4. Novas Regras

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Assim que amanhece, já estou de pé. Beatriz leva meu café da manhã no quarto, e logo já estou vestida com uma roupa de treino, pronta para começar as aulas do futuro Rei.

Tenho permissão de entrar no quarto de Stefan assim que me apresento ao Guarda em sua porta. Ele já devia ter sido avisado sobre minha presença, e não hesita em me dar espaço para entrar no quarto do Herdeiro ao trono. O garoto dormia profundamente quando entrei, e talvez por meus passos silenciosos, ele nem sequer se mexeu na cama. Ou o Príncipe tinha um sono muito pesado, ou eu não tinha feito barulho suficiente com a porta.

Meu quarto era grande e luxuoso, mas nem chegava perto do dele. Por estarmos na mesma ala, não achei que a diferença era tanta, mas era óbvio que estava muito enganada. O quarto de Stefan Craworth tinha pelo menos o dobro do tamanho do meu. Uma enorme televisão fina como um telão ocupava a parede em frente à cama alta onde o Príncipe descansava. Havia uma porta, provavelmente um banheiro, no pequeno espaço que a televisão não ocupava. A parede que dava para fora do palácio era inteiramente de vidro, embora uma persiana de metal estivesse fechada no teto. Um lindo lustre de cristal transparente descia do teto, bem no meio do cômodo e uma mesa de madeira com tampo de vidro preto irradiava a luz do sol perto da janela, com duas cadeiras de estofado azul como as da sala do trono. Também vi uma pequena geladeira e uma área de bar com prateleiras de bebidas e potes de doces, além de uma estante cheia de todo o tipo de livro, protegidos por um sistema à vácuo, o que só podia significar que aqueles eram uns dos poucos exemplares da literatura pré Era Glacial que haviam restado.

Faço uma anotação mental para arranjar uma oportunidade para analisá-los depois. Apesar do Príncipe não ter calado a boca durante nossas semanas de viagem, tinha muita coisa que ele não tinha me contado a seu respeito, a começar pelos livros, que deviam valer uma fortuna hoje em dia. Era uma pena que eu não tivesse tempo de olhar aquela estante ou abrir a geladeira, mas eu tinha trabalho a fazer. Se eu teria que ensiná-lo sobre a vida fora do castelo, era melhor que as regalias acabassem o quanto antes.

Voltei ao corredor, e deixei claro ao guarda que não deixasse que qualquer criado com comida entrasse, nem que alguém além de mim devia acordar o Príncipe. De agora em diante, ele teria um despertador. Depois de uma discussão entre nós, o homem finalmente decidiu acatar as minhas ordens, e saiu de seu posto para dar o recado e fazer algum funcionário encontrar um despertador.

Fechei a porta com mais força dessa vez, mas o Príncipe continuava dormindo. Alcancei um dos travesseiros extra de cima da cama e decidi fazer o mesmo que meu irmão fazia comigo quando era mais nova. Lancei o travesseiro com força sobre a cabeça de Stefan, fazendo-o acordar imediatamente com o susto.

— Acorda para a vida, alteza.- Exclamo antes que ele abra a boca.- Seu pai me mandou ensiná-lo sobre a vida que nunca teve. A partir de hoje, acabaram seus privilégios, e eu já deixei isso bem claro para quem importava. 

— Do que você está falando?- ele grita, já sentado na cama.- É a segunda vez que me bate e nem foi algo que eu tenha merecido.

— Acostume-se.- Digo.- Anda, levanta!

— Por que?

— A primeira tarefa que o Rei me deu foi te ensinar a atirar com o arco e flecha.- Explico.- Temos a área de treinamento livre até as 10 horas da manhã, e aposto que você sequer sabe como segurar o arco do jeito certo.

— Pensa que eu não sei me defender?- Ele parecia indignado. Apenas nego com a cabeça. Enquanto Stefan segurava um celular em suas mãos, ele nem prestava atenção por onde andava, e isso eu tinha como provar.- Isso nem são horas de algum ser humano estar acordado, mau dá pra ver o sol lá fora!

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora