5. Cronograma

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Apresso o passo atrás de Stefan pelos corredores frios do castelo. Sou até alta para uma mulher, e bastante rápida, mas o príncipe é mais rápido do que eu, principalmente porque sabe onde está indo, ao contrário de mim.

— Por favor, vá mais devagar.- Peço correndo ao seu lado.- Sabe que eu preciso segui-lo onde quer que vá, não consegue me facilitar nem um pouco?

— Você me facilitou lá fora?

Então era isso. Ele estava tentando se vingar da minha exibição, estava com rancor. É claro. Um príncipe está acostumado a ser o centro das atenções, não deve ter gostado de não ter conseguido atirar de primeira como eu.

— Avisei que arquearia era difícil.- Respondo.- Não pode esperar ter toda minha mira e precisão ao atirar em seu primeiro dia. Eu caço com o arco há anos.

— Eu nem queria treinar arco e flecha.- Ele resmunga, ainda se esforçando para ficar na minha frente.- Não é seu trabalho me defender?

— Seu pai acha que você deve aprender a viver como um plebeu e se defender sozinho antes de se tornar rei. Eu só digo ordens.- Respondo e puxo a manga de sua camisa social para fazê-lo parar um pouco. Eu não iria aguentar correr por muito mais tempo.- Meu trabalho é segui-lo o dia inteiro, então é melhor se acostumar com a minha presença, porque eu não vou tirar o olho de você.

— Ah, é? E você pretende talvez dormir no meu quarto também?- Ele ironiza.- Entrar no banheiro comigo?

Contenho a vontade de respondê-lo com o mesmo nível de ironia.

— Limites existem.- Digo.- Não se esqueça que foi você quem começou com tudo isso, agora vai ter que aguentar. Supere seu descontentamento, as ordens do seu pai vão sempre ser minha prioridade.

— Um dia não vão.- Ele insiste.- Um dia serei o Rei e você vai ter que fazer o que eu mandar.

— Você ainda não tem a Coroa.- Repito.- E não terá, se continuar com essa arrogância. Suponho que seu pai só vai te deixar governar quando entender que você está preparado.

— E o que é estar preparado, exatamente?

— Um Rei só pode governar se é capaz de entender as necessidades do seu povo, do contrário, é inútil.- Explico.- Já te deixo claro que eu não aceitei esse trabalho para mudar macho nenhum, minha parte do acordo só inclui te proteger, e eu só estou tentando te ensinar arquearia porque também acho que você precisa aprender a se virar quando eu não estiver por perto, afinal, não sou sua sombra, mas como você mesmo disse na viagem até aqui, o único tratamento que você terá de mim não envolve bajulação. Eu não sou assim. 

— Vai me seguir durante todo o dia mesmo?

Ele parecia estar se conformando, derrotado.

— Vou.- Respondo.- Temos um acordo de paz?

Stefan aceita minha mão estendida e a aperta, selando uma trégua, mesmo que temporária. Não era necessário expressá-la com todas as palavras, creio que ele já havia entendido o que eu queria dizer. Chega de tentar me despistar, correr na minha frente para que eu não possa alcançá-lo ou omitir o que deve fazer em seu cronograma. Foi o Príncipe quem teve a ideia de me convidar para esse trabalho, suponho, agora ele deveria ter a decência de me aceitar, conforme combinamos que seria ainda naquele veículo de neve.

— Eu tenho uma reunião agora.- Stefan revela.- Você vai me acompanhar até a sala?

Assinto.

— Estamos quase chegando.- Diz.- É logo depois daquele corredor.

— Tudo bem.- Respondo.- Vou entrar com você, mas é bom que você deixe claro para os outros quem eu sou.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora