Uma Porta de Esperança

Capítulo 42

“Da linda pátria estou bem longe cansado estou. Eu tenho de Jesus saudades. Oh, quando é que eu vou? Passarinhos belas flores querem me encantar, são vãos terrestres esplendores, mas contemplo meu lar”.

Enquanto eu cantava, a brisa suave entrou no quarto e o vento batia em meu rosto. O dia começou agradável. O dia de ontem não seria esquecido. Com aquelas vidas se rendendo, percebi que tudo que passei valeu a pena: cada lágrima, oração, pranto, angústia. O Senhor me levou ao deserto para realmente me falar sobre o amor. Eu estava satisfeita, poderia voltar para casa com o coração em paz. Eu estava escorada no batente da janela respirando aquele ar fresco e meditando na bondade de Deus para comigo. Ouvi alguém abrir a porta. Não demorou a pessoa falou:

— Lia, já acordou?

— Sim!

Era Jamile. Eu não me virei para ela, continuei na mesma posição.  Ela veio até minha direção e me abraçou fortemente. Nunca pensei em haver tanta força em Jamile. Senti suas lágrimas em minhas bochechas.

— Por que está chorando? — disse, sentindo-me esmagada.

— O Senhor te ama tanto! Ele a ama demais! — As palavras dela me deram tanta alegria. Era bom ouvir que Deus me amava.

Ela ficou ali comigo por um bom tempo. As emoções de Jamile estavam alteradas. Queria acalmá-la de certo modo. Bati levemente na costa dela e falei:

— Obrigada, Jamile. Ele também a ama muito.

— Eu sei. — Concordou com a voz embargada. — Agora, vamos! Eu vou arrumar você como uma princesa. — Segurou em minha mão.

— Por quê? Hoje é só um dia normal.

— Não! — exclamou. — Hoje não é um dia normal. E, por favor, me permita conduzi-la nesse dia. — Pude ouvir um sorriso. — Eu e Mariana iremos ajudar.

A porta se escancarou e a voz de Mariana soou:

— E você será a mulher mais bonita deste lugar!

— Por que tudo isso? — Eu não entendia completamente nada.

— Não pergunte! Só confie em nós. — Jamile pediu. 

Mesmo sem compreender assenti. As meninas se organizaram em suas posições e começaram a limpar minhas unhas.

— De onde vocês conseguiram material para limpar unhas?

— Foi eu! — Vivian disse, já dentro do quarto. — Você ficará linda.

— Mas...?

— E não questione! — As três disseram em uníssono.

 Soltei uma risada, antes que levasse uma surra. Elas continuaram. Terminaram com minhas unhas, foram ao meu cabelo e o cortaram na altura do ombro – meu coração quase saiu pela boca, mas estava feliz. Eu desejava cortá-lo há tempos. Tomei um belo banho. Elas me vestiram com um vestido, puseram sandálias nos meus pés, fizeram uma leve maquiagem e passaram perfume.

— Está pronta! — Jamile falou.

— Admito que amei todo esse cuidado, mas ainda não entendi o porquê de tudo isso. — Balancei a cabeça em negação.

— Em breve saberá — Mariana declarou.

— E então, a minha querida amiga está pronta? — Nicolas se aproximou e me abraçou de lado.

— Nicolas! — Franzi o cenho. — O que vocês estão tramando?

— Nós? — perguntou irônico. — Não estamos fazendo nada. Agora pode segurar meu braço, por favor?