45. O Casamento

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A viagem ao Japão durou três dias. Na volta para casa, percebi que a cúpula já havia sido reconstruída. A cidade, no entanto, estava cheia de máquinas de construção e tijolos aparentes. Era fácil caminhar na rua e tropeçar em destroços, mas nas semanas seguintes, as coisas começaram a voltar ao normal. Andaimes ainda estariam espalhados nos prédios mais altos talvez pelos próximos anos, porém não demorou para que me acostumasse com a presença deles.

Duas semanas depois de nossa volta, Stefan anunciou ao Conselho que pretendia abdicar do trono em breve. É claro que a notícia não foi bem recebida, mas ele estava decidido, e nada o faria mudar de ideia.

Enquanto Stefan passava seus dias na companhia da irmã, ensinando-lhe como governar, da forma que ele mesmo havia aprendido na idade dela, eu me juntei à James e Alyssa.

Depois do funeral feito à Mason e Gavin, embora o corpo do antigo Guardião nunca tenha sido recuperado, via que os dois se tornavam cada vez mais próximos. Haviam sentado lado a lado no cemitério atrás do castelo enquanto um cerimonialista descia os caixões e dizia palavras bonitas, e desde então, percebi que não seria má ideia dar-lhes um objetivo nessa fase ruim. Aleguei que o Rei Stefan queria encontrar aquele dragão liberto das correntes, e mesmo sendo mentira, serviu para que ambos juntassem forças para rastrear aquele animal. Era interesse meu procurar por ele, de qualquer forma. Algo me dizia que aquele dragão era o pai de Ladon, e se havia sido domado por tanto tempo, talvez não estivesse tão longe da Capital. No entanto, não estava sendo uma tarefa fácil.

Alyssa e eu saíamos da Capital quase todas as manhãs. Enquanto eu tentava procurar por possíveis rastros, Alyssa afundava os pés na neve, os olhos fixos na tela de um modelo bastante recente de radar. Ela estava certa de que nós encontraríamos o dragão através daquele aparelho, mas ainda não achava que fosse necessário um GPS para encontrar um animal com 15m de altura. Era do tamanho de um prédio, afinal. Montava Ladon às vezes, e voava com o dragão quilômetros de distância em todas as direções, sempre olhando para a neve que cobria todo o país atrás de qualquer pista. Meu palpite, claro, me fazia procurar nas florestas e em direção dos Grandes Lagos e do mar, onde um dragão imenso provavelmente encontraria caça, mas não havia sequer um sinal dele em todas as buscas que fiz.

Até que era hora de sair da cidade outra vez.

Julho chegou mais rápido do que eu desejava, e me vi envolta em diferentes tecidos, com assistentes de costureiras espetando minha pele enquanto precisava ficar imóvel em cima de um púlpito. Para todos, eu era não só a madrinha do casamento do irmão mais velho de Stefan, mas também a futura rainha, e eu sabia que não poderia fugir de todos aqueles encontros. Não havia Vívian para fazer um vestido a seu próprio gosto e me entregar no dia da festa como havia sido quase um ano atrás. Isso, eu sabia, era meu passado, quando meu título não era tão alto. Durante quase o mês inteiro, fui levada à sessões quase diárias com costureiras e estilistas medindo cada parte do meu corpo e me fazendo experimentar diferentes tipos de vestidos com tecidos e modelos diferentes. Devo ter experimentado pelo menos quatro opções de vestido ideal, mas nunca estava perfeito para uma rainha, embora qualquer um deles estivesse ótimo para mim.

No meio de tantos preparativos, era difícil até mesmo encontrar um tempo só para mim e até parecia que aquele era o meu casamento. Stefan, no entanto, garantiu que se fosse mesmo nosso casamento, seria muito pior. Eu não discutiria sobre o assunto, principalmente porque naquele momento estávamos finalmente tendo tempo para sair e aproveitávamos a tarde em uma cafeteria recém reaberta.

— E como andam as buscas pelo dragão?- Stefan havia perguntado então, disposto a mudar de assunto quando me viu inquieta.

— Péssimas.- Suspirei, derrotada.- Parece que ele não quer ser encontrado.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora