A Guardiã da Neve

23. Espionagem

Nos dois dias que tínhamos para nos preparar, Gavin me entregou uma máquina holográfica e me fez analisar o mapa do museu até que eu soubesse cada mínimo detalhe sobre o lugar, e me instruiu sobre como eu devia ficar atenta a qualquer pessoa por que passássemos, e não apenas ao grupo que devíamos seguir. Foi difícil convencê-lo de que podia dar conta de espionar e manter Stefan seguro ao mesmo tempo, mas eu não deixaria essa oportunidade para os Guardas. Essa missão era minha. Talvez se Gavin soubesse que eu não protegia mais Stefan apenas por causa do meu emprego, ele me veria com outros olhos, mas esse era exatamente o mesmo motivo pelo qual o Guardião Real nunca poderia sequer suspeitar que eu tinha qualquer tipo de envolvimento com o Príncipe Herdeiro. Evitaria a dor de cabeça e os problemas que Stefan poderia me causar pelo tempo que eu conseguisse.

Na sexta-feira, James nos esperava no pátio, e eu o encontrei encostado em um dos carros da garagem que ficava escondida no subterrâneo. Me lembrava daquele automóvel, mas nunca tínhamos usado-o ainda. O filho de Gavin me entrega um tablet de vidro bastante popular entre os jovens daquele ano e duas pequenas linhas de escuta que devíamos conectar ao aplicativo no tablet para filmar a reunião que devíamos espionar. A missão era simples, apesar de arriscada, e talvez fosse por sua facilidade de execução que Gavin Rogher permitiria que eu e Stefan nos aproximássemos do Museu, apesar das ameaças contra a realeza. E estávamos disfarçados, não tinha como algo dar errado.

Enquanto dirigia, James nos explica com detalhes como usar o aparelho que me entregou e nos dá algumas dicas de como sair vivos do Museu no caso de nos descobrirem, como ele mesmo disse. Como eu era a única que tinha visto o rosto dos suspeitos, era minha responsabilidade liderar a espionagem. Nunca tinha feito nada do tipo, mas eu sabia ser silenciosa e sorrateira, graças aos meus anos caçando animais com uma audição e visão infinitamente melhores do que a minha. O plano que não contei à James ou Gavin era que deixaríamos o Guarda na porta do Museu e nos misturaríamos na multidão antes que ele percebesse que tínhamos escapado. Pelo menos era isso que havia combinado com Stefan.

Vestida com calças jeans cinza, botas pretas com um salto baixo e uma jaqueta de couro vermelha, parecia uma jovem universitária que havia levado o namorado para assistir à palestra de um estudioso de história que estaria presente no dia da inauguração da nova exposição sobre arquitetura pré-Era do Gelo. E com os apliques multicoloridos que Chelsea havia prendido no meu cabelo e o tablet nas mãos, era exatamente uma estudante de Arquitetura que eu parecia. Stefan havia se disfarçado de forma semelhante, com coturnos e uma flanela vermelha e preta por baixo do casaco de couro preto. Vestíamos cores muito opostas às usadas no castelo e em um estilo extremamente comum para pessoas de nossa idade, e graças às lentes verdes e o spray loiro que a Princesa havia passado no cabelo de Stefan, não havia chances de alguém reconhece-lo como o próximo Rei. Chelsea havia pensado em tudo. Ela era excepcional com roupas e maquiagem, isso era fato.

Começo meu plano assim que descemos do carro, apontando para o outro lado da rua, e James olha para lá, tentando entender o que eu queria mostrar.

— Não sei porque, mas acho que acabei de ver um daqueles orientais da Taverna entrando naquela loja lá.- Menti, mas não me sentia nem um pouco culpada por isso.

— Por que um dos idiotas iria para aquele lado tão perto da hora marcada para a reunião?- James parecia com raiva. Bom.- O Museu está bem aqui.

— Não sei, mas porque você não vai até lá verificar?- Perguntei, dando de ombros.

— Eu vou, mas vocês dois fiquem aqui!- O Guarda avisa, alternando o olhar entre nós dois, como se quisesse ter certeza de que o obedeceríamos. Vai sonhando, pensei. Assenti quando James apontou o dedo na minha direção, como se reforçando que falava sério com as sobrancelhas arqueadas.- Não tentem fugir.