Angelique Beaumont
Os dias se arrastaram como se fossem décadas, eu e Christopher ainda estávamos distantes, mas eu sabia que isso não era mais como antes, não estamos nos evitando por estarmos com raiva, não era isso, estávamos assim porque nós queríamos evitar que as coisas piorassem.
Eu encontrei com ele poucas vezes mesmo que eu more debaixo do mesmo teto que ele. Eu não pegava mais carona com ele para ir pro colégio, o Bart tinha vetado isso, eu continuei sendo levada pelo motorista.
Ficávamos o dia todo fora, ele na faculdade e eu no colégio. Ele chegava em casa depois que eu e cada um ficava em seu quarto, apenas nos víamos na hora do jantar.
Essa parte do dia era tão constrangedora que ficou insuportável.
Nossos pais tentavam fingir que nada tivesse acontecido, mas todos nós pensávamos muito alto sobre aquele dia no meu quarto. Estava estampado na nossa cara e nossa relação não era mais a mesma.
Eu sempre fui muito amiga da minha mãe, mas agora parecíamos duas desconhecidas.
Christopher ficava calado, e quando ele abria a boca era pra ser sarcástico.
Ele não falava comigo mas as vezes ele me olhava por muito tempo, me deixava muito desconfortável porque eu sentia o olhar de repreensão do Bartholomew para nós.
Eu nem ousava olhar de volta por mais que um segundo.
Passei a não descer mais, isso evitaria que eu comesse algo além do constrangimento, então eu juntei o útil ao agradável.
— Você precisa se alimentar — Ouvi a voz do Christopher na porta do meu quarto.
Fechei a minha apostila e olhei para ele.
Ele estava escorado no batente da porta com uma bandeja em suas mãos.
Depois ele entrou no meu quarto e eu fiquei um pouco receosa.
O meu julgamento já era amanhã e eu estava indo muito bem até agora. Eu tinha evitado falar com o Christopher, o que doeu em mim, mas era pensando no melhor para nós, e eu não queria que no último dia tudo fosse por água abaixo.
— Não pode estar aqui — Eu falei e sacudi a minha apostila como se pudesse varrê-lo para fora — Por favor, vai pro seu quarto, eu não estou com fome!
Ele me ignorou, pousou a bandeja na minha cama e eu vi o que tinha nela. Apenas salada, legumes e uma maçã. Suspirei. Ele sabia que não comeria algo que não fosse isso.
— Precisa comer, Angel — Isso soou como uma bronca — Está ficando muito fraca. Olha pra você! — Ele disse e eu olhei para baixo. Estava me sentindo muito triste e doente nesses últimos dias. Qualquer pequeno esforço era motivo de cansaço ou de tontura — Seu rosto está pálido e seus olhos não estão mais os mesmos, estão sem vida — Ele me analisou.
— Estou feia? — Essa pergunta o pegou de surpresa.
— O que? Não! — Ele pareceu confuso — Não foi isso que eu quis dizer...
— Estou tonta — Falei e encostei a minha cabeça na cabeceira da cama.
— Precisa de alguns nutrientes — Ele disse e arrastou a bandeja para mais perto de mim.
— Não quero.
Ele ficou me encarando sem dizer nada. Ele não sabe o que dizer...
Olhei para o outro lado, ignorando a presença dele e da comida.
— Se não comer vai acabar morrendo — Ele disse sério.
Eu voltei a encara-lo e peguei a maçã que ele tinha trago para mim. Dei uma mordida enquanto o encarava com frieza. Só fiz isso porque não queria parecer ser suicida ou algo minimamente parecido com o que Kira faz.
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Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)
RomanceChristopher Goldschmied é filho de um bilionário inglês, herdeiro de uma indústria de mineração de ouro e pedras preciosas. Como um típico jovem rico de berço, ele acha que é dono do mundo inteiro, mas quando o seu pai se casa com a mãe de Angelique...