Anônimo

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Depois disso o tempo foi passando.

Alguns dias depois daquela conversa, achei dentro de uma das minhas bolsas o cartão que Angelique havia me dado no dia Britânico, e a proposta de trabalho oferecida se tornou interessante. Marquei uma reunião e logo fui atendida. O emprego que estava sendo proposto era praticamente o meu antigo, ainda mais que Angelique. O lugar que eu trabalharia ainda estava em construção e seria como uma "agenda" de famosos. Seria um grande prédio onde trabalhariam organizadores de casamento, organizadores de festas, empresários, estilistas, entre outras profissões relacionadas ao mundo das estrelas. O melhor de tudo é que talvez eu voltasse a trabalhar da mesma maneira de antes, para as mesmas pessoas de antes, só que eu seria a Paula do meu escritório. E não teria que trabalhar ao lado do Marco e...

Trabalhar ao lado do Marco... Trabalhar ao lado... AI MEU DEUS!

De: anonimo@yahoo.mx
Para: dulcesav@uckrp.com
Assunto: Sem assunto.

Antes que você se assuste, gostaria de lhe dizer para não se preocupar. Só quero dizer que você é maravilhosa e me encanta. Adorarei trabalhar ao seu lado.
Até em breve, mi Dulce.


"Adorarei trabalhar ao seu lado."

AI MEU DEUS! AI MEU DEUS! AI MEU DEUS!

VOCÊ! – gritei enquanto caminhava em direção ao Marco, apontando o dedo na cara dele assim que me aproximei – VOCÊ É UM IDIOTA! EU TE ODEIO! POR QUE VOCÊ... AH, POR QUE VOCÊ NÃO MORRE? – lhe dei um tapa no rosto e continuei cuspindo as palavras.
— O que eu fiz dessa vez? – Marco colocou a mão no rosto, mas não parecia nem um pouco surpreso.
— Ah, não sei, vamos pensar! – falei sarcasticamente, cruzando os braços e não ligando nem um pouco por estar fazendo um escândalo no meu antigo escritório – TALVEZ TER QUASE ESTRAGADO A MINHA VIDA OUTRA VEZ! – voltei a gritar, rangendo os dentes – Você está pensando o que, Marco? Que e-mails anônimos, flores anônimas, chocolates anônimos, jóias anônimas e "trabalhar" ao meu lado me faria voltar com você? E não venha me falar que você não era o idiota do anônimo que para se rebaixar ao ponto de ser ridículo, só pode ser você!
— E se eu falar que era eu?
— Eu acabo com a sua raça.
— E se eu falar que não era eu?
— Eu acabo com a sua raça do mesmo jeito.
— Você não me dá muitas opções! – ele abriu um sorriso quase parecido com o do Christopher, só que a diferença é que o sorriso dele me deu ânsia de vômito.
— Você. É. Desprezível! – tentei lhe bater outra vez, mas ele segurou o meu punho com força – Me solta!
— Meu "mano" não vem me bater dessa vez, mi dulce? – vi o asco na voz dele e quase explodi.
— Sua Dulce? Sua Dulce? – rosnei – OLHE AQUI MARCO, QUER SABER? IREI LHE FALAR TUDO O QUE DEVERIA TER FALADO HÁ ANOS! – não conseguia me controlar e escutei alguém falando que era melhor ligar para o Christopher, mas não fiz questão de interromper – VOCÊ É UM IDIOTA!
— Isso você já me falou.
— E NÃO CANSO DE FALAR! – tentei me soltar, mas não consegui – Me larga, imbecil!

— Talvez você tenha achado que tudo o que eu fiz foi brincadeira, Dulce, mas não foi – ele ficou sério e me encarou diretamente nos olhos, me fazendo estremecer de medo – Quer dizer, alguns anos atrás eu era um garoto, Dulce.
— E sua mentalidade sempre vai ser de um.
— Não, não será. Mudei muito a minha forma de pensar e me arrependo diariamente por ter lhe traído.
— Arrependimento não muda o que você fez, idiota.
— Será que você não consegue falar uma frase sem me ofender?
— Não – respondi imediatamente e percebi que havia esquecido de algo – Estúpido.
— Dulce, estou tentando conversar seriamente com você...
— Ah, é? – ri ironicamente – E você não acha que deveria ter tentando conversar comigo há, não sei, quatro anos atrás? Você achou o que, querido? Que eu ficaria lamentando a sua traição e que nunca mais ficaria com um homem? Você achou que eu te amava a ponto de nunca mais ser feliz? Você achou que eu lhe esperaria de braços abertos, escutaria uma desculpa qualquer e ficaria com você outra vez? – joguei tudo na cara dele, me orgulhando de conseguir finalmente falar tudo o que estava preso em minha garganta durante anos – Sabe, Marco, eu gostei muito de você. Muito. Mas sinceramente, se for comparar o que senti por você com o que sinto por Christopher, meu bem, acho que precisaria de uma lupa! – revirei os olhos – Não adianta me mandar flores. Não adianta me mandar chocolates. Não adianta me mandar jóias. Não adianta me mandar e-mails. Não adianta nada. Eu superei cada traição, cada noite mal dormida, cada lágrima, cada condenação, cada lamento, cada idiotice e cada infelicidade que você me trouxe. Aprendi a ser mais forte com você, confesso, porque, caso você queira saber, tive inúmeros pesadelos relacionados com você, mas aprendi a acordar e a construir novos sonhos. E só para você ficar informado, atualmente você não é nem mais um pesadelo para mim. Atualmente você não é nada.

— Falou tudo, garota! – escutei Andrew dizendo a poucos metros de mim e sorri para ele, agradecida – E vamos tirando a mão dela, amigão, porque não estou a fim de chamar a ambulância.
— Chamar a ambulância? – Marco questionou sem entender.
— Pegue o celular, Andy, porque ele vai precisar! – e chutei-lhe o meio das pernas com toda a raiva armazenada. Vi sua expressão de dor e sorri quando ele caiu diante dos meus pés, o lugar onde ele deveria ficar.
— O deixe no chão por alguns minutos – Letícia falou com um sorriso maléfico – Ele merece isso por ter tirado de mim uma das minhas melhores amigas! – retribui o sorriso e a abracei, escutando os gemidos de dor de Marco – Você é a minha maior inspiração, D.
— E você é o meu orgulho, L.
— Hello-u-o! E eu? – olhei para o lado e vi que Andrew fazia biquinho.
— Deixe de dar ataque e venha me abraçar! – Andy correu graciosamente ao encontro do meu abraço e suspirei – Acho melhor ligar para o hospital agora.
— Você está certa – Letícia falou e pegou o celular – Não é digno ser presa por causa de um imbecil!

Letícia falou com o nojo que usava para se referir aos homens idiotas com quem já havia ficado e então eu entendi. Letícia havia caído no papo furado de Marco também e também havia descoberto o demônio.

Certas pessoas nunca mudam e Marco era uma dessas.

Depois de prometer que ligaria, que combinaria de sair e que os visitaria, fui embora, sem antes deixar um bilhete.

Paula,
Não existe maneira de lhe agradecer por tudo o que fez por mim durante esses anos. Quando comecei era tão inexperiente que provavelmente não seria nada hoje em dia. Mas você, como minha tutora, me incentivou, me ensinou e me fez subir até onde estou hoje. Você é demais, Paula, e nunca terei tanto respeito por alguém quanto tenho por você.
Você me disse uma vez que eu era a melhor trabalhando aqui, só que você estava enganada.
Você é e sempre será a melhor.
Com todo o carinho, Dulce.

Sai do meu antigo prédio e ao atravessar a rua olhei para trás.
Ali estava o meu passado. Ali estava uma grande parte da minha vida, mas não ela inteira. Ali estava o local onde eu aprendera quase tudo o que sabia hoje... Como agradar, como coordenar, como organizar... Aquele prédio foi o que sempre sonhei e agora eu estava vivendo meus novos sonhos. Quando entrei era inexperiente, tola, triste e mesquinha. Agora tudo parecia tão distante... Havia aprendido a amar, a sonhar, a superar. Agora eu era uma nova Dulce.

Dei alguns passos pela calçada olhando para o céu que anunciava chuva e um sorriso permanecia em meus lábios, sem motivo. Eu me sentia livre.

Meu celular apitou, mostrando algumas ligações perdidas de Christopher e, pela quantidade de mensagens, compreendi que ele realmente já sabia do que havia ocorrido. Uma das milhares de mensagens perguntava onde eu estava e como resposta digitei: Que tal um cachorro-quente?

Ele entenderia.

Peguei um táxi para o Central Park e ao chegar lá escutei um trovão. Iria mesmo chover, mas não estava ligando a mínima para a minha chapinha. Quem precisa de cabelo liso quando tem a sensação de liberdade?

Bem, esquece, eu preciso.

Mas que se danasse a chapinha. Que se danasse tudo ao meu redor. Que a chuva viesse, que o meu cabelo enrolasse, que eu adotasse uma criança, que eu morresse de amor pelo Christopher, que eu tivesse um novo emprego, que eu tivesse uma nova casa, que eu tivesse uma nova vida. Tudo parecia tão... Perfeito!

Hoje quem paga o cachorro-quente é você! – Christopher apareceu atrás de mim e piscou um olho assim que virei para encará-lo.
— Ora, ora, ora, olha só quem está aqui. O homem que pediu o telefone da minha cachorrinha! – nós sorrimos cúmplices um para o outro e senti alguns pingos de água caindo em meu rosto – O destino brincou mesmo com a gente, não foi?
Amei essa brincadeira – ele sorriu me olhando nos olhos.
— E eu amo você – respondi simplesmente.

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Volto com mais logo mais rs

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