Jessie me encarava com certa expectativa aguardando minha resposta.
— Sim, é incrível — falei, sem nenhuma empolgação. — Mas por que só ficou sabendo agora? Já estamos no final do verão.
— Eu estava na lista de espera. Eles publicaram no site há algumas semanas, eu devo ter recebido um e-mail, mas me esqueci de checar antes.
Eu sabia por que Jessie não tinha se lembrado de olhar o e-mail ou o site da universidade. Ela tinha estado ocupada demais nas últimas semanas, tomando conta de mim.
— Meus parabéns — minha voz ainda não tinha nem sequer o mínimo tom de animação. Porque eu de fato não estava animado. Como poderia?
Depois de me dar aquela bombástica notícia, Jessie saiu saltitante da sala e foi empolgada contar para todos. Eu permaneci prostrado no chão, sem saber como reagir àquela situação. Me parecia ser um tanto injusto que, depois de todo aquele tempo separados, quando eu finalmente havia reconquistado a garota que amava, ela estava prestes a ir embora para outro estado.
Decidi que precisava evitar esses pensamentos. Me levantei do chão e fui até o quarto onde estavam minhas coisas, vesti uma camiseta e me preparei para sair um pouco. Precisava espairecer, pensar em outras coisas. Resolvi visitar minha irmã no hospital.
Quando já estava na porta da frente, me reencontrei com Jessie, parecendo continuar extasiada por sua carta de aceitação, que ainda carregava nas mãos.
— Onde você vai? — perguntou.
— Vou ver Megan no hospital. Ela passou no teste de deglutição e agora já pode comer. Pensei em levar algo que ela goste.
— Nossa, isso é ótimo! Mas que dia bom, não é mesmo?! — Jessie parecia não poder parar de sorrir.
— Se você acha — eu dei de ombros.
— O que é que há contigo? Você parece chateado.
— Não estou, não.
— Tem certeza?
— Tenho.
— Então me dê um sorriso — ela estendeu a mão e apertou minha bochecha, balançando minha cabeça de um lado para o outro.
Eu esbocei um sorriso amarelo, retirando sua mão de meu rosto.
— Você está sentindo dor? — Jessie ainda demonstrava preocupação.
— Não... Quer dizer, sim. Estou sempre com dor. — Revirei os olhos.
— Quer que eu busque seu remédio?
— Não. Eu tomei mais cedo. Só quero ir ver minha irmã.
— Então eu te levo até lá.
— O quê? Não, não precisa.
— Mas eu quero. Assim eu posso ver meus pais e contar para eles a novidade — ela balançou a carta em sua mão.
Convencido de que Jessie não mudaria de ideia, aceitei que ela me desse uma carona até o hospital. Entramos em seu carro e ela começou a dirigir. Um silêncio pairou no ar até que ela puxou conversa:
— Está pensando em quê?
— Sei lá.
— Não sabe no que está pensando?
— Em nada. Eu acho.
— Você está agindo estranho desde cedo. Até parece que nem ficou feliz por mim.
— Eu deveria ficar?
— Como é que é? — Jessie deu uma freada brusca. — Você não acha que devia estar feliz por mim?
— Só não acho que seja justo. Quando eu finalmente consigo te ter de volta, você está prestes a me deixar.
— Eu não estou te deixando! Não é como se nós nunca mais fôssemos nos ver. Nova York fica só a poucas horas daqui.
Sua feição mudou imediatamente. Seu belo sorriso agora havia se transformado em uma pesada carranca. Jessie estava visivelmente magoada com minhas atitudes. Eu não soube o que mais dizer, então ela mesma voltou a falar:
— Sabe o que é injusto? É injusto você querer que eu desista do meu sonho, depois de tudo que me viu passar para conseguir isso!
— Não quero que desista do seu sonho. Eu jamais te pediria isso! Me desculpa. Eu quero ficar feliz por você. Vou ficar. Só não estava esperando por essa, assim, agora.
Ela não respondeu. Permaneceu impassível, sem dizer uma única palavra. Apenas deu um longo e profundo suspiro e continuou dirigindo.
— Ei, por favor, não fique brava comigo.
— Não estou. Estou chateada.
— Nem chateada. Olha só, eu vou ficar feliz por você. Prometo! Só preciso de um tempo para assimilar tudo isso.
Ela olhava pelo parabrisas, sem esboçar qualquer sentimento.
— O que sua irmã gosta de comer? — falou, me deixando um pouco confuso.
— O quê?
— O que Megan gosta de comer? Você tinha dito que ela já podia engolir e que iria levar algo que ela gostasse, então precisamos parar em algum lugar antes de chegarmos lá.
— Ah, sim. Meggie ama batatas fritas! Podemos parar no McDonald's perto do hospital.
— Credo! — seu rosto se contorceu em uma expressão de nojo. — As batatas deles são um horror!
— Sério? Você não gosta das batatas do McDonald's? Todo mundo ama aquelas batatas!
— Podemos conseguir algo melhor para Megan.
Fizemos então um pequeno desvio no trajeto, para uma rápida parada em uma lanchonete gourmet que ficava a poucos minutos dali. Comprei um hambúrguer artesanal, batatas fritas, e milkshake de morango para presentear minha irmãzinha.
De volta ao carro, não houve mais praticamente nenhum diálogo entre mim e Jessie até que tivéssemos chegado ao hospital. Já na porta do quarto onde Megan estava, eu me virei para Jessie e tentei me redimir.
— Me desculpe por não ter ficado feliz como você esperava. Eu sei o quanto se esforçou para entrar nessa universidade. Estou orgulhoso de você! De verdade.
— Obrigada — ela me abraçou. Já era um bom sinal. Ela estava disposta a me perdoar. Mas ainda dava para ver que ela permanecia chateada comigo. — Vou tentar encontrar meus pais e contar a eles a novidade. Eu venho te encontrar aqui mais tarde para irmos embora.
— Combinado. — Beijei-lhe a testa e ela saiu caminhando lentamente.
Antes de entrar no quarto de Megan, respirei fundo. Minha irmã já tinha problemas demais, a última coisa que ela precisaria é que eu a chateasse com os meus. Aquele era seu momento de felicidade, eu não iria estragar isso também. Por isso tentei colocar um sorriso no rosto e parecer tão alegre quanto possível.
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SOB O MESMO CÉU
RomanceLivro 2. A sequência da história de Sob a Luz do Sol. Este é o segundo livro da trilogia.