Sermão

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Angelique Beaumont

  
Estava escrevendo em meu diário quando ouvi um burburinho lá fora.

— O que será que está acontecendo? — Perguntei para a Savannah com as minhas sobrancelhas unidas em confusão. Normalmente o colégio era bem silencioso, mas hoje era sábado e não era dia de sair do internato, então talvez as garotas são barulhentas e divertidas nesses dias livres.

O que me deixava surpresa, porque elas eram muito quietas o tempo todo.

Eu me levantei da cama e abri a porta para ver o corredor.

Havia meninas nas janelas, olhando lá para o pátio, animadas e acenando. Todas estavam vestidas com a mesma camisola que eu, uma longa, branca e com um corte reto, com golas e mangas com babados. Quando acenavam, os babadinhos balançavam. Elas sorriam muito animadas, então eu fiquei curiosa para sair do quarto e ir até uma das janelas...

— Deve ser o padre Lincoln — Savannah surgiu ao meu lado.

— Sim. É ele — Eu afirmei ao ver um homem claramente com vestes de padre acenando para nós sorridente.

O padre foi recebido pela irmã Lazara e outras freiras, todas muito animadas em vê-lo, assim como as minhas colegas.

— Ele deve ser legal — Eu presumi ao ver a sua popularidade. Parecia um cantor pop chegando em um aeroporto.

— Hoje teremos uma missa — Savannah me informou — Ele vem de vez em quando para nos dar os seus sermões.

— Tem muito tempo que não vou à uma missa — Eu disse pensativa, tentando me lembrar da última vez...

Acho que foi quando a minha vozinha morreu.

Já tem anos.

As garotas começaram a descer as escadas, vestindo as suas camisolas e eu fiquei confusa, não é para trocarmos de roupa?

Mas lembrei-me de que os uniformes estavam lavando, então desci junto com elas, acompanhada de Savannah. Tinha acabado de amanhecer, o céu estava brilhante, mas não estava quente, o tempo estava muito agradável.

Minhas colegas correram pelo pátio, eu fiquei para acompanhar o ritmo da Savannah, e quando chegamos na capela todas já estavam sentadas e organizadas.

A capela era maior do que eu pensava, muito bonita, mas escura, as luzes eram fracas, o que mais iluminava o ambiente eram as velas em toda parte.

Não sei se é por causa da vinda do padre, mas tinha arranjos de flores brancas enfeitando o lugar, enlaçados com fitas de cetim.

Os bancos eram de madeira e pareciam antigos mas muito resistentes.

Eu e Savannah nos sentamos no último banco em silêncio.

O outro lado da igreja estava ocupado apenas por freiras. Eu avistei irmã Nina. Ela acenou para mim e eu acenou de volta com um sorriso.

O padre surgiu no altar vestido com uma túnica branca com detalhes em vermelho por cima da sua roupa preta.

O altar era desprovido de Santos mas tinha um crucifixo gigante que, para ser bem sincera, me causava arrepios.

Essa capela parece ter sido feita especialmente para nos causar medo, para impor respeito.

Imagino que todas as pessoas iriam seguir os dez mandamentos sem questionar se frequentassem esse lugar, ou por medo dos castigos que Deus poderia nos dar, ou pelo maior deles... o medo de ir para o inferno. Essa igreja era o oposto do que poderia ser o paraíso. Era estranha apesar das flores brancas tentando amenizar a feiúra do lugar.

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