A Guardiã da Neve

39. Sala dos Tronos

Ao acordar, percebo que estava amarrada. Minha visão permanece turva por alguns instantes enquanto o efeito da droga que me fez apagar ainda deixava meu corpo.

Tento mover minhas mãos, mas elas estavam bem presas na coluna atrás de mim, os dedos roçando o chão de mármore. Aquele era o salão dos tronos, reconheci, embora qualquer bandeira com o brasão dos Craworth estivesse destruída e jogada aos cantos. E lá no alto, diante dos tronos, estava Troyan. Vestia a túnica vermelha como os japoneses e girava preguiçosamente uma arma elétrica nas mãos, como se não prestasse atenção no que acontecia diante dela. Stefan estava ajoelhado diante dos degraus, com dois soldados com aparência de ocidentais mantendo-o preso entre eles, e eu sabia que o Herdeiro ao trono nunca se soltaria deles, por mais que tentasse. Stefan era forte, atlético até, mas não podia vencer dois soldados treinados. Era inútil tentar, queria dizer, mas duvidava que me ouviria, considerando o quanto estava furioso.

— Evelyne!- Senti o joelho de Joy tocar minha coxa direita. Como eu, ela também estava amarrada, mas parecia estar acordada há bem mais tempo do que eu. É claro, tinha sido a primeira a desmaiar.- Você está bem? Já estava ficando preocupada.

Assenti, ainda em silêncio. Entendia que tinham nos levado até ali por alguma razão, mas quanto tempo tinha ficado inconsciente? Onde estavam as tropas dos Lâminas Prateadas se Joy tinha alcançado a alavanca?

— O que eu perdi?- É a primeira coisa que digo, embora sentisse minha garganta seca como se não bebesse nada há dias.

Stefan continuava xingando Troyan, fazendo cada vez mais força contra os homens que o seguravam. Pare, queria dizer, pare de se esforçar por nada.

— Não perdeu muito, na verdade.- Joy explica, encostando a cabeça na pilastra onde nós duas estávamos amarradas, olhando para mim com atenção por cima do ombro.- Troyan está provocando, tem certeza de que já venceu. Diz que ninguém virá nos ajudar.

— E os Lâminas?

Joy deu de ombros.

— Ela não mencionou nada, mas não sei se isso é bom ou ruim.

Assenti.

— Então estamos todos mortos.

Ela não responde, virando o rosto para o outro lado. Não havia nada para ver na parede vazia, só não queria mais olhar no meu rosto. Talvez estivesse com as mesmas dúvidas que eu, então. Mais uma vez, estava por conta própria.

Desviei minha atenção para o que acontecia no meio do salão quando ouvi um estalo e Stefan gritou, contorcendo o rosto. Um dos soldados segurava seu braço atrás do corpo e parecia doer. Só torcia para que não estivesse quebrado, seria péssimo se tivesse mais isso para nos complicar.

— Stefan, pare!- Exclamei alto o suficiente para que ele me ouvisse.

Infelizmente, tinha chamado atenção de Troyan também.

— Finalmente acordou nossa rebeldezinha!- Assobiou, descendo as escadas e ignorando completamente o recente Rei.- Fiquei me perguntando quando tempo aguentaria aquele gás. Sabe, aquilo foi feito para anestesiar as pessoas em procedimentos cirúrgicos. O que você tem que resistiu por tanto tempo?

— Cresci na selva. Isso muda as pessoas.- Dei de ombros, mantendo a expressão neutra.- Dizem que também me torna mais resistente do que todos vocês riquinhos da Capital, ou acha que não sei que você era a criada da Chelsea?

Troyan bufou, contendo uma risada. Assentiu brevemente, como se não acreditasse no que tinha dito.

— Se acha espertinha, mas não só os que vivem lá fora que sofrem, essa realeza também não liga para aqueles que vivem fora desse castelo, apesar de a cidade ainda ser a mesma.- Ela olhou Stefan com desprezo, mas ele se mantinha com a cabeça em pé, enfrentando-a sem qualquer medo. Aquilo não o salvaria naquele momento, não mesmo. Troyan logo voltou a me olhar, medindo-me de cima a baixo.- Mas parece que foi fácil esquecer do seu passado depois que abriu as pernas para esse principezinho...