Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)

Choque térmico

Christopher Goldschmied

— Câncer? — Eu perguntei assim que me virei para encara-lo.

Essa palavra saiu estranha demais da minha boca, como se fosse venenosa.

— No pâncreas — Ele me informou e olhou fixamente para a bancada da pia — Já está em um estado avançado, não tem muito o que fazer...

— Deve haver alguma forma! — Eu exclamei. Estou começando a ficar desesperado.

Não quero perder o meu pai, eu já não tenho a minha mãe, se ele morrer eu vou ficar sozinho.

E eu amo ele. Apesar de tudo, de todos os seus defeitos, de nossas discussões, eu amo o meu pai.

— Vamos procurar o melhor especialista, vamos fazer o melhor tratamento... — Falei — Não é para isso que dinheiro serve?

Ele suspirou e negou com a cabeça.

— Eu não vou me submeter à isso. Não vou ser um doente em uma cama de hospital.

— Você prefere morrer? — Aproximei-me dele e o encarei de perto — Você é egoísta à esse ponto? — A raiva que senti falou por mim — Vai se casar amanhã sabendo que vai deixar uma viúva sofrendo... Vai me deixar sozinho.

— Madeleine vai ficar em segurança agora que será uma Goldschmied, assim como Angelique, essa menina pode ter um futuro brilhante. Por que isso seria egoísmo meu? Deixarei o meu nome e metade do que é meu para ela! — Ele disse olhando para mim e eu me pergunto como ele pode ser tão duro mesmo nessas situações — E você sabe se virar sozinho. Eu sei que criei você bem para isso.

— Você está desistindo — Eu constatei.

— Já desisti há muito tempo, Christopher — Ele disse com frieza — Era para eu já estar morto. Os médicos falam que é um milagre eu ainda estar vivo...

— Há quanto tempo você sabe disso?

— Não sei... Há meses... Eles me deram apenas algumas semanas de vida, umas duas ou três, e eu ainda estou aqui — Meu pai olhou para mim sério — Eu fui para Paris resolver algumas coisas para deixar tudo pronto para você, mas então eu encontrei Angelique, desde então a doença estabilizou. Ela me mantém vivo aqui.

— Que absurdo — Eu disse rindo — Acredita em Deus agora? Angelique é o seu milagre? Ou melhor, ela é a minha mãe ajudando você?

— Não fale besteiras... — Ele se afastou de mim e pegou papéis para secar as mãos.

— Você está falando besteiras! — Devolvi — Por que você não está se casando com Angelique ao invés de Madeleine? Prefere brincar com elas?

— Não vou discutir mais isso com você.

— É claro que não... — Eu apertei os meus olhos para ele — Você não quer ser descoberto...

— Pense o que quiser, Christopher — Ele disse e passou por mim para sair do banheiro — Aproveite o tempo que ainda me resta para achar que sou um monstro.

Eu fui até ele e o segurei, impedindo-o de sair do banheiro.

— Por que não me contou antes?

— Como contar ao filho que vai morrer? — Ele perguntou e eu vi um traço de emoção em seus olhos.

Eu o puxei para mim e o abracei forte como se essa fosse a última vez.

Quando voltamos para a mesa tudo estava diferente.

Eu sentia uma dor insuportável em meu peito.

Sabia que não suportaria ficar sem o meu pai, eu não esperava perdê-lo tão cedo assim.