Escrito por: João RenatoJoaoRenatoMendes
Para: Meg _Meg_TurnerA luz incandescente acesa fazia a cabeça cheia de cabelos de sua mãe criar uma sombra por sobre seus olhos.
Olhava-a de baixo para cima, sentado no sofá creme, enquanto ela estava de pé, entre ele e a televisão. Era noite, e o tom de voz dela era elevado:
— Como você tem um resultado desses? 5 e 6 no boletim? Isso é inadmissível!
O garoto engoliu em seco.
— Des... Desculpa, mamãe.
— Não tem desculpa. Quero resultados! Agora vá para o seu quarto, Márcio.
Se levantou e arrastou as sandálias brancas em direção ao seu quarto, o cômodo mais distante da porta da casa. No caminho, ouviu sua mãe dizer:
— Aquele peso morto...
Durante a madrugada, enquanto sua mãe dormia, Márcio conversava, em voz baixa e por telefone, com sua amiga Laura. Ele estava deitado de lado, com a cabeça no travesseiro e virado para a janela aberta que exibia a escuridão da rua, cujo poste estava com defeito.
Laura estava sentada, olhando para a TV sintonizada em um canal de vendas e passando as unhas brancas por suas coxas.
— O que foi, querido? Tá meio quieto. Sono?
— Não... É a minha mãe.
Laura revirou os olhos.
— O que aquela vadia fez dessa vez?
— Só o de sempre, me chamou de inútil. Eu queria pelo menos parabéns pelo 10 em artes... Faria eu me sentir bem...
Laura sorriu e acariciou a pele escura de seu rosto.
— Ai, migo, você tem 15 anos. Esquece ela, o que eu quero te dar vai fazer você se sentir bem.
— Você sabe que eu não quero isso.
— Ah, fala sério, vai mesmo virar uma bichinha que só quer enfiar coisas na bunda?
Márcio esboçou um sorriso, que logo se desfez.
— Descobri que não são os homens. Eu gosto da dor.
Laura franziu o cenho.
— Como você sabe?
— Eu me arranhei um pouco, e gostei da sensação.
— Sangrou muito?
— O quê? Não foi tão forte.
Laura olhou para a própria janela, de onde podia observar a lua, e pensou:
“Finalmente, é a minha chance de ver ao vivo!”
— Pensa bem, se você gosta de dor, quanto mais dor, mais você vai gostar.
— Talvez. Mas não estou com cabeça pra isso. Estou triste, queria que você me consolasse.
Laura rangeu os dentes e alterou sua voz para algo mais firme. Há tempos ela esperava por isso. Desde seus longínquos 15 anos, ela queria mexer com a cabeça de alguém nesse nível. Era o momento mais atraente em muitos anos.
— Cai na real. Você quer consolo? O único consolo que posso te dar é aquele que vibra. Você é patético. Eu tento te fazer ser alguém mais decente, mas não, parece que você só piora.
— Do que está falando? Somos bests há muito tempo, e agora está falando isso?
— Olha, eu me aproximei de você porque te achei bonito. Mas você é um cabeça de vento. Deixa aquela vagabunda mandar em você e fica nessa vida de merda. Você tem pena de si mesmo, de tudo o que você não é, e eu também tenho. Não acho que vá mudar, nunca.
Márcio sufocou um grito, embora as lágrimas fossem mais difíceis de controlar.
— O que... O que você está dizendo, Laura? Por que está fazendo isso comigo?
— Gosto de você e não quero te ver nessa lama, nessa porcaria toda. Já que você gosta de dor, junta o útil ao agradável. Corta seu braço, você vai sentir prazer e de quebra sai dessa vida bosta que você tem.
Márcio franziu o cenho e soluçou:
— Você... Acha que eu devia me matar?
Laura revirou os olhos e disse, em tom de obviedade:
— Você não tem a menor perspectiva. Já tá morto por dentro, se mata por fora que resolve o problema. Não parece óbvio?
— Eu... Nem sei dar nó...
Laura riu.
— Nó? Não tente se enforcar, é muito óbvio, demorado e fácil de falhar e você vai ser mais fodido do que já é. Corta o braço na vertical, não tem erro. Eu vou aí amanhã, espera eu chegar. Quero te ver.
— Você é uma tremenda pervertida, viu?
— E você vai ser um presunto bem bonitinho.
Se mantiveram na linha por mais alguns minutos sem dizer nada, então Márcio adormeceu e o telefone celular caiu no chão ao lado da cama.
Em pouco tempo, adentrou o mundo dos sonhos. Se viu sentado em sua cama, com a melhor faca que sua mãe possuía. Media 20 centímetros e algumas manchas escuras em seu metal, além de um cabo de madeira. Afundou a ponta a dois dedos de distância do pulso e arrastou o cabo, involuntariamente, até o cotovelo.
A dor que irradiou não era boa. Pior ainda era a visão de seu osso esbranquiçado e o sangue vermelho que espirrava em seu rosto. A dor não cessou, e seu corpo se paralisou. Márcio não podia se controlar e ficou atrelado aquela sensação por horas, não que ao acordar fosse se lembrar.
Se ergueu de sobressalto, com o sol da manhã penetrando em seu quarto. Sua mãe estava vestida de camisola amarelada, com os cabelos presos para trás e sentada na coberta marrom salpicada de branco. Ambos se assustaram, um com o outro. Karina suspirou, colocou a mão direita no peito e disse:
— Caramba, me assustou. Fica tranquilo, deve ter sido um sonho ruim.
Márcio continuou suando e tremendo, sem que sua mãe percebesse, e se limitou a assentir.
— Bom, eu preciso te pedir desculpas. Liguei pro seu pai, para falar de você e ele disse que estava sendo muito rígida, que devia olhar melhor a situação. Isso me tocou e eu fui ver nas suas coisas, como estavam seus cadernos, seus trabalhos, tudo naquele cantinho da sala. Suas notas são baixas porque você não faz os trabalhos. É inteligente, mas precisa se esforçar mais. Só que eu também preciso ser um pouco mais flexível. Tem algo que você queira muito? Posso fazer, para compensar.
Márcio chorou copiosamente, abraçou a mãe e, entre soluços, conseguiu dizer:
— Só continue assim! E, eu preciso de novos amigos!
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O Grupo DLB e a Adm Katlin
KatlinCarolineAS
Agradecem a participação de João Renato na atividade recreativa.
Todos os credito da história à escritora.Obrigado pela sua leitura.
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Era Uma Vez
Historia CortaLivro composto de histórias, contos e One short do grupo DLB (Devoramos Deliciosos Livros No Breakfast). Atividade recreativa com sorteio de amigo secreto , temas diversos e personagens surpresas. Venha se divertir e se emocionar com os talentos...