ALISSA
Nós dois sabemos que é um mundo cruel, mas eu vou me arriscar.
(As Long As You Love – Justin Bieber [cover by Jaymes Young])
Nada é tão fácil quanto parece. Você não aprende, por exemplo, a tocar violão ou bateria de um dia para o outro. É preciso prática, é preciso técnica, além de muita dedicação, é claro.
Não é fácil. Mas também não é impossível.
Não é impossível. Essa frase é muito provavelmente o que está me motivando a seguir em frente todos os dias. Não é impossível acordar e voltar a rotina. Não é impossível tomar café da manhã e socializar com o resto da família. Não é impossível tomar um banho e escolher uma nova roupa para um novo dia. Não é impossível recuperar suas forças e sorrir sempre que tiver a chance. Não é impossível resistir e enfrentar os problemas por mais difíceis que eles pareçam ser. Você ainda está vivo e, enquanto respirar, é preciso fazer valer a pena cada partícula de ar que continua entrando em seus pulmões. É preciso acordar para mais um dia.
Nada é tão fácil quanto parece, mas também não é impossível.
≈ ≈ ≈
Eu não reconheço a música, mas ela está alta o suficiente para que eu saiba que está sendo tocada dentro da minha casa. Algum tipo de sessão acústica, talvez. Eu me deixo ser guiada e sigo até a garagem que é de onde o som está vindo. Ao chegar, me deparo com Luke, Gabe, Noah e Eric. Os três últimos tocando em seus instrumentos - violão e cajón - enquanto Luke canta. Eles arrumaram um lugar para ficar no canto da parede oposta a da porta que leva para dentro de casa. Arrumaram algumas caixas e velharias nos fundos e ocuparam o espaço vazio que elas antes preenchiam. O carro do meu pai está estacionado mais para trás, quase encostando no portão da garagem. Os meninos encontraram um jeito de ter seu cantinho de ensaiar em casa agora que nossa mãe está cheia de regras quanto a eles precisarem sair.
Entro na garagem e fecho a porta para o som não entrar não alto e incomodar de alguma forma minha mãe que trabalha no escritório ao lado da cozinha. Me encosto na porta fechada e observo meus irmãos tocando com um meio sorriso no rosto. Não consigo esconder a surpresa por ouvir a voz de Luke e achá-la tão boa. É sério mesmo que é ele quem está cantando? Posso perceber a rouquidão e a afinação estranha da puberdade que não favorece muito seus vocais, mas, ainda assim, não está nada mal. Agradável, até.
Como os meninos estão postos de lado e muito envolvidos no que fazem, além da música estar alta, eles não me vêem entrar, então me ocupo tentando prestar atenção na letra, que é em inglês, mas o sotaque forte de Luke e a rapidez com que canta dificulta um pouco o entendimento. Me contento em apenas ouvir e sento no batente da porta.
Devo ter chegado no final da canção, pois menos de um minuto após ter me sentado eles param de tocar e Luke finaliza com uma pose que ele com certeza deve estar copiando de alguma estrela pop da TV. Ele dá um giro e me vê.
– Ei, Alissa.
Na mesma hora, os outros garotos viram os rostos para mim. Noah franze o cenho. Eu fico desconfortável, pois sei que ele é o mais mau humorado do grupo, e não me surpreendo quando ele reclama:
– O que ela está fazendo aqui? Os ensaios são particulares.
– Não tem problema – Eric, o garoto que me paquerou outro dia, fala na mesma hora. – Você pode assistir.
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Afogados
أدب المراهقين‣ LIVRO 2 DA SÉRIE SUBMERSOS. Daniel e Alissa já ouviram canções melhores e navegaram por mares mais calmos. Calmos porque, se pensam que o barco em que estavam passou pelo pior, estão enganados. A tempestade mal começou e com ela vem grandes estrag...