Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)

Final - A proposta

Christopher Goldschmied

Cheguei de viagem e até pensei em antes me hospedar em um hotel para depois ir encontrar Angelique, mas mudei de ideia rapidamente. Eu não posso esperar... Eu já esperei demais e não quero mais adiar isso... Adiar a nossa felicidade. Estou cansado, estou farto de fugas e desavenças.

Tenho que admitir que no caminho eu pensei em desistir desse amor.

Pensei que não é para ser, então porque eu insisto tanto?

Porque só eu insisto nisso?

Angelique parece ter facilidade em ficar longe.

Talvez seja melhor que ela fique longe. Sinto que de alguma forma a nossa relação é tóxica.

Mas já estou aqui e eu preciso vê-la. Nem que seja pela última vez... Para termos uma última conversa... Um último beijo...

Eu preciso disso para pôr um ponto final. Um fim nessa história incestuosa e degradante. O que eu vim fazer aqui mesmo?

Respirei fundo e deslizei uma das minhas mãos em meu rosto. Os meus pensamentos estão à mil e percebi que na verdade eu estou nervoso.

Ansioso.

Receoso.

E se ela não quer me ver? É óbvio que ela não quer... Ela nem ao menos quer falar comigo... Aposto que sente nojo de mim, nojo de nós. É por isso que ela me negou tanto no dia em que ela foi embora. Ela mal tocou os lábios nos meus. Eu conheço ela. Conheço Angelique e as suas malditas crenças. Provavelmente ela acha que nosso amor é abominável.

Foda-se. Isso não pode ser abominável... Não estamos fazendo mal à ninguém. Então por que? Por que julgar tanto um sentimento tão bom?

Lembro-me de ter julgado Angelique e a mãe dela pelo estilo de vida tão peculiar... Hoje eu entendo. Antes era algo que me incomodava porque era diferente, completamente oposto ao que sempre experienciei e em como fui criado. Então por que ela não pode se acostumar com o fato de que somos parentes e nos amamos? Isso não vai mudar... Mesmo se nos forçarmos à acabar com isso Angelique sempre vai ter o meu coração. Nada e ninguém pode apagar o que vivemos.

Não precisamos viver de acordo com as regras da sociedade.

E ninguém precisa saber sobre nós. Seria o nosso segredo.

— Senhor? Precisa de um barco? — Um homem de meia idade, moreno com um sorriso fino e pequenas rugas nos cantos do olhos escuros me perguntou. Eu confirmei — Vamos. Eu te levo para o seu destino — Ele desceu do barco e pegou a minha bagagem — Está em Veneza à trabalho ou a passeio? — Ele virou-se para mim e me analisou — Americano? — Ele quis saber.

— Espero que à passeio. E não, sou inglês.

Subi em cima do barco e sentei-me enquanto o homem remava em direção à um dos canais mais movimentados da cidade. Veneza com certeza é um local muito charmoso... Eu posso ver casais em lua de mel, felizes, aparentemente sem problemas. Eu queria que eu e Angelique pudéssemos ser assim.

Lembro-me que mesmo de férias em Mônaco e longe de tudo, tínhamos problemas, segredos e algumas decepções. Estávamos livres das pessoas mas não estávamos livres dos nossos atos.