River Café

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Atrasada.

É isso que eu estou.

Uns quarenta minutos atrasada. Simplesmente.

Meu tio vai me matar. AH VAI...

— DESCULPA TITIO! – eu me joguei nos braços dele em seguida – Desculpa, desculpa e desculpa! – ele me olhou tipo: "é bom você se explicar, mocinha!" e me mandou sentar.

Meu tio é um homem muito doce e adorável, mas ele está acostumado em dar ordens e a discordar, e odeia quando não fazemos o que ele manda. Ele me mandou chegar as cinco e agora são exatamente cinco e quarenta e três, obrigada.

Eu me sentei e dei um sorriso sem graça, procurando palavras pra começar um assunto, mas graças aos céus o Ben chegou bem na hora.

— DULCINHA! – ele gritou animado e me abraçou.

O Ben é o namorado/marido do meu tio há uns dez anos. Meu tio é um advogado famoso e o Ben é um consultor de moda.

Não, até hoje não sei como eles conseguem manter um relacionamento tão sério (firme&forte) sendo que eles não têm nada em comum.

A não ser o ótimo gosto pra sapatos.

— BENITO! – eu retribui o abraço animada e depois que ele me disse que meu vestido ficava super bem em mim, nós nos sentamos e olhamos para um tio John nada contente.

— Que fique claro que é bom você ter uma ótima razão para esse atraso, ok?

— Ai, amorzinho! Deixa desses ataques de macho de lado! – depois do comentário do Ben, eu comecei a gargalhar. Quando ele dá esses ataques é tão tudo! Ele é a versão mais velha do Christian e...

AH, EU PRECISO FALAR COM O CHRISTIAN SOBRE O MEU CABELO URGENTE!

4) Falar com o Christian (URGENTÍSSIMO!!)

Ai Deus, quantas coisas eu tenho que fazer.

— Mas então Dulce, porque esse atraso todo?

— Porque o homem mais perfeito do mundo me pagou um cachorro-quente e...

— Homem perfeito? – tio John falou animado.

— Cachorro-quente? – Bem falou apavorado. – Você está louca Dulcinha? Sabe quantas calorias tem um desse? – AH, infelizmente eu sei.

5) IR À ACADEMIA!

— Depois nós discutimos sobre isso. Agora nos conte tudo sobre o seu homem perfeito. Tim-tim por tim-tim.

O encontro com os meus tios, assim digamos, foi agradável em parte. Para completar os carboidratos do dia, tomei um Milk-shake gigantesco e ainda petisquei algumas coisinhas do prato do meu tio. Ben me deu uma baita bronca por não ter guardado o telefone do meu homem do cachorro-quente e disse que eu era a única cabeça oca para não perceber que em uma cidade com 8,3 milhões de pessoas eu talvez nunca mais encontrasse com ele.

É, 8,3 milhões de habitantes.

Eu sou uma idiota mesmo.

Além de tudo, quando voltei para casa (já super atrasada outra vez), liguei para contar as novidades para M. e A., falando que tinha saído para tomar café com os meus tios e implorando para que elas não fizessem alarde, como se algo estivesse pegando fogo, quando contei para elas sobre o HCQ (homem do cachorro-quente abreviado, obrigada!), mas onde eu estava com a cabeça de acreditar em milagres?

A probabilidade de me encontrar com o HCQ era a mesma de Ana e Maite não gritarem como duas hienas durante o parto, ou seja, nula.

"COMO ASSIM VOCÊ NÃO PEGOU O TELEFONE DELE? VOCÊ TEM BATEU COM A CABEÇA OU COISA DO TIPO?", foi o comentário mais educado que recebi vindo delas.

Pelo menos eu tive a sorte de contar para elas por telefone, e não pessoalmente, porque senão acredito que eu seria nocauteada, como se fosse uma lutadora de luta livre ou coisa do tipo. Anahí adora falar várias vezes sobre como está difícil de encontrar um homem educado e não-idiota nos dias de hoje e, quando se encontra um (do tipo que paga um cachorro-quente para você), é para agarrá-lo e prendê-lo na coleira antes que ele pense em escapar, ou que alguma vadia tentasse roubá-lo de você. Maite, muito bem casada pelo que ela diz, apenas falava que nós duas daqui a pouco estaríamos velhas e caquéticas se não parássemos de procurar um homem perfeito e etc, etc, etc e tal.

Na verdade, eu não procurava um homem perfeito.

Na verdade mesmo, eu não estava procurando um homem.

Oi, sou lésbica.

Haha, brincadeira.

Eu só não estava querendo perder o meu tempo construindo um relacionamento ao qual eu me sacrificaria igual a uma louca para depois descobrir que o meu noivo estava me traindo com uma – ou se não, várias – loiras de farmácia da esquina com QI abaixo de 5. Era pedir muito?

Louvei a Deus que quando fomos jantar, ambas estavam preocupadas com os próprios umbigos (no caso, vestidos e cabelos) para se importante com o meu HCQ, e então nem tocaram no assunto. Quando paramos na Seven, decidi que me transformaria em uma bon-vivant naquela noite, ou, em outras palavras, viraria uma porra louca. Alguns copos de White Rose me fariam muito bem.

À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora