Apresso o passo atrás de Stefan pelos corredores frios do castelo. Sou até alta para uma mulher, e bastante rápida, mas o príncipe é mais rápido do que eu, principalmente porque sabe onde está indo, ao contrário de mim.
— Por favor, vá mais devagar.- Peço correndo ao seu lado.- Sabe que eu preciso segui-lo onde quer que vá, não consegue me facilitar nem um pouco?
— Você me facilitou lá fora?
Então era isso. Ele estava tentando se vingar da minha exibição, estava com rancor. É claro. Um príncipe está acostumado a ser o centro das atenções, não deve ter gostado de não ter conseguido atirar de primeira como eu.
— Avisei que arquearia era difícil.- Respondo.- Não pode esperar ter toda minha mira e precisão ao atirar em seu primeiro dia. Eu caço com o arco há anos.
— Eu nem queria treinar arco e flecha.- Ele resmunga, ainda se esforçando para ficar na minha frente.- Não é seu trabalho me defender?
— Seu pai acha que você deve aprender a viver como um plebeu e se defender sozinho antes de se tornar rei. Eu só digo ordens.- Respondo e puxo a manga de sua camisa social para fazê-lo parar um pouco. Eu não iria aguentar correr por muito mais tempo.- Meu trabalho é segui-lo o dia inteiro, então é melhor se acostumar com a minha presença, porque eu não vou tirar o olho de você.
— Ah, é? E você pretende talvez dormir no meu quarto também?- Ele ironiza.- Entrar no banheiro comigo?
Contenho a vontade de respondê-lo com o mesmo nível de ironia.
— Limites existem.- Digo.- Não se esqueça que foi você quem começou com tudo isso, agora vai ter que aguentar. Supere seu descontentamento, as ordens do seu pai vão sempre ser minha prioridade.
— Um dia não vão.- Ele insiste.- Um dia serei o Rei e você vai ter que fazer o que eu mandar.
— Você ainda não tem a Coroa.- Repito.- E não terá, se continuar com essa arrogância. Suponho que seu pai só vai te deixar governar quando entender que você está preparado.
— E o que é estar preparado, exatamente?
— Um Rei só pode governar se é capaz de entender as necessidades do seu povo, do contrário, é inútil.- Explico.- Já te deixo claro que eu não aceitei esse trabalho para mudar macho nenhum, minha parte do acordo só inclui te proteger, e eu só estou tentando te ensinar arquearia porque também acho que você precisa aprender a se virar quando eu não estiver por perto, afinal, não sou sua sombra, mas como você mesmo disse na viagem até aqui, o único tratamento que você terá de mim não envolve bajulação. Eu não sou assim.
— Vai me seguir durante todo o dia mesmo?
Ele parecia estar se conformando, derrotado.
— Vou.- Respondo.- Temos um acordo de paz?
Stefan aceita minha mão estendida e a aperta, selando uma trégua, mesmo que temporária. Não era necessário expressá-la com todas as palavras, creio que ele já havia entendido o que eu queria dizer. Chega de tentar me despistar, correr na minha frente para que eu não possa alcançá-lo ou omitir o que deve fazer em seu cronograma. Foi o Príncipe quem teve a ideia de me convidar para esse trabalho, suponho, agora ele deveria ter a decência de me aceitar, conforme combinamos que seria ainda naquele veículo de neve.
— Eu tenho uma reunião agora.- Stefan revela.- Você vai me acompanhar até a sala?
Assinto.
— Estamos quase chegando.- Diz.- É logo depois daquele corredor.
— Tudo bem.- Respondo.- Vou entrar com você, mas é bom que você deixe claro para os outros quem eu sou.
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A Guardiã da Neve
Science FictionEm um futuro distante, uma nova Era do Gelo começou. Neste mundo congelado, os humanos sobreviventes precisaram mudar todo seu estilo de vida. Com menos água líquida disponível e novas porções de terra reveladas, novos países e colônias surgiram. Re...