17. Repercussões Negativas

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Sigo o guarda que me esperava com uma lanterna do lado de fora do galpão de volta para dentro do palácio pelo mesmo caminho que fiz na correria de mais cedo.

Um dos homens em frente aos portões do palácio chama um daqueles carros voadores de aluguel para mim, e vejo que uma barreira que até então permanecia invisível se abre em pixels dourados apenas o bastante para deixar o carro passar. Ele estaciona bem na minha frente, e as portas do carro se abrem para cima. Entro sem nem pensar muito a respeito.

Já havia andado num desses antes, mas a viagem ainda era surreal para mim. A barreira brilha e causa um leve zumbido na lataria do carro quando passamos por ela, e vejo o exato momento em que ela volta a se fechar às minhas costas. A bainha da espada nova que me deram sacode na minha cintura quando me movo para o banco do motorista. Apenas um display luminoso cheio de comandos brilhava quando passei os dedos sobre eles. Ainda me lembrava de alguns botões que Stefan usou da última vez, mas eu queria testar eu mesma. Encontro um aplicativo de vídeos, um site antigo, aparentemente, e escolho uma das músicas dos links classificados como "em alta" na página principal, interessada em ouvir as músicas do século XXI. Música agitada e eletrônica preenche o automóvel. Deixo a janela do vídeo de lado e subo a seta maior no canto do display o máximo que posso. O carro sobe vários metros no ar antes de soltar a seta, mal percebendo o movimento. Deixo de lado os comandos no painel, e me certifico que o mapa ainda seguia a rota correta até o hospital. Não sabia onde ele ficava, mas sabia ampliar e mexer na tela o bastante para saber identificar os pontos A e B do GPS. Sim, o ponto final continuava marcado como Hospital Metropolitano Real. É claro que era esse o nome, sempre tanta pompa quando vinha da nobreza.

Assisto a cidade lá embaixo pelas janelas amplas do carro. Havia tantas luzes nas ruas, prédios tão altos que eu mal podia ver o último andar mesmo na altitude em que estava. As pessoas eram pontinhos coloridos circulando como uma colônia de formigas. Tanta gente, tanta luz, tanta vida.

Hologramas anunciavam todo tipo de produto conforme passava entre os prédios empresariais, e as janelas acessas dos apartamentos ocupados passavam como um borrão, silhuetas quase indistinguíveis vivendo suas vidas e se arrumando para dormir depois de um longo dia de trabalho. Nem deviam imaginar o que acabava de acontecer no Palácio do centro da cidade deles. Tão alienados! E pensar que um dia já fui como eles.

O carro pousa diante do hospital, e um clique abre as portas automaticamente, encerrando a música que escutava e debitando o valor do trajeto na conta de alguém. Qualquer que tenha sido o preço, vou pedir que Stefan peça para o guarda ser ressarcido mais tarde. Mostro meu broche de identificação aos guardas da Corte que faziam uma ronda do lado de fora do hospital, e eles me deixam passar sem hesitar.

O salão da recepção era deslumbrante. Todo em tons de branco e bege, com poltronas modernas de couro branco ocupados por algumas pessoas esperando sua vez, entretidos em aparelhos eletrônicos de todos os tipos. A mesa da recepção era de pedras brancas polidas e a mulher diante do computador quase ficava escondida atrás do monitor. O cheiro de café me chama atenção onde um homem com algum holograma tapando um dos seus olhos observava uma máquina silenciosa servindo café forte, aparentemente, de graça para os clientes na recepção, conforme informava uma tela acima da máquina prateada.

— Olá, eu vim para ver os Cameron.- Tento chamar a atenção da atendente desviando meu olhar da cafeteira, mesmo com desejo de servir um café com leite para mim, mesmo que a situação não me favorecesse para bebidas de graça.- Sou a Condessa Jones. Imagino que tenham me escalado assim.

A mulher ainda olhava para o monitor, alheia à minha chegada.

— Olá!- Alongo o som do "a" quando estralo meus dedos diante do rosto da mulher e ela enfim tira os mínimos fones de suas orelhas.- Não viu que estou falando com você? Vim ver os Cameron.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora