É Natal

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Angelique Beaumont

Eu fui para a outra sala e avistei um homem de cabelos brancos virado de costas para mim. Ele é alto e magro, tem um estilo muito simples, composto apenas por calça jeans desgastada e por um moletom de linho grande que parece ser uns três números maior que seu verdadeiro tamanho.

Se me perguntassem qual foi a minha primeira impressão eu diria que ele é colorido demais e que definitivamente precisa de um novo par de sapatos.

Primeiro eu fiquei confusa... Quem é esse cara no meio da sala principal analisando os nossos móveis? Mas assim que ele se virou para olhar para mim eu percebi as semelhanças entre nós.

Ele é bem mais velho do que eu lembrava e imaginava em meus pensamentos e sonhos.

Quando ele se foi eu era muito pequena e eu não tinha uma imagem perfeita de como ele era naquela época, mas com certeza ele já era um homem mais velho porque agora ele se parece o papai Noel que veio nos visitar no Natal, mas sem a barriga e com uma barba mais curta.

— Como você cresceu — Ele disse e o meu corpo congelou.

Eu não me lembrava de como era a sua voz e agora que eu a escutei parece real. Ele voltou. Ele está aqui. Meu pai está diante de mim e eu nem sei o que dizer ou o que fazer.

— Está bonita — Ele elogiou-me e eu não disse nada. Parece estranho. Eu não imaginei que o nosso reencontro fosse ser assim... tão confrangedor. Eu tinha tanto o que dizer mas agora eu sinto que não tenho palavras. E ele não parece confortável também — Você se lembra de mim?

Eu assenti e respirei como se fosse a primeira vez em minutos, e talvez tenha sido.

— Estou mais velho e mais bonito mas sou eu, Angie — Ele tentou fazer uma brincadeirinha mas falhou porque essa sala nunca esteve mais silenciosa.

Minha mãe adentrou no ambiente e ficou me encarando como se fosse me salvar a qualquer momento, e eu sinto o Christopher atrás de mim, como se fosse o meu apoio, meu guarda-costas.

— Sei que você deve estar se perguntando porquê eu desapareci por tantos anos...

— Já que tocou no assunto... — Eu comecei a falar e cruzei os meus braços — Por que? — Perguntei.

Ele suspirou como se estivesse decepcionado consigo mesmo.

— É complicado...

— Vou tentar entender — A minha voz saiu fria e firme. Eu quero finalmente saber de tudo o que aconteceu.

— Eu sou um cara perdido... — Ele tentou se aproximar mas eu dei um pequeno passo para trás, apenas para deixar ele saber que eu não quero que ele se aproxime.

Não agora, não antes de eu ter respostas às minhas perguntas.

— Nunca fui o tipo responsável e certinho... Eu sou um sonhador e um viciado em descobrir... Você deve saber que eu fui para a Índia, certo? Eu fiquei lá por um tempo... Escrevi artigos que eu julgo ser os piores já escritos no mundo e depois mudei-me para a China...

— China? — Ergui uma sobrancelha.

— Sim... A minha intenção era ficar tempo o suficiente para conhecer a cultura e os lugares, e então eu voltaria para você, mas eu fui preso e descobriram os documentos falsos que eu usei porque... não me pergunte o motivo — Ele riu de nervosismo — Foi muito difícil sair de lá, pensei que eu morreria ali, mas eu consegui sair depois de um bom tempo com a ajuda do consolado da França.

Eu olhei para a minha mãe que parece um pouco estressada e chateada, depois olhei para o Christopher, e vi que ele parece um pouco confuso porque eu e o meu pai estamos conversando em francês e ele não é fluente.

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