A Última

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Angelique Beaumont

Fettuccine. Eu amava qualquer tipo de massa, e quanto mais carboidratos a comida tinha, mais eu era completamente desequilibrada e faminta, eu comia tudo sem nem ao menos mastigar, colocava na boca, fechava e engolia...

Mas esse prato em especial eu estava demorando uma eternidade para acabar de comer.

Isso porque o Christopher que tinha preparado e estava delicioso demais para dar um fim nele em menos de um minuto.

Podia sentir o amor e ver que ele cozinhou com carinho, especialmente para mim.

Queria poder comer isso para o resto da minha vida.

— Fettuccine Alfredo — Ele disse depois de experimentar o seu prato com um sotaque italiano.

Estávamos sentados no balcão da cozinha, um de frente para o outro.

— Delicioso! — Ele juntou os dedos como os italianos fazem para conversar.

Eu soltei um risinho enquanto mastigava.

Hoje eu tive um vislumbre daquele Christopher que eu conheci, aquele que é outono. Eu consigo sentir o calor dele, ainda que pouco, no fundo; isso me deixou muito feliz, eu não gostava da sensação de ser aquela tempestade que pairava sobre a sua cabeça.

Hoje, ele está como um céu limpo e alaranjado de fim de tarde, e no horizonte, se pondo, ele é o sol. Meu sol. Quente e dourado. Como ouro.

— Está bom? — Christopher me perguntou e me encarou, analisando-me com atenção.

— É o melhor fettuccine que comi em minha vida — Elogiei, limpei a minha boca com um guardanapo de pano e sorri. Eu estava tentando ficar animada, e Christopher conseguiu arrancar sorrisos de mim, mas eu ainda pensava no que tinha acontecido, era inevitável.

O que eu passei sendo humilhada no colégio não foi muito diferente na França. Os meus colegas em Paris pegavam no meu pé, principalmente quando eu tinha ganhado peso, eles me ridicularizavam.

Mas, isso que aconteceu hoje... Esses cartazes que a Becky distribuiu... isso me deixou muito abalada. E se o Christopher e a Emily não tivessem me apoiado como fizeram, eu não sei o que faria. Às vezes a tristeza é tanta que isso ultrapassa o limite e se transforma em um vazio. E não existe coisa pior do que o vazio no coração.

De uma coisa eu tenho certeza... Eu não quero voltar para esse colégio nunca mais.

E se a proposta do colégio interno já parecia muito tentadora para mim nos últimos dias, agora eu a via como a minha salvação.

É perigoso demais para mim ficar aqui perto do Christopher. Não estamos preparados, continuamos no meio de um campo minado.

— No que você está pensando? — Ele perguntou com curiosidade. Eu olhei para ele e vi os seus olhos castanhos tentando perfurar a minha alma — Não pense muito.

— Estou apenas pensando em como você cozinha bem — Menti e forcei um sorriso que não o convenceu.

— Não acha que já me castigou muito?

Eu o encarei sem entender.

— Uma semana sem nem ao menos olhar para mim. Eu aprendi a lição — Ele disse e comeu uma garfada de macarrão.

— Nunca foi a minha intenção castigar você, Christopher — Eu meneei a minha cabeça — É o melhor para nós dois ficarmos separados.

Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora