Bartholomew

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MESES ANTES

Angelique Beaumont

Mordi a ponta da minha caneta e passei a página do meu diário. Acabei de escrever uma música mas eu não sei se gostei muito...

Eu preciso de alguma inspiração e eu não estou triste o suficiente para isso.

Desviei o meu olhar do pequeno caderno e olhei em volta da padaria para encontrar algum elemento que me inspire... e então eu percebi que tinha um homem olhando para mim. Ele parecia estar me reconhecendo de algum lugar mas eu não me lembro dele de canto nenhum.

Eu sorri para ele e voltei a encarar o meu diário.

— Me desculpe — Ele falou em inglês — Não quero assustar você, mas eu precisava te dizer isso... — O homem pareceu nervoso e eu apenas esperei que ele dissesse — Você se parece muito com a minha falecida esposa.

Olhei para ele em choque, não pude disfarçar a surpresa em meus olhos.

— É um assunto triste, eu sei... — Ele riu um pouco — Posso me sentar aqui? — Apontou para a cadeira vaga na minha mesa e eu concordei, mas ainda um pouco receosa com isso.

— Você fala inglês fluentemente ou...

— Sim. Eu falo — Respondi e ele sorriu para mim.

— Ótimo. Assim podemos conversar — Ele olhou para a minha mesa — Você aceita alguma coisa? — Ele perguntou percebendo que eu não estava comendo nada.

— Um chá — Dei de ombros e ele chamou uma das garçonetes.

— Eu não sou nenhum tarado — Ele disse e depois se arrependeu disso quando eu continuei olhando para ele da mesma forma que antes, sem nenhuma reação sequer — Qual é o seu nome?

— Angelique — Respondi.

— Maravilhoso! Meu nome é Bartholomew — Ele tocou o peito dele e depois estendeu a mão para me cumprimentar — Está estudando? — Bartholomew reparou em meu diário — Não quero atrapalhar você.

— Não — Fechei meu diário e o guardei na minha bolsa.

Meu chá chegou e eu tomei um gole. Lancei um olhar para ele e vi que ele ainda me encarava daquele mesmo jeito de antes.

— Quantos anos você tem? — Ele perguntou e eu pousei a minha xícara em cima da mesa.

— Vou fazer dezessete.

Ele colocou os braços sobre a mesa e assistiu eu tomar o meu café.

— Olhe — Ele pegou a carteira dele no bolso e tirou de lá de dentro uma foto — Essa é Celina, minha falecida esposa — Eu peguei a foto da mão dele e olhei a mulher sorridente.

Reparei que nossos olhos são parecidos, mas não acho que eu me pareço com ela no geral, apenas os olhos e a cor do cabelo, mas o dela é curtinho e o meu é longo.

— Ela era muito bonita — Elogiei e devolvi a foto para ele.

— Sim... Assim como você — Ele disse e eu escovei um leve sorriso. Esse homem parece um pouco triste...

— Obrigada — Agradeci e voltei a tomar o meu chá.

— Eu tenho um filho. Ele tem um pouco de Celina, talvez mais da personalidade rebelde dela do que fisicamente. Você é mais parecida com ela do que ele é. Ele se parece comigo.

Eu não disse nada.

— Celina sempre quis uma filha... Mas ela morreu antes... — Bartholomew lamentou — Se tivéssemos uma filha talvez ela fosse como você.

Olhei para o relógio na parede e percebi que estava quase na hora da minha aula de piano.

— Você é muito calada... Estou te chateando?

— Eu tenho medo de errar o inglês — Confessei e o homem deu risada.

— Você fala inglês muito bem — Ele elogiou e continuou olhando para mim e sorrindo.

— Eu tenho aula de piano agora. É aqui perto, se quiser pode vir me assistir tocar...

Ele aceitou então eu peguei a minha bolsa e antes que eu fosse parar o que bebi ele pagou para mim.

Bartholomew parece um homem muito rico, eu consigo perceber pelas suas roupas e pela sua aparência por completo.

Caminhamos até o conservatório e entramos no prédio.

— Não posso demorar... Tenho uma reunião mais tarde — Ele checou as horas no relógio.

— Vou tocar por no máximo uma hora — Falei e ele aceitou.

Subimos a escada e entramos em minha sala.

Geralmente tem apenas eu e Danielle nesse horário. Ela é minha professora particular.

Sentei-me com Danielle no banquinho e olhei para o outro lado da sala. Bartholomew estava sentado com as costas apoiadas na parede e olhando na nossa direção.

Eu acabei para ele e depois comecei a tocar a canção que estava nas partituras que Dani havia organizado para mim.

— Quem é esse, Angelique? — Danielle me perguntou e eu sorri para ela.

— Um cara que conheci na padaria — Contei e ela me encarou com repreensão.

— Ele é muito mais velho — Ela analisou o homem, julgando-o.

— Não e para mim — Eu disse com humor — É para a minha mãe...

Danielle tentou conter um riso mas não conseguiu.

— Ainda não desistiu de tentar encontrar um marido para ela?

— Ele é viúvo — Falei baixinho para que ele não ouvisse a gente falando dele — E ele é o tipo dela... Charmoso e rico!

Dani riu um pouco e corrigiu uma nota que toquei errado.

Toquei quatro músicas e então ela me cutucou com o cotovelo para que eu olhasse para o outro lado — A sua mãe chegou — Ela disse e eu encarei a minha mãe que começou a acenar sem parar.

Ela nunca entende que não posso parar de tocar para acenar de volta...

— Ela viu ele — Danielle falou e eu sorri para ela — Seu plano está começando a dar certo...

Bartholomew ainda estava prestando atenção em mim quando a minha mãe se aproximou dele.

Ela provavelmente está curiosa para saber quem é esse homem que está aqui no horário da minha aula, assistindo-me. Ela tem muito orgulho de mim e gosta de dizer para todos que a pianista é filha dela.

— Ele gostou de mim — Contei à Danielle — Falou que eu poderia ser filha dele. Que eu sou parecida com a falecida esposa dele...

— Isso é muito bizarro — Ela comentou.

— E daí? — Dei de ombros — É a minha chance de ter um pai... e talvez um irmão também... E minha mãe merece ser feliz, Dani. Ela passou a vida toda sozinha, passando na mão de homem em homem...

Olhei para a minha mãe conversando com o Bartholomew e imaginei todo o meu futuro em segurança com uma família tradicional como as minhas amigas tem. Estou cansada de viver em uma casa que parece um bordel.

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