Söt

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E meus dias se passaram na mais pura depressão que poderia existir. Tive que começar a organizar as malas, ver onde a Luna iria ficar, correr atrás de uma faxineira e tudo mais. A cada coisa que eu fazia a minha dor de cabeça aumentava. Claro que ninguém conseguia perceber que eu estava para baixo. Não há nada que uma maquiagem não faça, mas as pessoas que me conheciam extremamente bem (vulgo, Maite) percebia que minha paciência andava curta ultimamente, ou para me expressar melhor, parecia que estava de TPM prolongada. Qualquer coisa eram lágrimas, sorvete, lágrimas, mais sorvete e lágrimas

— Você vai sim! – era a milésima vez que ela ligava a torneira do chuveiro e eu desligava em seguida.

— Não, eu não vou! – já me encontrava irritada com toda aquela situação. Ela sabia que não ia conseguir me convencer...

— Sim, você vai! – percebi como ela cerrava os dentes, esbanjando raiva de mim – Hoje é um dia importante para o seu namorado e você tem que ir, por isso pare de criancice e entre dentro desse chuveiro e não me desafie! – o dedo indicador dela apertava a ponta do meu nariz e, resmungando, entrei debaixo da ducha.

— Maite, você não está raciocinando direito! Quer que eu lhe conte novamente o que aconteceu no escritório com a Paula? O Christopher não deve estar querendo olhar para a minha cara! – já sentia as lágrimas se misturando com as gotas de água e me encostei na parede com a cabeça entre as mãos.

— Dulce, se ele está bravo ou não, uma hora você terá que conversar com ele! Que porra, será que você não entende que vocês não podem jogar tudo o que construíram esses meses para o alto por causa de uma viagem idiota? – a mão dela percorreu toda a extensão de sua barriga e acabei me lembrando que ela não podia ficar nervosa devido à gravidez.

— Me desculpe... – sussurrei, finalmente começando a me banhar.

— Vou separando uma roupa para você, depois venho ver se está tudo bem...

— Sim, mamãe... – brinquei, e foi à primeira vez na noite em que ela abriu um sorriso direcionado para mim.

— Lave bem atrás das orelhas, senão irá ficar de castigo, ok? – entrou na brincadeira também e rimos juntas.

Assim que sai do banho, liguei o secador e delineei um pouco os cachos. Passava a primeira mão da maquiagem quando comecei a escutar gritos vindos da sala e, enrolada na toalha, sai correndo sem entender o porquê daquele teatro de Maite.

— O que te passa? – perguntei, vendo que ela estava bem.

— Olhe o que acabou de chegar! – mostrou uma folha de papel e eu cerrei os olhos, sem entender nada – Às 20:45 uma limusine estará na porta de seu prédio. Claro que não te deixaria chegar de táxi pelo "tapete vermelho". Não adianta fugir de mim, Dulce, porque você sabe que se não estiver aqui as nove em ponto, eu irei atrás de você. Você não pode me deixar sozinho hoje. Älskar dig.– quando finalizou de ler, Maite me encarou, confusa – O que é Al... Al... Bem, essa última palavra? – como resposta ela obteve um suspiro vindo de mim, totalmente encantada.

— Eu te amo. Em suéco.

— Suéco? Desde quando você sabe suéco? E porque ele escreveu isso em suéco? – a expressão facial dela era tão cômica que eu não pude evitar rir.

— A mãe do Christopher é suéca, Maite! Você já sabia disso. Ele morou na Suécia durante um tempo e acabou aprendendo. Ele é poliglota, sabe falar de tudo um pouco. Um dia ele tirou pra me ensinar suéco, só que eu só aprendi o básico, tipo: Com licença, Ursäkta. Estou perdida, preciso de ajuda, Jag är förlorad, behöver hjälp. Quanto custa essa bolsa? Hur mycket detta stipendium? e Come få sängen jag hoppas du, Christopher!

À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora