não quer levantar. Mas você precisa. A gente não faz as coisas só por querer.

Por mais que eu queira sustentar seu olhar, seja como uma forma de desafiá-la ou também para enfrentar a mim mesmo, não consigo. Tusso para limpar a garganta e passo a mão pelo rosto, subindo pela testa e arrastando o cabelo para trás. Meus olhos ardem.

Sarah parece ler meus pensamentos e caminha até minha escrivaninha, pegando de lá um copo de água que ela logo estende para mim. Eu recebo a água sem dizer uma palavra e logo que dou o primeiro gole sinto como se tivesse passado o último mês desidratado. A água tem um gosto diferente para mim. Diferente e bom. Quero mais. Quero tomar água ate não aguentar mais nenhuma gota. É a única bebida que quero tomar daqui pra frente.

Minha madrasta espera enquanto eu bebo toda a água do copo para então recebê-lo de volta, agora vazio, e colocá-lo sobre a escrivaninha. Quando ela retorna a olhar para mim, parece menos irritada.

AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora