18. Interrogatório

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Diferente dos veículos de aluguel que eu havia andado até agora, o carro particular de Stefan tinha aparelhos que eu não conhecia. No lugar das turbinas que elevavam os carros públicos, o esportivo cinza chumbo de Stefan tinha rodas que desciam em substituição do motor de propulsão à jato, permitindo que a viagem possa ser tanto por terra quanto no céu. Uma direção redonda despontava do display luminoso do carro do lado do motorista, e o Príncipe apertou em alguns botões de marcha ao ligar os motores. Enquanto manobrava o carro pelo estacionamento fechado, Stefan me instruiu como ligar o ar condicionado e selecionar o rádio ou a internet para escutarmos música. Me mostrou o painel que indicava quilometragem e velocidade e apertou alguns botões que fizeram o carro acelerar no longo corredor à frente. Conforme ganhamos velocidade, portões se abrem no teto, e na última hora, Stefan liga o sistema de voo, o esportivo dá um solavanco, me prendendo ao banco de carona ao lado do Príncipe antes de decolar, e atravessamos os portões no alto do estacionamento já completamente conectados ao sistema aéreo.

— Pode abrir as janelas, por favor?- Pede Sarah.

Já ia perguntar como ela queria abrir as janelas do esportivo naquela altitude em que estávamos, mas Stefan toca algumas vezes no display na frente do carro, e a lataria escura passa a refletir a rua, deixando-nos apenas com o chão do carro como algo firme, e como se estivéssemos em um tapete de metal com um painel à frente, a cidade iluminada se estende ao nosso redor em 360° graus. A sensação era como estar voando, principalmente com o ar condicionado ligado bagunçando meu cabelo mais do que já estava. Para qualquer um que tivesse medo de altura, a cena devia ser desesperadora, para mim, era simplesmente incrível.

Stefan dirige pela cidade sem nem perder tempo olhando as ruas lá embaixo. Típico de alguém que já viu muito da mesma cena, e agora já não vê mais a beleza de antes, transformando a situação em algo banal. Parecia ser assim para Sarah também, recostada no banco de trás do carro, olhando a cidade iluminada sem esboçar reação. Eu não entendia como podiam ser tão indiferentes quando eu olhava maravilhada por tudo ali. Será que um dia serei como eles? Olharei para o mundo com a mesma indiferença, sem notar a beleza da tecnologia?

De volta ao castelo, o Príncipe nem precisa tocar em botão algum para que a barreira invisível se abra para ele, e Stefan começa a pousar o carro enquanto se aproxima de um alçapão aberto no cimento do pátio, luz amarela vazando para a rua. Lá embaixo, mais um estacionamento longo repleto de carros e máquinas voadoras de todos os tipos estavam guardadas em uma ordem que não podia entender. As rodas do esportivo de Stefan descem quando tocamos o chão, e ele estaciona o carro em uma vaga nos fundos, uma placa colada na parede indicava que aquele espaço era reservado ao Príncipe Herdeiro. Ele entrega as chaves do carro à um funcionário quando as portas de um elevador se abrem em um hall montado ali embaixo.

Uma das criadas espera por Sarah quando as portas se abrem no primeiro andar do castelo, já do lado de dentro. Ela entrega à mulher um casaco e um copo de água gelada e as duas partem para a ala dos hóspedes, um corredor de salas de estar e quartos bonitos que eu ainda não conhecia, porque nunca fui tratada como uma visita, e sim como moradora. Sem escolha, sigo Stefan até o corredor de seu quarto, e quando já estamos sozinhos em nosso andar, me sinto aliviada tirando as sapatilhas apertadas dos pés, jogando-as de qualquer jeito diante da porta do meu quarto. Antes que eu gire a maçaneta, Stefan chama por mim na frente do seu.

— Durma comigo essa noite.- O Príncipe me pede. Hesito, sem saber o que ele queria dizer com dormir no quarto dele. Não sei se hoje é uma boa noite para qualquer coisa, e eu estou tão cansada que só quero cair na minha cama e dormir.- Por favor, só quero companhia. Quando me arrumei essa tarde, não achei que iria estar próximo de perder alguém com quem me importo. Não vou conseguir dormir direito essa noite, e achei que pudesse me fazer companhia.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora