Presente de Domingo - 3

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Cheguei em casa às oito e meia da noite. Eu estava exausta. Não consegui nem cumprimentar as pessoas que vi pelo caminho. Fiquei dois dias sem dormir, sem tomar banho, sem passar meus cremes... Ou seja, eu estou um trapo!

Que o Christopher nunca sonhe em me ver assim, por favor.

O que eu mais desejo agora é um banho demorado de banheira, escutando música e tomando alguma coisa que não possua álcool. Chega de álcool por um tempo. Depois, comer uma boa massa italiana sem me importar de estar engordando horrores, assistir algum dos filmes da Audrey Hepburn debaixo das cobertas com a Luna em meus pés e, por fim, ligar para o Christopher e dormir assim que desligarmos.

Ótimo. É isso mesmo que irei fazer.

Ah, e claro que eu quero esquecer o fato de que a Paula não parou hoje um minuto sequer de falar do tal trabalho na Espanha. O ruim é que ele é muito tentador, mas já lhe disse que não vou só algumas milhares de vezes.

Milhares.

Assim que o elevador parou em meu andar, fiquei surpresa ao encontrar um bilhete colado em minha porta. Só poderia ser do Christopher, é claro.

Cariño,

Fiquei te esperando, mas sabia que você não sairia do Hospital sem antes ver a Annie. Como também sabia que você voltaria para casa exausta... Por isso comprei algumas coisas para você comer (incluindo sorvete, doces e uma lasanha de microondas) e já dei ração para a Luna, não se preocupe. Me ligue depois que você tiver dormido, mas qualquer coisa urgente, me avise, ok?

Te amo.

Percebi que aquele sorriso bobo já tomava conta de meus lábios e tirei o papel cuidadosamente da porta, o dobrei e entrei em casa. Notei um vaso de flores em cima do balcão da cozinha, com outro bilhete... Praticamente me atirei sobre o mesmo, tomando-o entre os dedos

E não arranje nada para amanhã a noite. - C.

Dei um beijo no cartão, porque sou patética. Coloquei a bolsa e outras coisas em cima do balcão da cozinha, indo diretamente para o freezer pegar a lasanha que ele havia comprado. Por alguns segundos pensei ter escutado a doce melodia Aleluia, Aleluia, Aleluia, Aleluuuuia... Mas foram só por alguns segundos, depois recuperei minha sanidade.

O banho e a música poderiam esperar, mas a minha solitária não.

Enquanto a lasanha era aquecida no microondas, fui separar alguma roupa pós-banho-de-banheira e algum filme para assistir em meu quarto, onde a Luna se encontrava esparramada no tapete.

— Oi, meu bebê! – ela me espiou pelo canto dos olhos, fungou e virou de barriga para cima, pedindo carinho. Fiz-lhe um cafuné rápido e comecei a separar minhas coisas. Assim que ouvi o apito do microondas, corri para tirar a lasanha dali. Em seguida, abri uma coca-light para acompanhar.

Acho que estou no paraíso.

Em questão de um piscar de olhos, a comida já acabara. Peguei algumas das milhares de barras de chocolate que o Christopher havia comprado e comecei a devorá-las enquanto tomava o meu demorado banho. Às 21:30 eu já estava enrolada no lençóis, assistindo Roman Holiday pela milésima vez, até que resolvi ligar para o meu namorado assim que o Gregory Peck, parceiro romântico da Audrey Hepburn no filme, entrou em cena.

Oi?

— Obrigada pela lasanha. Você não sabe o quanto eu estava louca por uma massa.

Boa noite para você também, bebê... – ele riu – E de nada, mas eu já sabia que você queria alguma massa porque você comentou algo assim ontem.

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