31. Data Marcada

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Acordo com o toque de mãos acariciando suavemente meus braços. Stefan me beija de leve quando abro os olhos, e permito que o beijo se aprofunde enquanto suas mãos tocam a pele exposta da minha cintura.

— Bom dia.- Cumprimento tocando suas bochechas assim que sua boca se afasta da minha, descendo para a mandíbula e arrastando os dentes sobre minha orelha. Suspiro, contendo os gemidos, entrelaçando meus dedos em seu cabelo curto.- Que boa maneira de acordar.

— Uma ótima maneira de acordar.- Rio com sua boca na minha pele.- Você é linda!

Foco minha atenção em seu olhar quando ele se afasta, apoiando os cotovelos ao lado da minha cabeça para me ver melhor. Sustento seu olhar, sem vergonha nenhuma quando corre a visão pelo meu corpo, sorrindo quando os olhos voltam a se fixar nos meus.

— Eu amo você.- Stefan sussurra.

Quando me beija de novo, sinto seus dedos passarem por uma área sensível no meu ombro direito, e silvo em protesto com o contato, lembrando do motivo daquela dor, a pontada que desceu por todo o braço quando uma das médicas do palácio convenceu todo mundo a minha volta a injetar os malditos nanobots de monitoramento de saúde e bem-estar há alguns dias.

Sabia que tinham muitos benefícios e muitas vezes Stefan tentou me convencer de injeta-lós em troca de nunca mais sentir frio, independente de quão baixa fosse a temperatura. Mesmo assim, eu não queria tecnologia nenhuma interferindo na minha natureza, em como eu era intocada pela maioria dos tratamentos e remédios conhecidos. Eu era uma sobrevivente, pois chegar à idade adulta fora da Capital era uma comprovação de superioridade genética, que nem a idade do gelo foi capaz de prejudicar a adaptação. Tinha orgulho disso, por mais que ninguém nessa cidade visse dessa forma. Não que minha opinião tenha importado. Segundo o próprio Gavin, se eu quisesse continuar nesse castelo, uma hora ou outra eu teria que me render ao monitoramento da minha saúde através dos robôs minúsculos, já que eram a maneira mais segura de garantir que os funcionários estejam protegidos de doenças que podiam ser contraídas em uma cidade tão poluída. Todos os moradores da capital viviam com nanobots, foi o argumento mais plausível que me deram, e eu não pude fugir da inevitável e dolorosa injeção de aplicação dos bots, mas isso não significa que tenha ficado feliz com isso.

— Sinto muito.- Stefan murmurou, imaginando o motivo da minha rejeição ao seu toque naquele lugar.- A dor ainda está muito forte?

— Um pouco.- Dou de ombros.- É só evitar tocar e eu ficarei bem. Não se preocupe.

— Odeio que tenham ignorado sua vontade, mas são regras da própria Capital, não é facultativo, assim como vacinas.- Ele diz, ainda parecendo se desculpar.- Não sei como demoraram tanto para querer que passasse por essa bateria de exames e a aplicação dos nanobots, mas com a Coroação tão perto, talvez tenham tentado garantir. Mesmo assim...

— Está tudo bem, Stefan.- Eu o tranquilizo, apoiando minhas mãos em suas bochechas e o forçando a me olhar.- Fala como se fosse sua culpa. Não é. A dor vai passar em alguns dias, garanto.

Ele assente.

— Se continuar te incomodando por muito tempo, não hesite em me pedir por algum remédio ou talvez ajuda. Não é normal ficar sentindo dor ao toque assim.- Stefan avisa.- Sei que aquela agulha não é das melhores, então pode me pedir ajuda, se precisar.

— Fico feliz que se preocupe, mas eu posso aguentar bem mais do que uma simples agulhinha.- Respondo com um sorriso, tentando amenizar o clima.- Você tem preocupações maiores do que meu braço agora.

As preparações para a Coroação de Stefan já duravam três meses desde nossa conversa com o Rei. A data já estava marcada e toda a cerimônia aconteceria em alguns dias. O aniversário de Stefan havia sido no dia anterior, e tiramos um tempo para comemorar do nosso jeito depois da grande festa que haviam feito para ele. Foi difícil encontrar um presente adequado para um Príncipe que já tinha tudo, mas o livro que comprei continuava sobre a mesa de cabeceira, as folhas com os desenhos que fiz dele na noite passada marcando as páginas. Estávamos todos nervosos com a cerimônia tão perto, mas às vezes era bom mesmo dar um tempo e descansar em alguma festa, como conseguiram fazer em prol do aniversário do futuro Rei.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora