37. A Invasão

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O tiro causa um enorme estrondo na sala que nem o silenciador e os abafadores de ouvido acolchoados são capazes de silenciar completamente. Mais de três mil anos e ainda não foram capazes de inventar uma arma de fogo completamente silenciosa. Desde que os governos decidiram que as armas elétricas eram mais civilizadas, os malditos aperfeiçoamentos de armas de fogo pararam, mas por que, exatamente, eu era obrigada a treinar com uma dessas, se nem era mais o principal armamento usado pelos exércitos e policiais há pelo menos 300 anos.

Meus dedos estavam quentes e doloridos de tanto segurar o revólver para evitar que voasse no meu rosto como na primeira vez que tentei atirar. Puxo os abafadores de cima das minhas orelhas, largando a arma na mesa e olhando com raiva para o treinador.

— Quando vamos usar as armas certas?- Deve ser a trigésima vez que pergunto isso essa semana.- Já estou atirando bem com essas há pelo menos 15 dias! Até uma espada seria mais útil.

Eu odiava espadas, mas faria de tudo para que me deixassem ter acesso ao meu arco e flecha, ou pelo menos às armas elétricas que os Lâminas usavam. Estas eram inúteis. Comunico isso ao instrutor mais uma vez.

— O Rei foi morto com uma arma de fogo.- O insuportável Ethan me lembra. Por que professores com armas tinham que ser tão desagradáveis?- Se for desarmada em algum momento durante a missão, é bom que saiba combater com as armas de nossos inimigos. Se tiver que matar Troyan com uma dessas, é bom que não quebre o nariz quando resolver atirar.

— Isso não vai acontecer.- De novo, completo mentalmente. Era uma sorte que a medicina houvesse avançado o bastante para curar completamente os ossos e músculos do meu nariz em poucos minutos. Sem hematomas, era o que eu mais agradecia.- Vamos ser otimistas e pensar que se tudo der errado, posso ter qualquer outra coisa para atirar em Troyan. Até um pedaço de madeira seria uma boa estaca.

Sorrio ao pensar na possibilidade, embora outras preocupações também me tomem a cabeça. Já tinha brigado com Stefan pelo menos três vezes essas últimas semanas sobre sua insistência em matar Troyan e seu séquito ele mesmo. Queria vingança por seu pai, mas de jeito nenhum alguém além dele mesmo era a favor disso. Já tinha tirado muitas vidas, podia lidar com Troyan também. Não permitiria que Stefan soubesse como era matar. Minha primeira caça me fez chorar por semanas, pensando no pobre animal que matei pra me manter viva por mais algumas horas. Era algo que nunca se esquecia.

— Não somos selvagens! Você não está mais na floresta.- Ethan insistiu.- Continue praticando.

— Por favor, me deixe usar as armas elétricas!- Junto minhas mãos, praticamente implorando.- Me devolva meu arco.

— Continue praticando.- Ele repete dando ênfase a cada sílaba.

Babaca arrogante.- Resmungo, mas seguro a arma com apenas uma das mãos e aperto o gatilho, ainda olhando fixamente para o instrutor.

Vejo o novo furo no meio do alvo e sorrio, mas Ethan não parecia impressionado. Curvo a cabeça, desafiando-o a contestar minha mira. Antes que diga qualquer coisa, no entanto, Joy aparece na porta, chamando-me com as mãos. Finalmente, penso. Largo o revólver na mesa com mais alegria do que devia demonstrar, tiro as luvas e os silenciadores e os coloco ao lado da arma antes de seguir a jovem Lâmina. Antes de sair, porém, dou um último sorriso a Ethan e lhe faço uma continência. Sorrio mais ainda com o fogo nos seus olhos, mas ele não se move nem fala nada. Um perfeito soldado controlado, era isso que Ethan era. Não muito diferente de James, pelo que andava percebendo.

— Henry quer repassar o plano uma última vez.- Joy explica no caminho.- Vamos agir ao amanhecer.

— Por que não essa noite?

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora