Cereja

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Christopher Goldschmied


Ontem não havia terminado como eu planejei.

Eu queria que tivesse sido um dia perfeito, uma noite inteira de amor que nós dois merecíamos depois de passar por tantas dificuldades e por termos ficado separados por longos meses... Mas não foi isso o que aconteceu... ao invés disso eu descobri que a Angelique perdeu um filho meu e então tudo se tornou angustiante, doloroso.

Depois da nossa conversa eu fiquei em silêncio pensando sobre alguns aspectos da minha vida e Angelique ficou ao meu lado por um tempo até que ela disse que estava cansada da viagem e que iria tomar um banho, e então ela entrou para a cabine do iate.

Após alguns minutos fui atrás dela, mas eu a encontrei na cama de casal que seria nossa esta semana, dormindo enrolada em um edredom.

Pensei que não dormiríamos naquela noite... Eu estava errado.

Eu fui tomar um banho e devo ter ficado mais de meia hora ali debaixo do chuveiro... Eu não estava feliz como imaginava que estaria.

Mesmo aqui, longe de tudo e de todos, eu ainda me sentia inseguro sobre o meu futuro com a Angelique.

Ela parece machucada. Eu estou machucado.

Parecia ser mais difícil do que eu imaginava que seria.

Sem contar que eu sempre tenho a impressão de que há algo a mais que eu deveria saber e não sei.

Ela é como um livro que eu nunca conseguirei terminar de ler...

Angelique é a personificação do próprio diário. Sempre acrescentando novas páginas e algumas delas estão rasgadas, tornando impossível o entendimento completo da história.

Angelique é um mistério. E o pior é que isso é o que mais me atrai nela.

Primeiro o fato de não poder tê-lá me deixou louco, e agora não tê-la por completo me deixa louco.

Definitivamente sou louco por Angelique, de uma forma não saudável. Isso me assusta um pouco, e acho que a assusta também. Mas eu tento me controlar o máximo para não parecer um obsessivo.

Saí do banho, vesti um short de dormir de seda e deitei-me ao lado dela eu a puxei para ficar bem perto de mim e abracei.

Ouvi ela suspirar e agarrar o meu barco para que eu continuasse daquele jeito.

Ela se encolheu como se eu fosse o seu casulo e eu beijei a cabeça dela antes de começar a fazer carinho em seus cabelos.

Só de ter ficado assim juntinho dela já foi bom, fazia eu me sentir bem melhor, porque eu me lembro de ter ansiado por isso todo esse tempo que ela ficou longe.

Eu fiquei fazendo carinho nela até que peguei no sono sentindo o cheiro do cabelo dela.

E apesar de tudo eu dormi bem como não havia dormido há muito tempo.

Agora eu estava acordado fazendo o café da manhã para levar pra ela na cama enquanto me lembrava de todas essas coisas e refletia sobre nós.

Angelique ainda estava dormindo e eu estava tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acorda-la.

Eu pretendia fazer de hoje tudo o que ontem não foi.

Fiz panquecas e o chá favorito dela. Arrumei tudo em uma bandeja junto com as frutas e o suco.

Quando eu me virei eu me deparei com ela me observando encostada na parede. Ela estava usando a minha camisa e estava sorrindo com os braços cruzados em frente ao seu corpo.

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