Central Park

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O verde tomou conta dos meus olhos e o cheiro de grama recém-cortada invadiu o meu nariz. Luna parecia outra cadela enquanto corria apressada para o meio do verde para fazer as suas necessidades e fuxicar a marca dos cachorros que haviam passado por ali antes dela. Andamos mais um pouco e avistei a barraca de cachorro quente logo à frente e o meu estômago fez questão de roncar, avisando que o sanduíche natural não dera conta do recado.

Ótimo, se já não bastasse os donuts que eu tinha comido de manhã, eu ainda não resistiria a mais carboidratos?

Coisas a fazer até o fim da semana:

1 – Comprar um tampão de ouvido. (ou ficar surda, sei lá)
2 – Comprar sapatos! (eu mereço, eu mereço, eu sei que mereço!)

3 – Resistir a comidas gordurosas! (o cachorro-quente está me chamando, droga!)

Decidi fechar os olhos e me deixar guiar pela Luna até termos passado aquela tentação em forma de pão, salsicha, batata palha e muita mostarda, mas não me pareceu uma boa ideia assim que quase fui jogada longe quando trombei – mais uma vez – com alguém. Sorte a minha – se é que aquilo poderia ser considerada sorte – que eu caíra na grama, que amortecera a queda, e aparentemente não tinha sofrido nenhuma contusão ou coisa do tipo.

Oh, não, eu não queria me machucar, obrigada.

— Por favor, me desculpe! Eu estava correndo olhando para o chão e... – ele parou de falar imediatamente assim que os nossos olhares se encontraram e eu tremi onde estava.

AI MEU DEUS, ERA ELE!

ERA O HOMEM QUE TINHA SE ESBARRADO COMIGO DE MANHÃ – e de tarde.

Qual -  me diga - qual era a probabilidade de encontrar duas vezes com o mesmo desconhecido em uma cidade tão grande como NY?

Olá, destino, acho que você está batendo em minha porta.

... Ou trombando em mim, whatever.

— Duas vezes no mesmo dia? Uau! – o estranho abriu um sorriso sem graça e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Eu aceitei e em poucos segundos estava novamente em pé, retirando a grama da minha calça e pegando a coleira da Luna.

— Eu acho que você está me seguindo. – falei brincando e escutei a sua gargalhada pela primeira vez.

Mas, espera, e se ele estiver mesmo me seguindo? E se ele for, tipo assim, um psicopata?

Eu já escutei relatos sobre assassinos do Central Park e tudo mais, e eu não quero ser a próxima vítima, eu passo.

— Não se preocupe, eu só estou dando uma volta com meu cachorro. – e erguendo a coleira e me mostrando o seu fofo e enorme cachorro, ele continuou a sorrir, o que fez o meu coração amolecer.

— Eu estava brincando.

Nunca pensei que isso poderia ser tão... Sexy.

— Eu posso te pagar um cachorro-quente para compensar o frappuccino de hoje de manhã? – AI, lá se vai a minha dieta! (só que depois dos cinco donuts de hoje de manhã ela já se foi há tempos...)

E até parece que eu ia recusar.

— Eu adoraria! O cachorro-quente está me encarando há tempos, mas eu sai de casa sem dinheiro e pensei que ia ficar só na vontade... – nós dois e nossos cachorros fomos caminhando até o carrinho de cachorro-quente e enquanto ele comprava, eu fui com os cachorros procurar um banco vago para nós nos sentarmos.

Acho que a Luna se deu muito bem com o cachorro dele. Bem demais para o meu gosto.

— Aqui está! – ele apareceu novamente e me entregou um cachorro-quente enorme – Eu jurava que você ia recusar, sabe? Pensei que as mulheres de NY só comessem salada e derivados...

Ah, se ele soubesse dos cinco donuts...

— Isso porque você não me conhece direito. Se me conhecesse iria saber que eu nunca consigo parar de comer essas besteiras...

— Eu adoraria...

— O que?

— Conhecê-la melhor.

Depois disso ele abaixou para dar um pedaço de salsicha para os cachorros.

GRAÇAS A DEUS ELE FEZ ISSO E NÃO VIU A MINHA CARA! GRAÇAS A DEUS MESMO!

Eu acho que nunca corei tanto na minha vida. NUNCA!

Dulce, deixe de ser tola e seja sedutora. Não é todo dia que um homem como esse aparece na sua frente!

OPS, engano meu, é sim.

Mas de todo jeito, ele é diferente,

Ele me pagou um cachorro-quente.

— Eles se deram bem.

— Como? – só não sei do que ele está falando. Só isso.

— Nossos cachorros...

— AH SIM! Como o seu chama?

— Sloan... - que chique, igual ao Mark Sloan do seriado. – E a sua?

— Luna... E olha que é raro ela gostar de alguém. – o que é a mais pura verdade, já que as únicas pessoas de quem ela gosta é de mim e do namorado/marido do meu tio.

— Acho que foi amor à primeira vista, não é garotão? – ele começou a fazer 'cafuné' no Sloan e eu sorri – Que bom gosto, hein? Foi paquerar uma cadelinha bonita e ainda de sobra com uma dona mais bonita ainda! É hoje o nosso dia de sorte, meu amigo! – eu ri docemente. Que gracinha.

Nunca haviam me paquerado de uma forma tão inocente e meiga desse jeito. Se eu não fosse sair com o meu tio daqui a pouco, eu juro que levava ele pra casa.

— Hoje é o dia de sorte dele mesmo, porque parece que ela também está afim... – indireta de duplo sentido, entende?

— Sua cadelinha por acaso tem telefone? – ele me mandou uma piscada de olho e nós dois rimos tanto a ponto de gargalhar. – Porque sabe como é, o Sloan não vai tirar ela da cabeça... É...

— Dulce. Dulce María... - e eu sorri novamente.

— Ele não vai tirar a Luna da cabeça, Dulce, então...

MERDA. Nossos celulares tocaram ao mesmo tempo. Nós nos entreolhamos e eu disse rapidamente.

— Tenho que atender.

— Eu também. - ele respondeu.

— Então... Eu já vou indo. Obrigada pelo cachorro-quente.

— Eu que agradeço pela companhia. – eu sorri e dei um beijo no rosto dele.

Nós dois nos levantamos e começamos a seguir caminhos diferentes, até que...

— ESPERA! – ele ainda estava com o celular na mão e olhava para mim – E O SEU TELEFONE? QUER DIZER, O TELEFONE DA LUNA? – ele gritava no meio do parque, já que estávamos bem longe um do outro.

Eu abri um sorriso e gritei em seguida:

— Não se preocupe, a gente se esbarra por ai...

À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora