Capítulo 44

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Uma semana passou e eu fechava o zíper da minha última mala. Aproximei-me da janela e olhei para aquela comunidade. As pessoas andavam de um lado para outro com madeiras, a reconstrução de parte daquele lugar começou e um templo estava começando a ser edificado ali.

Nos últimos dois dias, demos assistência aos novos convertidos e eles fizeram com algumas outras famílias a nossa despedida. Houve muita alegria e lágrimas também. Porém, agora tenho a plena confiança, que Aquele que começou a boa obra na vida das pessoas da comunidade era poderoso para terminá-la. O Senhor me ensinou que Ele é infinitamente capaz de sustentar a sua obra.

Em cinco meses vivi coisas que nunca pensei. Mas, eu sairia dessa missão como uma nova Lia. Perdi tantas coisas, porém o Senhor deu cem vezes mais nEle. Analisando minha vida, percebi que cheguei na comunidade solteira e voltaria amando o homem mais lindo, maravilhoso, perfeito, cavalheiro... (Está bem, irei parar aqui). Vim sem filhos e voltaria com Davi, não conhecia sobre a maternidade, mas iria descobrir. Ouvi o som da porta se abrir, olhei para trás e era Nicolas. Cada nova visão era uma alegria novamente por poder enxergar outra vez.

— Me lembro do nosso primeiro dia aqui. — Ele riu, entrando no quarto e observando ao redor. — E de haver falado que não fazia ideia do que iria nos acontecer.

— Realmente — soltei uma gargalhada —, não fazíamos ideia.

Ele se aproximou e me abraçou fortemente. Nicolas estava emocionado.

— Aconteceu alguma coisa? — Me afastei dele. — Parece que está se despedindo.

— Não aconteceu nada. — Ele passou a mão sobre o rosto. — Mas, de certa forma, isso é uma despedida.

— Por que é uma despedida? — Me entristeci com suas palavras.

— Lia, o tempo compartilhado entre nós foi muito precioso. Porém, Deus traçou novos rumos para nossas vidas. Não somos mais aqueles jovens de cinco anos atrás sem nenhum “compromisso” — falou nostálgico. — Deus nos deu famílias. Você ganhou um futuro noivo e um filho — Ele riu. — Eu ganhei uma noiva. Nada mais será igual. 

As palavras deles vieram como um soco em meu coração. Eu amava as pessoas que Deus havia colocado em minha vida, principalmente Artur, contudo não tinha atentado ao fato de nada mais ser como antes.

— Deus usou da nossa juventude para servi-lo em viagens. Agora ele nos dá um novo ministério e campo de missão, isso é nossa família. Eles são nossa missão agora.

— Suas palavras responderam algumas de minhas indagações, além de me fazer ver a nova realidade posta diante de mim. — Uma lágrima desceu em meu rosto.

— Vamos voltar com essa nova missão. — Nicolas olhou ao derredor e continuou: — Aqui neste lugar se encerrou um ciclo e começou outro.

Abracei-o fortemente.

— Nicolas, você foi o melhor companheiro de viagem. Sempre irei amá-lo, meu querido irmão. — Funguei em seu peito.

— Eu compartilho do mesmo sentimento. — Me abraçou mais forte.

Ele me ajudou com a bagagem e todos estavam na sala, esperando para partirmos para o barco que nos levaria de volta a cidade. Desde que havia iniciado a chuva, todos os dias as águas do firmamento regavam a terra, levando o rio a subir. O Senhor tinha mesmo terminado aquele tempo em nossas vidas, dando-nos a chance de retornar. Mas, antes de sairmos pedi um tempo para ir a um local muito especial. Então, fui a sua direção.

Sim, era ele, meu querido tronco. Sentei-me nele e mirei o céu azul. Poder olhar o céu azul e suas nuvens brancas, fizeram meu coração se comprimir dentro de mim. Aquela manhã estava no clima perfeito. Aproveitei para relembrar todas as minhas aventuras ali. Acabei por orar ao Senhor, agradecendo por cada uma dela. Até ouvir a voz mais linda do mundo que vinha pelas minhas costas.

— A senhorita não pode ficar aqui. — Ele estava naquela posição ereta do primeiro dia que nos encontramos.

— Artur! — pronunciei o seu nome, com um largo sorriso nos lábios.

Ele não estava fardado, apenas com uma calça jeans e uma blusa preta. Ele sorriu e sentou-se ao meu lado. A presença dele ainda fazia meu coração se remexer, acho que sempre seria assim. Nós não falamos nada, ficamos apenas ali contemplando a paisagem, até o momento em que Artur pronunciou:

— Vamos? O barco já chegou.

— Vamos sim

Mas, antes de partir, ele disse:

— Esse lugar será para sempre lembrado como o local onde Deus começou o processo de cura na minha vida. — Ele soltou um resfolgo profundo. — Pois, foi aqui onde encontrei você. — Beijou o dorso de minha mão. 

Um arrepio subiu na minha pele.
Partimos em direção ao barco, quase todos da comunidade estavam a nossa espera no local marcado. Organizamos nossas bagagens, estendemos nossas redes e sentamos nela. Artur se posicionou ao meu lado e Davi no meu colo. O motor do barco sendo ligado fez meu coração apertar. Deixar aquele lugar era abandonar uma vida para trás e seguir rumo a uma nova, com mais aventuras, perseverança e sofrimentos. Mas, sempre com a fé renovada, pois agora eu sabia que Deus é a única esperança que temos para se fazer tudo novo mais uma vez.

As paisagens durante o caminho eram belas, mas a velocidade do ônibus não permitia contemplá-las por muito tempo. Percebi que a pressa do nosso dia a dia não nos permite ver as belezas da vida. Eu precisaria aprender a apreciar a vida que Deus me deu.

— Está tudo bem, Lia? — indagou Artur ao meu lado.

— Só estou pensando e meditando — respondi, com um leve sorriso.

— Pago um milhão pelos os seus pensamentos.

— Como se sente ao saber que logo irá rever sua filha? — perguntei de ímpeto.
— Estou ansioso. — Olhou para rio que era rasgado pelo barco. — Já faz tanto tempo que não a vejo. — Uma sombra de emoção tomou conta do rosto dele.

— Artur — virei-me para ele —, por que toda vez que eu falava dela você ficava sério?

Ele fitou o teto, pensou por um tempo, e respondeu:

— Mila se parece demais com Ângela. No início, isso me motivou a se esquivar dela. Vê-la doía porque me lembrava da minha esposa.

Não consegui dizer nada.

— Minha filha não merecia isso. — Balançou a cabeça em negação. — Afastei-me dela completamente. Faz quase um ano que não nos vemos. 

— Artur, sua filha precisava e ainda necessita de sua presença. — Segurei em sua mão dando-lhe apoio.

— Eu sei, e isso me feria, contudo, ao vê-la recordava-me de Ângela. Isso me matava por dentro. Não conseguia cumprir minhas obrigações. — Ele soltou o ar preso. — Isso será recompensado a partir de agora.

— Eu me alegro por isso!

— Eram esses seus pensamentos? — Os olhos castanhos dele penetraram minha alma. Artur de certa forma sabia que não era isso. Mas, resolvi não falar nada.

Apenas consenti. Entreguei a Deus em oração as minhas preocupações. Apoiei a cabeça no seu ombro e adormeci tranquilamente.

🪵

É isso aí, falta pouco para nos despedir!!!

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⏰ Última atualização: Nov 04 ⏰

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