3. A Capital

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Nos enormes portões do Palácio na parte mais alta da cidade, a Comitiva Real foi recebida por membros da nobreza em seus melhores trajes, já ansiosos por dar as boas vindas ao Príncipe Herdeiro de volta à sua casa. Criados passaram pelos Guardas do Castelo para buscar os pertences nos veículos de carga enquanto descia logo depois do Príncipe e permaneci em silêncio, escutando o casal de Lordes que conversava com o Stefan Craworth. Ouvindo-os naquele momento, entendi a parte da bajulação, mas se era por obrigação, interesse ou real vontade de trata-lo daquela forma, eu não saberia dizer.

Stefan logo desapareceu por grandes portas douradas com sistema de detecção de movimento logo na entrada do castelo, e não tem tempo de falar comigo outra vez antes de uma criada em um uniforme branco me chamar para acompanhá-la por um corredor na direção oposta ao Príncipe, embora a beleza do lugar por onde passávamos me fizesse pensar que aquela parte do castelo havia sido projetada pensando nas pessoas de classes altas que estavam de passagem pelo Castelo, e não para os criados. Não sabia porque me tratavam com tanta naturalidade, mas talvez aquele Porta-Voz da Coroa tivesse avisado os funcionários do Castelo sobre mim em algum momento enquanto mexia no aparelho em suas mãos durante quase toda a viagem. Supus que, com tanta tecnologia, as notícias se espalhassem rápido, ainda mais porque estávamos na estrada há tanto tempo e muitas pessoas houvessem nos visto nos últimos meses.

Quando a informação sobre minha contratação chegou aos ouvidos da Rainha, fui informada que iriam me deixar ficar em um quarto específico perto de realeza, onde soube que o atual Guardião Real também tinha seu lugar. O quarto que seria meu ainda estava sendo organizado, mas a criada arrumou um espaço para que eu pudesse trocar de roupa, e quando já estava com a calça justa e a camiseta que a mulher havia me arrumado, me fez sentar diante de uma penteadeira e arrumou meus cabelos, reclamando que apesar de ter belos cabelos pretos, precisava passar mais tempo escovando-os. Não deixei de lembrá-la de que não tive muito tempo para me preocupar com os nós no meu cabelo com tantos lugares que precisei ir durante a viagem da Comitiva Real. No entanto, imaginei que, como nova Guardiã do Príncipe Herdeiro, eu deveria estar sempre próxima dele, e talvez isso também significasse que eu devia me manter arrumada, para talvez me parecer um pouco com alguém que nasceu em abundância como as pessoas dessa cidade. Só não entendia porque devia ficar tão perto do Príncipe, se nem havia sido nomeada ainda.

Tudo bem que o Guardião Real do atual Rei precisava ficar entre a realeza para garantir que pudesse ficar de olho neles dia e noite, e para que, se algo acontecesse aos nobres, o Guardião do Rei estivesse perto o bastante para conseguir alcançar quem quer que quisesse fazer algo contra a realeza, mas comigo a história devia ser diferente. Mesmo assim, fui informada que, até que meu treinamento estivesse concluído, deveria me reportar ao Guardião Real como se ele fosse meu superior e instrutor. Talvez em algum momento do futuro, quando o Príncipe Herdeiro se tornasse Rei e tivesse seus próprios filhos, eu também precisaria ensinar o novo Guardião Real que viria depois de mim. Não me via como uma boa professora, mas isso era algo a se pensar bem no futuro, se tudo desse certo.

Sem muito tempo para me arrumar graças a confusão de criados andando de um lado ao outro com malas e produtos de limpeza, vi o castelo se transformando em algo turbulento com a volta de seu Príncipe enquanto não tinha muito o que fazer. Duas criadas chegaram ao meu quarto, interrompendo a mulher que se ocupava trançando meu cabelo e me avisaram que foram designadas como minhas ajudantes dali em diante. Janna e Beatriz, era como se chamavam. Provavelmente foram contratadas para servir diretamente à Guarda do Castelo, porque não se surpreenderam com a maneira que eu observava a cidade, estupefata por tanta beleza. Aparentemente, eu estava certa quanto à necessidade de manter a classe trabalhando no Castelo, porque aquelas duas pareciam muito mais membros da nobreza do que qualquer pessoa que eu conhecia, além de Stefan, é claro. Nunca havia visto empregadas tão arrumadas e simpáticas quanto elas. Os Guardas dessa cidade eram tão plebeus quanto eu, e provavelmente aqueles que vieram de fora da cidade, deviam pensar a mesma coisa que eu assim que chegaram. Minha convivência com os Guardas que estavam na Comitiva Real me ensinou coisas importantes sobre aqueles homens. A Guarda do Castelo conhecia uma realidade diferente daquelas criadas, isso era muito nítido, mesmo que eu tivesse recém chegado ali. O que mais me surpreendia, no entanto, era que pudesse existir tanta vida naquela cidade quando todo o resto do mundo estava coberto de neve.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora