16. O Fim das Festividades

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Recuo até sentir um dos computadores quentes nas minhas costas expostas. Apoio as mãos no metal, sabendo que não há outro lugar para fugir. Stefan bloqueia a única saída desse lugar. Agora não é mais um abrigo, é uma prisão.

— Se eu quisesse te ouvir, Stefan, tinha aberto a porta assim que você me pediu pela primeira vez.

— Não me importo.- Ele responde.- Saiu da mesa sem explicar o porquê e agora está se escondendo em uma sala de máquinas. As pessoas ficaram preocupadas, sabia? Eu fiquei preocupado. Não pode sumir assim. Quero saber o que está acontecendo com você.

— Quer saber qual o meu problema, Stefan?- Exclamo irritada.- Quer mesmo?

Ele assente.

— Você é o problema. Você e sua falta de comunicação vão me deixar louca antes dessa maldita coroação estúpida!- Exclamo, cada palavra é um passo na direção do Príncipe, até que estou a centímetros de distância do seu rosto, olhando-o nos olhos e falando em meu tom de voz de sempre. Da forma como eu via minha mãe fazer com o meu irmão mais novo, muito mais assustador do que qualquer gritaria. Ele continua em silêncio enquanto eu falo.- Quando tiver uma ideia que me envolva, Stefan, quero ser comunicada. Odeio omissões mais do que mentiras, e essa noite você fez os dois. Não me opus a essa nomeação temporária idiota em nenhum momento, aceitei como um disfarce sem problema nenhum, mas se você queria inventar uma história de relacionamento como se eu fosse uma personagem, como se isso fosse uma personagem, devia ter me avisado. Se você queria que eu atuasse, devia ter me contado quem eu devia ser. Eu teria concordado, Stefan, teria dito "sim".

— Não pode me culpar por isso também.

— Como não?

— Também não planejei nada. Acredite, queria ter planejado, mas foi tudo improvisado.- Ele tenta se explicar.- A oportunidade surgiu e eu achei que poderia funcionar, eu só sustentei a suposição da Sarah Cameron, não sabia que ia ficar tão chateada por ter que fingir ser minha namorada.

— Não gosto de mentiras.- Repito.- Muito menos de improvisação.

— Eu sei. Desculpa.- Ele segura o dedo que eu apontava sobre seu peito, ele era muito mais alto do que eu, mesmo com salto, eu mal chegava ao nível de seus olhos. Stefan abre meus dedos, segurando minha mão e abaixa nossos braços.- Me desculpa. Não devia ter feito nada sem perguntar para você. É minha Guardiã. Você precisa saber de tudo.

— Tudo?

— Sim.- A mão livre do Príncipe toca meu rosto, as pontas de seu dedo acariciam minha bochecha maquiada e seus dedos se detém perto do pescoço, tocando as mechas soltas do meu cabelo.- Quer uma verdade para compensar? Fui sincero em tudo que disse sobre você. Os Cameron estão certos. Você é ótima. Eu que não a mereço.

— Você é o Príncipe Herdeiro.- Lembro-o.

— Não importa.- Ele insiste.- Você sempre foi melhor do que eu, soube disso desde o momento em que te conheci. Nunca desconfiei de sua sinceridade, nunca achei que aquele tapa quando nos conhecemos foi menos do que quem você é. A ideia de te tornar Guardiã Real foi minha. Eu não te queria naquele lugar, queria você comigo. Aqui. Desde o início.

— O que exatamente você está tentando me dizer?

Meu coração batia acelerado. A julgar pela nossa proximidade, imaginava se ele não podia senti-lo também. Tinha uma ideia do que ele estava falando, eu só precisava de uma confirmação. Só uma.

— Quero dizer isso. 

Não tive tempo de raciocinar. Em um segundo, sentia seus lábios nos meus. Stefan me beijava com delicadeza, sem ter certeza de que eu também queria aquilo. Eu queria. Queria mesmo. Só que eu também sabia que era errado. Não conhecia nenhuma regra contra relacionamentos entre Guardiã Real e Príncipe, mas ainda assim...

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora