A Guardiã da Neve

13. O Palácio Está Movimentado

Ao longo da semana, voltei todos os dias ao laboratório onde Alyssa agora trabalhava. Seus experimentos haviam sido parcialmente destruídos, as amostras coletadas da Antártica perdidas para sempre, e a bióloga agora tentava recomeçar suas pesquisas com aquilo que tinha conseguido salvar digitalmente.

Nada seria o mesmo com hologramas digitais substituindo as amostras orgânicas que ela tinha antes, mas sempre que eu chegava ao laboratório, eu a via trabalhando em projeções 3D das suas coletas sobre as mesas limpas que ela arrumou para esse propósito. O ovo ainda não havia eclodido, mas Alyssa havia feito exames ainda dentro da incubadora, e ela havia me garantido que o que quer que saísse dali, continuava vivo. Talvez em breve teríamos um pequeno dragão para cuidar por aqui. Não sabia como eu devia me sentir sobre isso, já que sua mãe havia causado mais danos do que qualquer incêndio poderia causar no gelo.

Me arrumei com as mesmas roupas de treinamento de sempre, notando uma movimentação incomum pelos corredores conforme descia os andares de escada até o campo aberto onde eu devia me encontrar com Rogher todas as manhãs. Receptivo como era, o Guardião do Rei jamais me diria porque toda aquela agitação no castelo, e eu não havia visto Stefan ainda, se é que já estava acordado. Sem minhas aulas de arquearia logo cedo, duvidava que o principezinho se dignasse a acordar antes das 9:00h sem uma emergência de vida ou morte.

— O que está fazendo aqui hoje?- Perguntou Rogher quando me aproximei dele na sala de armas perto dos dormitórios da Guarda.- Não tem treino nenhum hoje.

— Por que eu tive que acordar tão cedo se não tem nada pra fazer?

— Quem te disse isso?- Ele se virou, guardando a lâmina que afiava com uma pedra de amolar de volta no gancho da parede.- Você não vai lutar, mas tenho algo para te ensinar sim. Essas roupas que não serão adequadas.

Analisei minha regata solta e as calças legging, nada fora do comum que eu costumava usar para o meu treinamento físico, com as armas.

— Qual é o problema?- Questionei.- Por que não terá aula hoje?

— Não foi mesmo avisada, não é?- Mexi a cabeça, negando.- A família de Eve Cameron está chegando. Os pais da garota são Lordes do outro lado do continente, onde as colônias do Reino Unificado agora ficam. Eve é a melhor amiga da Princesa Chelsea e Vossa Majestade está organizando um jantar de boas vindas.

— Eu ouvi Chelsea falando dessa garota.- Lembrei-me.- Só não entendo essa recepção toda para a burguesia das colônias.

— O Rei acha importante manter laços de amizade com o outro lado do oceano, para evitar possíveis rebeliões do povo.- Rogher explicou.- Nem todos os plebeus do outro lado do mar gostam da ideia de uma realeza que os controla de tão longe, e os Cameron são hoje o próprio governo por lá. É importante mantê-los seguros e felizes enquanto estiverem aqui, e é aí que a gente entra.

— Tudo bem, já vi que essa história vai longe.- Interrompi.- Já que não vamos lutar, posso trocar de roupa? Essas leggings são super desconfortáveis.

— Não, não pode.- O Guardião decretou.- Venha comigo. Enquanto temos tempo, preciso te mostrar algumas coisas para essa noite.

Eu o acompanhei de volta para o castelo, e atravessamos os corredores do primeiro andar até um grande salão que eu nunca havia entrado, as portas douradas sempre fechadas, agora escancaradas. Mesas haviam sido dispostas pelo cômodo, e criados iam e vinham carregando pratos, talheres e enormes malhas douradas, azuis e brancas para decorar as mesas. Castiçais de ouro com velas eletrônicas estavam espalhados pelo ambiente, um lugar lindo, mas ainda sendo preparado para a recepção. Parece que a ideia de jantar de boas vindas da realeza era um pouquinho maior do que eu havia imaginado.