O confronto

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Angelique Beaumont

Meu padrasto foi levado em uma maca por enfermeiros. Minha mãe estava desesperada seguindo eles para algum lugar... E eu fiquei ali parada, olhando para aquela porta que me separava do Christopher. Eu queria mandar todos irem para o inferno e entrar ali para dar um último beijo nele.

Mas eu estava fraca, sabia que se eu me movesse, eu desmaiaria.

Então eu fiquei parada. Esperando qualquer coisa sair por aquela porta e me dizer que tudo estava bem... Eu não estava preparada para perder o Christopher. Nunca estaria. Ele era muito novo, ele adorava viver...

Ele ainda era tão iluminado apesar da vida ter tirado o seu maior tesouro assim que deu a sua primeira respiração.

O sentimento de culpa por sua mãe ter morrido provavelmente nunca o abandonou, ele cresceu com esse trauma, mas mesmo assim, Christopher era um dos homens mais legais que eu conheci.

Ele tinha os seus defeitos, mas quem não tem?

Não era a hora dele ir embora dessa vida.

Eu precisava dele.

Fechei os meus olhos e me ajoelhei no chão.

Eu rezei com todas as minhas forças internas.

Pedi perdão à Deus pelos meus pecados e pedi misericórdia de mim, eu precisava que Christopher vivesse, prometi que nunca mais pediria nada se isso acontecesse.

Não sei por quanto tempo fiquei ali...

Quando a porta se abriu, eu abri os meus olhos e encarei o médico diante de mim.

Eu não conseguia nem falar...

— Ele teve uma reação alérgica à anestesia e três paradas cardíacas — O médico me informou — Mas conseguimos reanima-lo. Ele não está fora de perigo ainda, vai ficar em observação.

Uma tonelada foi tirada de cima dos meus ombros e eu soltei uma respiração que estava prendendo.

Agradeci a Deus e me levantei para vê-lo mas a porta já estava fechada novamente.

— Quando poderei falar com ele? — Perguntei ansiosa.

— Ele precisa se recuperar — O médico disse — Está desacordado.

— Obrigada — Eu sorri um pouco mas ainda estou agoniada com tudo isso. Queria estar com ele, mas esperaria pelo bem dele.

Caminhei cambaleando pelo corredor à procura dos meus pais. Eu precisava saber como o Bart estava.

Eu vi ele na enfermaria, ainda deitado na maca, ele parecia medicado, olhava apenas para um ponto fixo com os olhos marejados, a sua expressão era assustadora... Ele parecia estar com raiva.

— Ele está vivo — Falei assim que passei pela porta, depois caminhei na direção do meu padrasto e deitei a minha cabeça em seu peito — Ele é forte, Bart — Fechei os meus olhos e finalmente consegui respirar com um pouco mais de tranquilidade.

Senti o cheiro familiar e deslizei a minha mão sob a sua camisa engomada...

Os meus dedos passavam por cima dos botões de madrepérola enquanto sentia o toque de sua mão em minha cabeça.

Ele passou a mão pelo meu cabelo e eu esfreguei o meu rosto e nariz na camisa dele para limpar as minhas lágrimas.

Virei o meu rosto para encara-lo e isso me lembrou de algo que aconteceu no passado, mas agora tudo estava diferente.

Eu não era mais a mesma, e ele também não era. Eu sorri para o meu padrasto e senti ele tocar o meu rosto.

— Amanhã será um novo dia — Eu falei para ele.

— E não seremos mais os mesmos... — Bart disse ainda deslizando o polegar pela minha bochecha.

— Mas ainda seremos uma família — Eu completei e ergui a minha mão para entrelaçar os meus dedos com os dele.

Suspirei e depois me afastei dele, quebrando qualquer tipo de ligação.

Olhei para a minha mãe que me encarava com um olhar desconfiado.

— Cuide dele — Eu pedi — Preciso resolver uma coisa...

— Onde você vai? — Ela perguntou curiosa.

— Preciso tirar essa história a limpo.

Eu me virei, saí da enfermaria e caminhei pelo hospital até encontrar a Kira. 

Eu vi ela em uma extensa sala, perto de uma grande parede de vidro que tinha uma vista bonita para a cidade.

Ela estava de costas para mim, apreciando a paisagem.

Ao lado dela havia uma paciente de cadeira de rodas com uma enfermeira, mas antes que eu me aproximasse, elas saíram, deixando-me a sós com a loira.

Minha expressão estava séria e os meus punhos estavam fechados, pronta para dar um murro na cara dela se fosse preciso.

— Pode me dizer porque o Christopher entrou com o carro na sua frente naquele lugar? Eu não consigo imaginar um motivo que não me faça pensar que você não tenha causado tudo isso... — Perguntei irritada pela sua falta de empatia em informar a família dele sobre o ocorrido — Os policiais estão dizendo que ele estava drogado ou tentando se matar porque ele estava completamente transtornado em uma contramão. Mas eles não sabem que você é uma psicopata.

Quando eu terminei de falar eu estava completamente sem ar.

— Sabia que o Bartholomew está mal? — Eu perguntei — Pensando que talvez o filho dele pode ter tentado tirar a própria vida? A sua consciência não pesa? Me. Dê. O. Motivo.

Ela olhou para mim, frieza em seu olhar e em seus gestos.

— Eu ia me matar! — Ela disse isso como se não fosse nada e depois sorriu — Mas o Christopher me ama demais para me deixar morrer... Ele preferiu colocar a vida dele em risco por mim.

Meus lábios se entreabriram por causa do que ela disse.

— Eu tive um pequeno lapso, mas já passou — Ela voltou a encarar a paisagem. Kira riu — Que besteira a minha!

Eu fiquei olhando para ela sem acreditar no que eu estava ouvindo.

— Você é apenas um desafio para ele — Ela disse com um olhar cruel que percorreu todo o meu corpo — Depois, quando ele se cansar de você, ele vai voltar pra mim — Ela tocou o peito e voltou a esboçar um sorriso — Sempre foi assim, querida, ele sempre volta para mim. Nós estamos nesse vai e volta há anos... Eu o conheço muito bem. Christopher adora se envolver com putinhas, mas é de uma mulher como eu que ele precisa. Ele sabe disso.

— Você disse que é minha culpa, mas não é — Eu neguei com a minha cabeça — A culpa é toda sua, Kira. Era pra você estar ali no lugar dele na sala de cirurgia. Ou melhor... Era pra você estar morta — Falei, não suportando mais as insanidades dela — Por que você simplesmente não se joga agora? — Apontei para a paisagem.

Ela olhou para mim com os olhos levemente cerrados e o maxilar travado.

— Christopher poderia ter morrido por causa da sua loucura! Como você pode conviver com isso?

— A escolha foi dele — Ela disse e desviou o seu olhar do meu para encarar a paisagem outra vez.

A calma dela me irrita.

— Eu viveria bem com isso. Sabendo que ele morreu por mim.

— Você é pior do que eu imaginava — Constatei e a encarei com desprezo.

— Eu não vou desistir dele — Ela falou sem olhar para mim outra vez.

— E nem eu — Eu afirmei e a deixei sozinha.

Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora