Meia Palavra

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MESES ANTES

Angelique Beaumont

Coloquei Cherry Bomb para tocar e comecei a bater o meu pé no chão no ritmo da música.

Aumentei o volume até o máximo e comecei a me empolgar...

Peguei a vassoura que estava varrendo o meu quarto e usei isso como o meu microfone.

Eu tinha arrumado todo o meu quarto, Bart tinha me incentivado a fazer isso, e agora eu estava limpando.

— ANGELIQUE! — A minha mãe gritou comigo e depois abriu a porta e me encarou com o cenho franzido e com um dedo tampando o ouvido — Abaixe o volume... Bartholomew está na sala!

Fiquei olhando para ela séria e assustada por ela ter aberto a porta no meu momento de distração e depois segurei o riso, olhando para ela como uma criança levada.

Voltei a música para o começo.

Ela revirou os olhos e saiu da porta.

Peguei a minha vassoura e a deslizei pelo corredor logo atrás da minha mãe.

Surgi na sala deslizando as minhas meias pelo chão assim como uma rockstar entraria em um palco.

Bartholomew olhou para mim surpreso pelo meu ato inesperado e entrada triunfante.

A Minha mãe entregou uma taça de vinho para ele e olhou para mim também, diversão em seu olhar assim que ela percebeu o que eu iria fazer...

— Hello, daddy — Apontei para o Bartholomew e depois apontei para a minha mãe — Hello, mom... — Balancei os meus ombros e seios enquanto cantava: — I'm your ch-ch-ch-ch-ch- Cherry Bomb! — Joguei a minha cabeça de um lado para o outro — Hello, World, I'm your wild girl! — Balancei os meus quadris, rebolando — I'm your ch-ch-ch-ch-ch- Cherry Bomb!

Minha mãe se sentou em uma poltrona e cruzou as pernas para esperar eu terminar o meu show enquanto bebericava o vinho.

Afastei as coisas da mesa de centro onde já foi palco de muitos artistas independentes e subi em cima da mesma.

Fiz toda a minha performance dançando o mais loucamente possível, no final da música o meu cabelo estava todo bagunçado e cobrindo a minha cara.

Soprei os fios com força para que se afastassem do meu rosto e desci da mesa, coloquei a minha mão na cintura e encarei o Bart com um sorrisinho esboçado em minha boca.

— Bart! Eu arrumei o meu quarto! — Eu disse orgulhosa de mim mesma — Estive pensando, eu arrumo a bagunça de outras pessoas e não faço isso com a minha própria. Por acaso você tem alguma explicação para isso?

— Eu acho que você pode se preocupar mais com as outras pessoas do que com você mesma... — Ele disse para mim — Quando você limpa o sangue do lugar onde elas morreram, você está encobrindo a desgraça delas. A sua mesmo não importa desde que as pessoas ao seu redor estejam bem.

— Onde aprendeu tudo isso? Esse lance de analisar as pessoas? — Questionei e me sentei ao seu lado no sofá velho.

— Com a vida, Angie — Ele respondeu e eu olhei para a minha mãe, sorrimos uma para a outra impressionadas com a experiência dele — Eu sempre tive que lidar com as pessoas no trabalho e também com muitas esposas cheias de manias... — Bart soltou um riso e tomou o vinho.

— Quantas esposas? — Perguntei.

— Angelique! — Minha mãe repreendeu-me.

— Três — Ele respondeu sem nenhum problema — A primeira faleceu, como você já sabe. Isso me fez refletir muito sobre a vida — E agora... — Bart pareceu pensativo e eu esperei que ele terminasse o que iria dizer, mas ele não fez.

— Como o seu filho cresceu e conviveu com a falta da mãe dele? — Minha mãe perguntou interessada — Aqui eu sofro quase a mesma coisa com a Angelique. O pai dela é tão ausente que é como se tivesse morrido — Ela disse com humor negro e riu.

Bartholomew ficou olhando para ela como se fosse uma louca.

Eu ri também apenas para ela não passar por isso sozinha.

Bart suspirou.

— Não muito bem — Ele disse distante como se lembrasse de algo... — Meu filho não gosta de mim como eu gostaria... Mas eu acho que a culpa é minha, não fui tão bom como a Celina seria.

— Como ele pode não gostar de você? — Eu perguntei e toquei o rosto dele suavemente — Você só pode estar enganado. Ele tem sorte por ter você, assim como eu tenho sorte de ter a minha mãe... — Olhei para a minha mãe e sorri — Vocês nos criaram sozinhos. É muito difícil fazer isso...

— Obrigado — Ele disse e acariciou o meu cabelo, mas ele não parece convencido do que eu disse.

— Angelique tem razão. Seu filho deve amar você muito, Bart. Ele só não sabe demonstrar isso.

— Eu acho que ele puxou a mim nesse sentido — Bartholomew disse e pareceu um pouco chateado — Eu mantenho tudo dentro de mim, guardado, escondido, todo o sentimento... mas quando eu estouro, eu acredito que sou capaz de falar tudo! Qualquer coisa... Foi assim com a Celina — Ele suspirou e olhou para mim— Às vezes é difícil perceber o que estou sentindo...

Senti o seu olhar no meu, e eu acredito que eles estavam brilhando nesse momento.

Ele é tudo o que eu gostaria em um pai.

— Mas às vezes — Bart disse ainda encarando os meus olhos, meus cílios, minha pálpebra, e as minhas sobrancelhas — Meia palavra basta para perceber, Angelique...

Eu fiquei em silêncio.

— E um olhar, vale mais do que mil palavras — Ele completou.

Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora