💘💝Dia dos Namorados💘💝: Guardião do Castelo

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Escrito por: João Renato
Para: Davi

O assobio do vento frio nas janelas do primeiro andar do castelo me despertou. Era o gatilho que explicitava o início da minha atividade.

Me levantei do embrulho de teias de aranha e poeira no qual eu estava e esfreguei os olhos. O subsolo mantinha a escuridão da última vez em que eu me levantara para trabalhar.

Precisei andar devagar por alguns minutos até meus pés atrofiados se reacostumarem a andar na terra macia do porão. Evitei os restos orgânicos que se acumulavam há anos no meu local de repouso e subi as escadas de madeira, que rangiam a cada passo.

O castelo estava silencioso, diferente do que provavelmente ficava com a presença de humanos, mas isso não queria dizer que estava vazio. Depois de séculos fazendo a faxina, me habituei àquela rotina.
Tirei os farrapos sujos que vestia e me dirigi a cozinha, um cômodo enorme com apenas um fogão a lenha e uma caixa metálica com gelo dentro. As paredes claras me davam uma paz interior tranquilizadora, o que facilitou tudo.

O trisco tentou me pegar pelas costas, mas seu truque estava batido. Me virei e segurei suas patas em forma de concha. Ele cuspiu seu ácido, tão escuro quanto o corpo, contra meu rosto, então o soltei e recuei alguns passos. A gosma preta caiu no chão como um mingau estranho, sem nenhum efeito colateral. O castelo sempre estava a salvo.

Trisco não tinha olhos, apenas antenas e um bico semelhante a uma tesoura. Eu estava cansado daquela mesmice. Cansado daquelas criaturas.

Avancei e segurei ambos os lados do bico do bicho e os puxei, partindo a sua mandíbula em duas partes. Uma fumaça esbranquiçada saiu dele e imergiu abaixo do assoalho. Mais um que voltou para seu lugar de origem.

Respirei fundo e alisei o cabelo liso e branco, que me caía até os ombros e subi quatro andares. Em cada andar precisei me livrar de uma criatura diferente, até chegar ao penúltimo dos andares.
Caminhei rente à parede, de costa para as pinturas medievais, enquanto procurava o próximo. Um lustre dourado parou de emitir luz por poucos segundos, e durante esse tempo, dois tentáculos negros envolveram meus braços.

Ajip, aquele que sempre me detinha, não poderia o fazer agora. Apoiei os pés na parede de tijolos vermelhos e alavanquei os tentáculos que me seguravam. Precisei usar toda a minha força, mas consegui arrancar Ajip da pintura de alguma catedral e o jogar no meio da sala.

Tendo derrubado um banco com sua queda, Ajip se encolheu, formando um ovo escuro com dezenas de fendas azuladas que me olhavam, cientes do que viria para elas em seguida. Bati palmas e o lustre voltou a emitir sua luz dourada com força total.
Ajip agonizou, grunhiu e derreteu, formando uma poça de algo parecido com piche, que escorreu andar por andar, até penetrar no subsolo.

Eu sorri, de dever cumprido, e segui para o terraço, pensava em qual seria o demônio que eu enxotaria de volta para o inferno. Subi escadas de madeira mais consistentes e, na medida em que eu subia, tudo parecia mais restaurado, mais inteiro.

Agora em um piso feito de pedras retangulares, pude observar o céu azul, o sol brilhante e sentir o vento gelado no meu peito. Meus poucos pelos se arrepiaram, mas não pelo frio. Senti algo me pressionar e olhei ao redor para entender o que era.

Próximo ao parapeito de pedras de um metro, estava uma mulher de estatura média. Cabelos brancos, arroxeados e esvoaçantes destoavam de seu vestido branco. O vestido cobria até os tornozelos e possuía desenhos de flores desbotados ao longo de sua extensão.

Pude ver sua pele avermelhada no pescoço de relance e me aproximei, já de punho erguido. A figura disse, numa voz suave e doce:
- Demorou tanto para chegar aqui...
Ela se virou e eu travei instantaneamente. Os olhos verdes, os lábios rosados, o nariz delicado, era a coisa mais bela que eu já havia visto. Mas o olhar era frio, tão frio quanto a minha pele.
- Acha que pode se salvar usando esta forma? Está enganado, monstro! Há muito tempo deixei de ser homem!
A rispidez em sua voz era aterrorizante.
- Me salvar? Não tenho nada para me defender. Tudo depende de você. Eu estou no meio do caminho, e não posso sair daqui sozinha.

Sua aparência me assustava, por ser mais parecida com um humano do que eu, mas, a essa altura do campeonato, só queria acabar com aquilo e ficar um passo mais perto da liberdade da minha penitência.

Avancei e apertei minhas mãos em torno do pescoço da criatura. Ela abriu um leve sorriso e sua pele quente transportou seu calor para meu corpo. Ela me inundou com uma sensação de vida que há muito não experimentava. Meus pensamentos estacionaram e minhas ações não mais eram racionais.

Deslizei as mãos de seu pescoço para o busto e, posteriormente, sua cintura. Continuei me aproximando e beijei o demônio que eu deveria matar. Ela arranhou a lateral do meu pescoço, repousou as mãos no meu peito e disse:

- Venha. Eles nunca vão te perdoar, então tenha algo mais prazeroso do que a eternidade lutando.

Sua mão esquerda agarrou meu pulso e subimos na estrutura de pedras, de frente para uma floresta. Ela se deixou cair e me levou junto. Ainda com os pensamentos letárgicos, vi a relva se abrir, revelando um poço escuro, pelo qual descemos, chegando a um lugar quente.
Sem enxergar através da fumaça, abracei aquela mulher, que cravou unhas estranhamento compridas em minhas costas e disse, com uma voz doce:

- Relaxe. Vai fazer tudo o que puder ser prazeroso para mim. Se sua estadia na Terra era enfadonha, irá gozar à vontade aqui no Inferno.

Eu não sabia se iria ser bom ir para lá, mas de uma coisa tive certeza naquele momento, onde quer que eu entrasse, jamais iria sair.
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O Grupo DLB e a Adm Katlin
KatlinCarolineAS
Agradecem a participação de João Renato na atividade recreativa.
Todos os credito da história ao escritor.

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