6. Irmã

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Quando estamos longe o suficiente para que as pessoas naquela sala não nos ouçam, caímos na risada. Pela primeira vez, Stefan e eu agíamos como dois amigos. Há muito tempo não me divertia assim, não me lembrava mais como era ser defendida dessa forma desde que me formei no Colegial.

— Acho que acabamos de arrumar problemas com o Conselho.- Comento, ainda tentando parar de rir.- É encrenca?

— Relaxa.- Stefan me tranquiliza, apoiando a mão sobre meu ombro como um amigo faria.- Sou o herdeiro do trono, eles não podem fazer nada comigo.

— Com você talvez não, mas eu continuo sendo plebeia.

— Ainda há muito que você precisa saber sobre o cargo que ocupa, Evelyne.- Enfim ele fica sério.- Você está segura. Não podem fazer nada contra você enquanto trabalhar comigo. E você teve uma excelente ideia. Vão acatar o que você disse querendo ou não, meu pai só precisa saber por nós, então melhor nos apressarmos.

— Como assim?

— Vou marcar uma reunião pra você com o Rei.- Stefan sorri.- Ele vai adorar ouvir sobre suas ideias para a população, assim como eu gostei.

Uma audiência com o Rei? Eu jamais havia imaginado que chegaria tão longe, mas isso era muito além do que apenas as palavras ensaiadas que eu pretendia um dia falar ao Prefeito do vilarejo. Era apressado demais da parte de Stefan querer algo assim? Mas que escolha eu tinha? Afinal, podia mesmo ser uma solução para o problema de cidades como a minha. Nada poderia ser mudado se eu não tivesse coragem de falar com o Rei. Era uma oportunidade única, então teria que deixar a vergonha e o nervosismo de lado.

— Ótimo.- Respondo-lhe.- Quando faremos isso?

— Agora.

Stefan me conduz por corredores intermináveis até o primeiro andar do castelo, e entramos sem cerimônias por uma porta secundária guardada por dois guardas enormes no corredor onde o Príncipe havia sumido no meu primeiro dia aqui. Não escondo minha surpresa ao descobrir que nas paredes havia uma porta semi escondida nos fundos do grande salão. E mais uma vez eu estava na Sala do Trono, porém, não paramos diante dos tronos vazios naquele púlpito na área mais iluminada do cômodo. Nós passamos por trás do pequeno palco e atravessamos uma porta de correr logo atrás, que imagino ser o caminho usado para o máximo da realeza chegar no salão atrás de nós.

Embora costumasse ser muito criativa e de imaginação fértil, jamais seria capaz de imaginar que colado à um salão tão imenso houvesse um cômodo tão grande quanto, escondido por simples portas atrás dos tronos. Diante de mim, via uma espécie de sala de convivência da nobreza, repleta de homens jogando sinuca em um canto do salão, bebendo em um bar ali perto, e mulheres, de longos vestidos e roupas alinhadas, estavam sentadas em cadeiras tão caras quanto as joias que usavam, entretidas em conversar, fazendo as unhas ou o cabelo com algumas criadas e até interagindo com os guardas vestidos de preto e azul, um uniforme muito mais parecido com o que eu mesma usava do que de todos os que eu já havia visto antes. Os Guardas do pátio vestiam cores mais claras, esse uniforme era de uma outra classe de guardiões da realeza. Ao longe, reconheci a Rainha Craworth lendo em uma poltrona de um vermelho vivo como sangue enquanto uma criada de branco fazia algum penteado em seu longo cabelo dourado.

Uma garota de cabelos cor de rosa para de tentar pegar um grampo colorido das mãos de um enorme guarda de longos cabelos loiros presos em um coque. Achei bom que ela parasse de pular mesmo, porque o brutamontes estava com aquelas mãos tão altas que seria impossível uma garota tão baixa ser capaz de alcançá-la. No entanto, ela ria quando seu olhar se voltou a nós dois, e o grito que se seguiu foi suficiente para chamar atenção de mais pessoas naquele salão escondido.

A Guardiã da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora