🔫🚨Casos Criminais🔫🚨: Noite Fria

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Escrito por: João Renato
JoaoRenatoMendes
Para : Naomi
CherryLipstickGirl

A noite estava fria. Ventos gelados percorriam as ruas da grande Guavaro, uma cidade metropolitana. Como toda cidade, esta tinha seus arranha-céus pomposos, cheios de vidros azuis e estacionamentos para seus ocupantes. Mas também havia traços de pequenas cidades, como as pequenas casas, ocupadas por uma família de 3 pessoas.
No terreno retangular, composto por uma construção de tijolos pintados de amarelo, um telhado laranja e um pequeno jardim de flores silvestres, embora no momento fossem apenas botões tímidos, morava a família Gardevour.
Antoni Gardevour ganhava o suficiente para manter sua casa e seu filho, René, mas não lhe sobrava muito para passeios, o que conferia uma infância pouco diversificada para o rapazinho de 6 anos. Os pontos altos de seus dias era nos jantares especiais, quando comiam saborosos pratos.
Nesta noite, Antoni havia preparado uma deliciosa lasanha de 4 queijos, que comprara no supermercado pela manhã. O queijo quente descia divinamente pela boca de René. Seus dentes amarelados fatiavam a massa apenas o mínimo suficiente para poder engolir, pois seus pedaços favoritos eram os maiores.
A mesa tinha um tom amarelo, com algumas manchas escuras espalhadas pela sua extensão quadrada. Quatro cadeiras marrons, de assento almofadado, ainda que com ranhuras que expunham a espuma de seu interior, eram aconchegantes.
René sorria. Embora não tivesse muitas razões para tal, uma das poucas, seus cabelos lisos e escuros, assim como seus olhos.
Era um garoto jovial, mas algumas coisas se mostravam deslocadas. As unhas grandes enroscavam nas cobertas com as quais se cobria. Os cabelos volumosos acumulavam caspas e o mau odor começava a incomodar as pessoas que passavam perto dele.
Antoni era fisicamente semelhante ao filho, mas tanto os cabelos, quanto o mau odor, eram maiores. A barba desgrenhada ocupava trechos irregulares de seu rosto, assim como suas unhas grandes e amareladas, pontudas e irregulares.
Nesta noite, os Gardevour não estavam em casa após a janta. Antoni levara seu filho para a Ponte Mohammed Nassar, local de onde era possível se ver os maiores hotéis e prédios financeiros, todos luminosos e observados por toda a província.
A estrutura da ponte era uma mistura de concreto e metal, a qual lhe dava sustentação para se erguer por mais de 30 metros de comprimento. Abaixo da ponte passava o rio Calum, com suas águas gélidas pouco povoadas por animais, em virtude de seu caráter tóxico gerado por tantos despejos ilegais realizados ao longo dos anos.
Apesar do vento, Antoni e seu filho usavam apenas uma camisa de manga longa, feita de algodão, e uma calça de moletom avermelhada. Ambos tremiam, enquanto seguravam a proteção metálica de 1 metro que impedia animais de caírem no rio acidentalmente.
Antoni rangeu os dentes por alguns segundos, e, sob a ínfima claridade da noite, levantou o filho e o apoiou em seus ombros. A movimentação nas duas vias laterais à ponte era constante e veloz, mas na ponte estavam apenas os dois.
Tendo ignorado qualquer comentário de seu filho sobre estar frio, Antoni apontou para os lados com a mão direita e disse:
- Está vendo a claridade, guri? As luzes são o sucesso. O sucesso está naqueles brilhos, aquilo são carros. Coisa de gente rica.
Apontou para a diagonal ascendente frontal, em direção aos prédios da área nobre da cidade.
- Aquilo são uma porção de sucessos juntos. Sabe, guri, o sucesso gosta do sucesso, e quem não segue as regras fica como nós, sem luz.
Acariciou o rosto de René, beijou-lhe a testa e colocou a mão no bolso, retirando uma fotografia, um tanto gasta. Ela mostrava uma mulher, morena e de cabelos longos, ao lado de um balde de champagne num banco estofado cor de creme, pertencente a um carro. Soltou-a e a observou deslizar no ar, até tocar a água e se tornar mais e mais transparente.

- As luzes são atraentes, muito mais do que um imã. Sabe, guri...
Uma diminuição no tom de voz se somou a um pigarro. Antoni engoliu em seco, e inspirou fundo. Fechou os olhos, vislumbrando aquilo que ocupou tantos anos de sua vida. Junto com uma corredeira de lágrimas, deixou o ar lhe escapar dos pulmões. O vapor quente não podia ser visto, mas ele o sentiu em seu nariz.

- René, as pessoas vão para a luz. Mas se uma luz é expulsa pelas outras, as pessoas a deixam. As... Pessoas são falsas.
Antoni seguiu movendo os lábios, mas nenhum som saiu deles.
"Na verdade... Do lugar onde estamos... Tudo é falso. Eu... Não quero mais..."
Fitou o horizonte por mais alguns minutos. A quantidade de veículos em movimento diminuiu e o frio apertou. Antoni tremeu mais violentamente do que antes, passou o dedo pelos lábios secos e rachado e, com um rápido movimento, evitou encarar os olhos de René e o movimento para sua frente, dando a ele o mesmo destino da fotografia.
O garoto não teve tempo de reação, apenas caiu na água, se debateu e afundou. Antoni inclinou o corpo para frente e seguiu seu curso, despencando de cabeça para baixo. Bater a cabeça no fundo de entulho do rio fraturou seu crânio, dando a ele um fim mais rápido que o de René.
Dois dias depois, no Journal La Torre, foi dado um pequeno quadrado de texto, que dizia:
"Um ex-funcionário da Guavaro Foundation foi encontrado morto no rio Calum, na altura da Ponte Mohammed Nassar, ontem pela madrugada. Ter encontrado o corpo de um suposto filho da vítima próximo ao dela reforça a teoria de que o homem cometeu suicídio, segundo o Delegado Louis Cornélios. O laudo médico oficial ainda não foi divulgado."

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O Grupo DLB e a Adm Katlin
KatlinCarolineAS
Agradecem a participação do membro João Renato na atividade recreativa.
Todos os credito da história ao escritor.

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