Presente de Domingo - 4

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Era enorme... Cada tijolo, cada janela, cada detalhe... As árvores ao redor davam uma tranquilidade e traziam uma felicidade perfeita para o momento. O verão poderia estar para começar, mas as flores que continuavam desabrochadas nas árvores anunciavam o futuro fim da primavera. E o lago... O lago lhe tirava as palavras. Repleto de flores flutuantes brancas e rosas atraiam os olhares de várias crianças trajando seus elegantes ternos e vestidos coloridos, alegrando ainda mais o ambiente. Deu dois passos para frente, onde notou que Maite, belissimamente arrumada, segurava uma pequena criança entre os braços e lhe distribuía dos seus sorrisos mais sinceros e belos. A mesma se encontrava ao lado de Anahí, que emocionada, limpava as beiradas dos olhos com a palma da mão, mostrando um brilho indescritível nos grandes olhos azuis. Lá estava minha mãe, sentada logo na primeira fila, engolindo soluços e sorrisos. Meu pai se postava ao seu lado, segurando minha mão firmemente, me passando toda a confiança e carinho que possuía. Minhas irmãs, abraçadas, se encontravam ao lado da figura materna e dividiam lágrimas emocionadas. Christian estava ali também, com um belo acompanhante que pelo visto lhe fazia feliz. Tudo não poderia estar mais perfeito. Meus olhos, assim que a música começou, se fecharam, ouvindo aquela linda melodia que por tanto tempo esperava ouvir. Dando mais um passo para frente, me dei conta que ali estava o meu futuro. Ali estava ele. Ali estava nosso o futuro.

Nunca ninguém conseguiria descrever todo o amor que pairava no ar naquele instante. Ele estava ali, me esperando pelo tempo que fosse, para me toma em seus braços e mostrar para todos que estavam presentes e a todos que estivessem dispostos a ver, o amor que sentia por mim. A cada passo, eu me aproximava ainda mais dele, e a conexão dos olhares não fora quebrada uma única vez durante toda aquela longa caminhada. O vento continuava soprando de leve e assim que os meus sobrinhos terminaram de banhar o caminho com pétalas de rosas, e eu me encontrava diante dele, meu pai beijou-me a face, as mãos e a ponta do nariz, me entregando um sorriso.

— Estamos aqui presentes hoje para acompanhar a união de dois amantes. Deus criou o homem e a mulher com a intenção de que o amor prosperasse e tomasse conta do coração de todos, e neste dia especial, Christopher Alexander Luis Casillas von Uckermann e Dulce María Espinoza Saviñón irão dividir todos os dias que estão por vir. Todos os sorrisos, as dores, as perdas, os ganhos, as horas, os minutos. Por escolha deles e de Deus, estou aqui para realizar esta união sagrada, por isso pergunto, diante dos olhos do Senhor e de todos nós, você, Christopher, aceita Dulce María Espinoza Saviñón para amar e respeitar pelo resto de sua vida?

Quando as lagrimas pesadas brotavam de meus olhos, notei que tudo ficou escuro. Tudo perdeu a cor, o brilho, a felicidade, a esperança, o amor... Comecei a correr, mas não sentia minhas pernas se movendo. Porque não saia do lugar? E estava tudo tão escuro...

As flores do buquê esparramadas pelo chão voavam ao redor do meu vestido branco e eu ouvia uma risada. Uma risada tão alta que me dissipava os sentimentos restantes. Como ele ousara? Eram tantas boas lembranças, tantos bons momentos... Era tanto amor!

Acuada, olhei para trás com os olhos queimando em lágrimas e observei aquele rosto conhecido mostrando todos os dentes amarelados em uma demonstração de mais puro deleite. Como ele ria, Deus. E a risada de Marco tornou seus sonhos em pesadelos. Agora estava ali, sozinha, cara a cara com o pior monstro. O monstro da desilusão.

— Desista, meu docinho, você sabe que o que você mais quer é o que está mais distante. - ele falou debochado.

— O que você quer de mim? - eu perguntei.

— Não percebe? Sou o seu medo. Sou o que você mais teme. Abra os olhos, Dulce, não adianta fugir nem tentar esconder, você sabe que não conseguirá ser feliz enquanto não esquecer o seu pior temor.

— Eu já me esqueci de você. Amo o Christopher.

— E ele ama você. Blá, blá, blá. Todo aquele papo chato de mocinho se apaixona cegamente pela mocinha, os dois se casam e vivem felizes para sempre... Mas será que você conseguiria viver feliz para sempre carregando consigo tanto medo, Dulce?

Fred: Good.

Eliza: What do you think you're doing here?

Fred: Nothing... I'm...

Abri os olhos imediatamente e sentei na cama, atuardida. Assim que retomei o sentido da visão, notei que passava My Fair Lady na MAX e quando encontrei o controle, desliguei a TV, afundando meu quarto no escuro.

Não sabia como conseguiria arranjar um táxi às quatro da manhã, mas arranjei, e quando percebi, estava entregando o dinheiro ao taxista e descendo em frente ao portão da mansão do Christopher. Ainda estava de camisola, somente com um sobretudo por cima, mas alguma coisa me corroía por dentro. Tentei voltar a dormir depois do pesadelo, mas a única coisa que consegui foi ficar frustrada por várias tentativas fracassadas. Eu sabia que não dormiria enquanto não escutasse outro "Eu te amo" vindo dele, e sabia muito bem que também não adiantaria por telefone. Queria ver saindo da boca dele. Queria ouvi-lo dizer que não me abandonaria... E por isso cometi a loucura de sair por Nova York às quatro da manhã, vestindo praticamente nada, só para isso.

Acho que estou ficando realmente louca.

Não precisei tocar a campainha para abrir o portão nem nada... Acho que já faz uns três meses que tenho o controle e as chaves da casa dele. Assim que entrei no hall, procurei ascender uma luz, mas não encontrei o interruptor, por isso fui batendo em tudo o que estava em minha frente até localizar as escadas.

Ótimo, não vou poder usar vestido por um mês graças aos hematomas que ganhei hoje!

E foi quando eu... Bem, cai. Eu já estava atormentada, sem direção e tudo estava escuro! Quer o que? É claro que eu cai! Deus só pode estar de brincadeira comigo. Não lembro de ter feito nada de ruim para merecer isso, a não ser... Droga, eu não deveria ter disputado com aquela velhinha por uma bolsa da Louis Vuitton semana passada, mas aquela bolsa ia ficar muito melhor em mim do que nela, eu não tenho culpa disso e...

 DULCE? – as luzes se ascenderam e, quando notei, ele estava descendo as escadas correndo e me ajudando a levantar – O que você está fazendo aqui? Está bem? Não se machucou?

— Acho que quebrei alguma coisa... – fiz manha enquanto ele passava as mãos em torno das minhas costas – AI!

 Ta doendo tanto assim? – ele perguntou ainda mais preocupado e eu sorri, enquanto passava meus braços pelo pescoço dele e lhe distribuía alguns beijos.

— Só um pouquinho... – falei cada vez mais manhosa e ele arqueou a sobrancelha, não entendendo mais nada.

 Dulce, o que está acontecendo? Ocorreu algo no seu apartamento ou com você?

— Bem, não, mas... Será que nós poderíamos subir antes? – assim que chegamos no quarto, me joguei na cama e me enrolei nos lençóis, sentindo o cheiro dele.

 Dul, tem certeza que você está bem? – o procurei  e o avistei sentando na ponta da cama, ainda me encarando.

— Estou. Eu tive um pesadelo horrível. Péssimo. Não consegui dormir mais e pensei em te ligar, só que a intenção disto tudo não era te acordar, sabe? – menti um pouco – Eu queria vir para cá, me deitar ao seu lado e te juro que cair da escada não estava nos meus planos!

 Bem que eu gostaria desta surpresa... – ele riu e se aproximou um pouco mais de mim na cama – Mas você me deixou preocupado! Acordo com um grito e quando vejo você está jogada na escada e...

— Shhh... – peguei na mão dele e o fiz se deitar ao meu lado. Enquanto eu apagava a luz, ele se ajeitou e apoiou a cabeça no meu ombro, me abraçando pela barriga – Surpresa... – sussurrei, fazendo carinho nele.

 Adorei a surpresa... - sussurrou enquanto me dava um beijo no pescoço – Está aprendendo com o mestre a fazer as melhores surpresas, não é? – ri e lhe retribui o beijo.

— Dorme, Christopher, dorme... - recebi uma mordida como resposta e ri outra vez.

 Amo você.

— Fala de novo? – pedi, ou melhor, implorei.

 Eu amo você, Dulce Maria.

— Agora posso dormir em paz.

À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora