40. A Guerra

1.5K 166 49
                                    

O som de uma goteira no teto era a única coisa constante ali, como que marcando o tempo. Sequer sabia com certeza há quanto tempo estava naquela escuridão, a única maneira de contar o tempo era nas vezes que os guardas ligavam as luzes para nos trazer as refeições, e só então tinha alguns segundos para enxergar, mas eles nunca voltavam quando não havia comida.

Os dias pareciam passar mais devagar na escuridão das celas, mas pelo menos não estava completamente sozinha. Provavelmente planejavam encher aquelas masmorras, a julgar por como tinham sido organizadas recentemente, apesar de cada cela ter camas desconfortáveis para pelo menos 3 pessoas em cada uma delas. De tanto insistir que alguém precisava cuidar dos meus ferimentos, permitiram que Stefan ficasse comigo apenas para que ele ficasse quieto. Joy e James estavam em celas vizinhas, do outro lado do corredor. Podíamos vê-los com clareza se me aproximasse das grades, mas ainda longe o suficiente para alcançá-los.

Era aqui que tinham deixado Jinkook antes do interrogatório? Não me surpreendia porque ele tinha preferido a morte. Esse lugar era tão frio e tão desagradável, escuro e apavorante. Não era lugar para um ser humano ficar. Parecia algo medieval com aquelas paredes de pedra e a falta de cuidados, como se o objetivo fosse justamente enlouquecer o prisioneiro. Não seria difícil, se não houvesse qualquer companhia ali. Pelo menos tinha Stefan comigo para verificar se minha orelha não tinha alguma infecção e para me abraçar a noite, quando o frio daquele lugar me fazia tremer debaixo das cobertas finas das camas.

Em algum momento, as luzes foram ligadas e dois guardas conduziram uma mulher em um jaleco branco até minha cela. Uma médica, pelo que tinham dito, para curar meus ferimentos. Ela havia tratado e limpado o sangue seco, então suturou o corte e usou um pequeno aparelho para acelerar a cicatrização de semanas para apenas alguns minutos. Ainda podia regenerar a parte de cima da orelha direita, que havia sido arrancada, se tivesse os recursos certos, mas só lhe tinham permitido curar o machucado, mas deixar a cicatriz. A regeneração muscular precisava mesmo de uma área saudável mesmo para funcionar, mas se um dia eu quisesse, se sobrevivesse, poderia voltar a como era antes. Ainda podia escutar tudo claramente, minha audição não tinha sido prejudicada, então não estava muito preocupada com a estética, por enquanto. De onde eu vinha, aquilo não importava. Não voltei a vê-la depois que cuidou dos ferimentos na cabeça e abdômen de James, mas vi que os guardas pareciam mais irritados do que o normal ao escolta-lá para longe das masmorras, nos deixando de novo na escuridão. Eu só torcia para que ela continuasse viva e bem, porque era a única pessoa gentil que tinha nos visto desde que tinham nos prendido ali.

Ficar sem saber o que acontecia fora dessas masmorras era enlouquecedor, mas soube que não haviam boas notícias quando, talvez dias depois do encontro com a médica, os guardas rebeldes voltam e amarram as mãos de cada um de nós e nos empurram escada acima, sem dizer uma palavra, por mais que insistíssemos no assunto. O guarda que segurava meus braços atrás do corpo rosnou e puxou as cordas no meu pulso com mais força quando subimos os andares no nível da rua e me movimentei para tentar enxergar o que estava acontecendo lá fora. Aparentemente, não tinha permissão nem para aproveitar a luz do sol depois de tanto tempo na escuridão.

É para um enorme hall nos andares mais altos do castelo que nos levam, por fim. Sabia que lugar era aquele, um ambiente onde os nobres podiam passar o tempo livre, conversando nos sofás caríssimos, bebendo e lendo sob os olhares dos guardas. Tinha o mesmo objetivo da Sala Secreta, apesar de que apenas a realeza e convidados tinham permissão de entrar lá. Esse salão, por outro lado, eu tampouco tinha acesso, devido ao meu trabalho, mas era notável no que uma sala de estar podia ser transformada. A julgar pelo mapa holográfico sobre uma das mesas e a quantidade de armas e o computador cheio de anotações num canto perto da varanda aberta, o lugar havia sido transformado em uma espécie de sala de comando, um QG, talvez.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora