12. A Bióloga e o Monstro

3.3K 413 47
                                    

De volta ao aeroporto na Capital, noto o quanto senti falta das temperaturas amenas sob a cúpula. Passei uma vida enfrentando temperaturas negativas em um lugar tão isolado quanto a Antártida, mas agora que vivia na Capital, era difícil me imaginar na mesma situação outra vez. Aqui eu não passava nenhuma necessidade, muito menos frio, e isso era muito mais do que eu já tive a minha vida inteira.

Três semanas nessa cidade e eu já era outra pessoa. Nunca imaginei que pudesse mudar tanto em tão pouco tempo, mas foi o que aconteceu.

O Capitão da Guarda que nos acompanhava se recusou a deixar alguém carregar o ovo de dragão. Levava o enorme ovo redondo em uma das mochilas vazias guardadas nos espaços para malas dentro do avião, a única coisa que o protegia de quebrar eram as roupas extras da aeromoça que nos acompanhava, enrolando a carga como faixas. Seria preciso devolver o que pegamos emprestado depois, mas Alyssa garantiu que assim o ovo estaria mais seguro dentro da mochila, por isso deixamos que o homem o carregasse como quisesse. Imagino que para ele devia ser algum tipo de desafio, mas eu não iria me opor se o capitão queria carregar todo o peso sozinho. Afinal, era problema dele a dor nas costas depois.

Voltei para o castelo junto com Stefan, Alyssa e Mason em um daqueles carros públicos voadores. Stefan ainda usava seu relógio com o aplicativo para chamar o carro alugado, e Alyssa insistiu tanto que tinha vontade de usar um deles outra vez, depois de tanto tempo na Antártida que Stefan achou melhor recusar o automóvel do Palácio. Mais discreto, com certeza. Eu a entendia, depois de tanto tempo privada de todas as regalias dessa cidade, eu também não queria me desfazer delas.

— Eu me responsabilizo com o ovo, de agora em diante.- Alyssa dizia enquanto subíamos as escadas principais do castelo. Os guardas diante dos portões mal nos olharam antes de apertarem os botões que faziam as portas se abrirem automaticamente.- Duvido que esse filhote tenha sido intencional, mas talvez nos ajude a descobrir um pouco mais sobre quem quer que tenha criado aquele monstro.

— Acha que pode descobrir de onde ele veio?- Stefan questiona.

— Talvez.- A bióloga responde.- É difícil dizer.

— Eu vou pedir que o capitão leve o ovo para os laboratórios do castelo.- Stefan decide.- Imagino que não se importe em trabalhar aqui depois de tudo, mas é que os melhores laboratórios de pesquisa dessa cidade ficam nos andares subterrâneos deste castelo.

— Sair de uma Base de Pesquisa Polar direto para o Castelo de nossa monarquia é um grande salto para qualquer carreira, alteza.- Mason comenta.- Se me deixar ficar aqui, juro que também posso ser útil.

Stefan torce os cantos da boca, incomodado com a bajulação, mas tenta esconder a reação daquelas pessoas que ainda não conhece bem. Infelizmente para ele, já aprendi a reconhecer cada reação do jovem príncipe. Meu instinto de caçadora me mantém alerta a qualquer mudança, incluindo o humor do herdeiro ao trono.

— Claro.- Stefan diz por fim.- Fale com um dos nossos embaixadores de visita nos escritórios do 3º andar, com certeza vão arranjar algo para você.

— Obrigado, Alteza.

— Se não se importa, gostaria de trocar de roupa e tomar um banho antes de ir aos laboratórios - Alyssa interrompe.- Estou cansada e faz tempo que eu vejo um bom chuveiro com água quente.

— Fique a vontade.- Diz Stefan.- Os pesquisadores dos laboratórios de Zoologia ficam no 2º andar subterrâneo. Basta pegar o elevador no fim dos corredores do lado esquerdo do castelo. Eles irão adorar te mostrar tudo lá embaixo.

— Agradeço.- A bióloga sorri.- Vai ser ótimo voltar a interagir com outras pessoas com a mesma formação que a minha.

Um criado vestindo o azul e branco destinado aos funcionários desse castelo corre até nós, mudas de roupas limpas ocupando seus braços.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora