Feliz Cumple

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Agora a lembrança da primeira vez que Audrey falara parecia estar distante. A pequena garotinha, depois dos dois anos, parecia ter engolido um gravador e um dicionário. Depois de "uci" veio "main" e logo em seguida, "papi". E um pouquinho mais tarde, falava tudo perfeitamente, me assustando com aquela inteligência toda...
Era engraçado ser mãe... Era mesmo.
Era um carinho que não acabava. Era carinho, paciência, compreensão, bem querer, dedicação e muito, muito amor.
Adorava ver o quanto Lucy era esforçada, dedicada e carinhosa. Como ia bem na escola, escovava bem os dentes antes de dormir, sempre pedia para orar comigo, pedia ajuda ao pai para fazer as lições do colégio, se comportava bem quando saia com as tias e tios, e como fazia várias amiguinhas fácil.
Adorava ver o quando Audrey era engraçadinha, delicada, mandona e muito ciumenta. Como mexia o bumbum para andar. Como sorria abertamente para todos. Como mandava beijos, acenava e fazia graça para encantar qualquer um. Como grudava no pai, em mim ou em Lucy quando qualquer outra pessoa se aproximava. Como tinha uma personalidade forte e marcante. E como conseguia fãs por onde passava.
Era muito amor.
Christopher chamava Lucy de estrela, por sempre brilhar diante dos nossos olhos, e Audrey, de princesa, porque ela se portava como tal...
E era gratificante ver a família que nós formávamos. Era realmente muito...

AMOOOR – escutei Christopher gritando na cozinha – Audrey derrubou farinha para todos os lados!

Parei de pensar assim que vi um pouco de "fumaça" branca saindo através da porta da cozinha e me pus de pé, indo até lá.

— Muito bonito, hein, dona Audrey Saviñón von Uckermann! – cruzei os braços ao ver a bagunça que estava aquele cômodo – Muito, muito, mas muito bonito!
— Fui eu não! – ela levou as mãos cheias de farinha ao rosto, para tentar escondê-lo, o sujando ainda mais – Foi fadinha!
— Que fadinha, amor? – abaixei para ficar da altura dela e passei meus dedos sobre suas bochechas, tirando um pouco daquele pó.
— Fadinha do aniversário! Ontem eu deixei uma moeda debaixo do meu travesseiro e ela vai deixar um presente bem grande para o papai! – ri enquanto ela abria os braçinhos para mostrar o tamanho do presente.
— A fadinha do aniversário é amiga da fadinha dos dentes?
— Elas são irmãs! – ela deu uma risadinha e logo em seguida fez uma cara pensativa – Cadê a Lully?
— Shh, é segredo – me aproximei dela e sussurrei em seu ouvido – Ela foi com a vovó Alê comprar um presente para o papai!
— PAPAI! – ela gritou animada e saiu correndo pela cozinha até conseguir encontrar o pai e abraçá-lo pelos joelhos – PAPAI! – ela gritou outra vez – JÁ TE DISSE PARABÉNS?
— Hm, deixe-me pensar... - ele a pegou no colo, sendo sujado de farinha – Já sim, mas quero ouvir de novo.
— FELIZ CUMPLE, PAPIII! – ela apertou as bochechas dele e deu um beijinho na ponta de seu nariz. Christopher me encarou sorrindo.
Feliz cumple? – perguntou.
— Bom, ou foi Maite, ou Claudia... – dei de ombros e ri com ele.
— Tia Mai! – ela a delatou – Tia Annie queria que eu falasse: HAPPY B-DAY, DADDY!
— Meu Deus, acho que teremos outra poliglota na família! – gargalhei e me aproximei dos dois, com os braços cruzados outra vez – E agora, senhores, quem irá limpar toda essa bagunça?

Ding-dong.

Eu abro a porta! – Christopher falou ao ouvir a campainha.
— Mami, vou lavar as mãos!

Os dois saíram correndo me deixando ali sozinha.

— PAIÊ – escutei um grito de Lucy vindo da sala – VOVÓ ALÊ FALOU QUE AMANHÃ TEM UM ALMOÇO DE ANIVERSÁRIO PARA VOCÊ E QUE VOCÊ NÃO PODE FALTAR QUE SE NÃO ELA VAI PUXAR AS SUAS ORELHAS! – sorri dá cozinha e assim que terminei de limpar aquela bagunça toda, fui ver o bolo que Audrey e Christopher estavam fazendo.
— O BOLO ESTÁ PRONTO! - gritei
— Posso raspar a panela da calda? – Audrey gritou empolgada da sala.
É a calda da panela, princesa... – ouvi Christopher explicar.
— AH... Posso raspar a calda da panela? – ela repetiu.
— Eu também quero! – disse Lucy que deveria estar chegando na sala onde os dois estavam.
— Lully chegooou! – ouvi Audrey falar.
— AUDY! – ouvi Lucy responder.
Olha que eu vou chegar antes das duas e pegar toda a calda para mim... – Christopher brincou e escutei passos vindos na direção da cozinha.
— NÃÃÃO PAPAII! – Audrey gritou dramática. Quem será que essa menina puxou?

Escutei os passos correndo para onde eu estava e peguei a panela que estava em cima do fogão, enfiando uma colher lá dentro e colocando em minha boca, exatamente no momento que eles chegaram.

— A calda é minha, lero, lero... – cantarolei e mostrei a língua para os três, que riram e começaram a correr atrás de mim.
— Mamãe, quero chocolate! – Lucy falou manhosa.
— Também quero! – a menor cruzou os braços emburrada e as bochechas incharam, demonstrando que estava brava.
— Ai, que chitosa! – apertei a bochecha de Audrey e entreguei uma colher para ela e uma para Lucy – Quero que as duas comam sem fazer bagunça, está bem? – e enquanto elas concordavam, fui pegar dois copos de água e os coloquei em cima da mesa, perto de onde elas estavam – Mamãe e papai vão subir para tomar banho, daqui a pouco descemos para ver filme com vocês, está bem? – as duas estavam tão entretidas com a calda que nem viraram a cabeça para concordar – Qualquer coisa é só chamar a Marina...
Mas eu também queria calda... – ele fez cara de bebê e eu ri, o puxando pela borda da calça.
— Não queria não... – o beijei no canto da boca e não foi preciso de mais para fazê-lo mudar de ideia.

Enquanto entravamos no quarto, eu ia para o banheiro preparar as coisas enquanto ele separava as roupas e fechava a porta. Liguei a torneira para a água começar a descer e tirei a roupa, não esperando encher e entrando em seguida. Christopher entrou no banheiro e também estava despido, por isso não demorou muito para ele se juntar a mim. Enquanto eu me acomodava em seus braços e a água descia pelo ombro dele, tocando as minhas costas, eu sorria e apertava as mãos dele – que estavam em minha barriga – e suspirei.
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— Feliz cumple! – imitei a filha dele, o que o fez rir – Mas é sério, meu amor, feliz aniversário...
Trita e quatro anos...
— E daqui a pouco estamos com quarenta...
Cinquenta, sessenta, setenta...
— Ai, que horror! Não quero nem me ver com setenta anos...
Continuará linda! – ele deu um leve beijo nos meus lábios e eu sorri, respirando fundo.
— Quero discutir a respeito do seu presente...
Não quero nada...
— Eu sei, você me avisou isso umas noventa e sete vezes... – ele riu e apertei a mão dele – Mas o que quero falar é mais sério, amor... Olha, hoje estava vendo as nossas filhas e cheguei a uma conclusão.
Que elas são lindas?
— Essa também – sorri – Mas não foi isso. Fui à ginecologista e ela me disse que se quisermos ter outro filho, tem que ser agora... Depois de uma certa idade não é bom arriscar e... Queria saber se... Hum... Você gostaria de... Outro filho como presente?
— Hm, que pergunta difícil – ele se fez de pensativo e mordeu o lóbulo da minha orelha – Eu acho que... – silêncio.
— O que você acha?
Que seria o melhor presente que eu poderia pedir...

Depois do banho, descemos e encontramos Lucy e Audrey do jeito que tínhamos deixado. Elas estavam se divertindo dobrando guardanapos e quando nós chegamos elas abriram um sorriso enorme.

— Mamãe, acende a vela! – Audrey pediu.
— Queremos cantar parabéns para o papai! – Lucy completou.
— Papi's birthday! – Audrey comemorou. Essa menina me sai com cada uma...
— Mãe, acho que a Audy ta andando tempo demais com a tia Annie... – nós rimos e enquanto eu ia procurar um fósforo, os três se reuniam em volta da mesa da cozinha e observavam o bolo.
— Mamãe, cadê os chapeuzinhos que eu comprei com a minha mesada? – ela perguntou e eu tirei os chapeuzinhos de aniversário e entreguei para ela – HOLLY! GINNY! JACOB...

Os três cachorros apareceram e Audrey começou a correr atrás deles, tentando colocar um chapéu em cada um. Eu morri de rir ao ver ela desistindo e fazendo bico, voltando para a mesa de braços cruzados.

— Cachorros chatos! – ela deu a língua para eles – Tó, papai! – ela entregou um chapéu para Christopher e depois para mim e para Lucy.
— Mamãe, acende as velas! – Audrey falou outra vez e eu ascendi, apagando a luz no mesmo instante.
— Então vamos lá? – respirei fundo e comecei – Parabéns pra você...

(...)

— De novo! Parabéns pra você... – Audrey recomeçou a música batendo palmas novamente.
— Não Audy, chega! Vamos comer o bolo e deixar o papai fazer um pedido!
— Tá – Audrey sorriu – QUERO O PRIMEIRO PEDAÇO!
— Faça um pedido, amor... – falei, rindo baixo das meninas.

E enquanto ele cortava o primeiro pedaço, ele abriu um sorriso e tive a leve impressão de que ele olhava para a minha barriga.

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Vou editar o último pedacinho e já volto pra soltar ele aqui!

À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora