25. Em Chamas

2.3K 281 20
                                    

Mal tinha me deitado aquela noite quando ouvi batidas na porta. Praguejei baixinho, tentando ignorar o som. Talvez se eu fingisse que estava dormindo, a pessoa fosse embora. O que quer que estivesse acontecendo, com certeza podia esperar até amanhã. 

Havia passado as últimas horas no quarto de Stefan, mas achei melhor voltar ao meu quando o Príncipe caiu no sono. Já estávamos juntos há algumas semanas e ainda não tínhamos avançado a última etapa. Sabia que Stefan queria, ele tentava ir mais longe sempre que estávamos sozinhos em seu quarto, mas eu sempre o impedia, e tinha medo de que um dia ele fosse se cansar da rejeição. A culpa não era dele, na verdade, eu também queria, só que tinha certeza de que estava me apaixonando, e talvez isso fosse a única coisa que restava para ser tarde demais, e eu não queria acabar magoada caso algo desse errado. Não podia deixar ninguém descobrir o que eu tinha com o Príncipe, e talvez estabelecer esses limites me ajudasse a me sentir no controle desse relacionamento. Eu era uma idiota, eu sabia, gostava tanto de Stefan e ainda deitava na minha cama à noite, pensando em todas as vezes que eu tinha receio de que alguém pudesse ter nos visto juntos.

As batidas na minha porta voltaram, dessa vez mais determinadas. Dessa vez, sabia que não me deixariam em paz. Minha cama estava confortável demais para querer me levantar, mas não tive escolha. Ainda de pijama, peguei o roupão azul estendido sobre a cadeira da penteadeira e segui para a porta, murmurando todos os xingamentos possíveis.

— Já vai!- Exclamei fechando o roupão sobre meu pijama de meia estação.- Esperou nove meses para nascer, mas não espera dois minutos!

Abri a porta de supetão e cabelos longos e mãos bronzeadas foram as primeiras coisas que vi no escuro.

— James?- Eu o olhei, incrédula.- O que você quer? Sabe que horas são?

Ele ignorou minha expressão e minhas perguntas, apontando para o armário do outro lado do quarto.

— Vista-se.- James pediu.- Use o uniforme da Guarda. Tem 5 minutos.

— Não vai me explicar porque veio me acordar no meio da madrugada? Sabe quanto isso soa assustador?

— É uma emergência.- O Guarda limita-se a dizer apenas isso.- Se apresse.

Entendendo que James falava sério, fecho a porta, assentindo, e busco meu uniforme no armário. Confiro a hora, percebendo quão tarde era. Em poucas horas, o dia iria clarear, e algo muito sério devia ter acontecido, ou o filho de Gavin não iria parecer tão transtornado, eu só não sabia porque qualquer emergência me envolveria, considerando que ainda não era a Guardiã Real oficialmente. Talvez fosse algum tipo de treinamento. Só seguindo James descobriria do que se tratava. Já vestida e com meu novo arco, eu o acompanhei pelos corredores silenciosos do castelo, como era de se esperar àquela hora da madrugada. Dois guardas faziam uma ronda em cada andar, mas pareciam inquietos aquela noite, sussurrando, como se o que quer que tivesse acontecido já tivesse chegado aos seus ouvidos. Por que eu era sempre a última a saber?

Com James dirigindo, fui no banco do carona dessa vez, e ele não tentou falar comigo nem explicar alguma coisa enquanto atravessávamos a cidade. A Capital nunca dormia, e algumas pessoas ainda circulavam pelas ruas onde passávamos, fachadas de neon e hologramas anunciando seus produtos e promoções. Estranhei quando o Guarda cruzou a avenida principal para uma parte da cidade que eu ainda não conhecia. Conforme nos afastávamos das ruas principais, os pontos comerciais iam vagarosamente rareando, até que só restassem prédios e casas residenciais e ruas vazias e escuras. O carro em que estávamos era o único circulando ali àquela hora da noite e, portanto, foi fácil ver a fumaça subindo em direção à cúpula conforme nos aproximávamos de uma propriedade em uma área totalmente afastada do movimento da cidade. Um pórtico de mármore anunciava do que se tratava o lugar, embora fosse difícil enxergar além da fumaça criando neblina à noite. O carro passou pelos portões terrestres sem parar em qualquer momento, e via apenas um campo gramado e árvores por vários metros antes de alcançarmos qualquer construção. A maior delas queimava agora, o motivo de toda aquela fumaça e da atitude estranha de James até então. Uma comoção fermentava ao redor do prédio em chamas, caminhões de bombeiros já acionados e fazendo o possível para conter o incêndio antes que se espalhasse mais.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora