Capítulo 12
Doutora Rosenberg olhou no fundo de meus olhos e deu um sorriso complacente.
— O que você tem que fazer é aguentar firme! Se precisar de qualquer coisa, as enfermeiras estarão de prontidão para te atender. Agora vou deixar você e a senhora Hart a sós. Nos vemos pela manhã.
Em seguida ela saiu, e Jessie chegou mais perto para segurar minha mão.
— Você viu? Ela me chamou de senhora Hart.
Eu ainda estava apreensivo com o que tinha acabado de ouvir da médica, mas ri quando Jessie falou aquilo.
— Somos marido e mulher — brinquei.
— Sabe, já que agora somos oficialmente casados, tem algumas coisas que poderíamos fazer — ela acariciava meu tórax com os dedos — bem aqui, nessa cama de hospital mesmo.
— Sossega! Deve até ter câmeras aqui.
— Isso me deixa ainda mais instigada — Jessie sorria maliciosamente. — Então, o que me diz?
Eu mal podia acreditar no que ela estava dizendo. Senti meu coração acelerar subitamente.
— Jessie, você está falando sério?
— Mas é claro que não! — Ela me deu um tapa no peito, rindo bastante. — Como você pôde acreditar nisso?
— Eu também estava brincando — tentei me desvencilhar.
Nosso momento de descontração não durou muito. Minutos mais tarde comecei a tossir. Tossia sem parar. Uma tosse seca e profunda, que me machucava a garganta. Jessie ficou preocupada e chamou uma enfermeira, que veio em meu socorro imediatamente. Ela trouxe um pequeno balde de plástico e disse que era para o caso de eu querer vomitar.
Dito e feito! Vomitei dentro do balde, vomitei no chão e até na cama onde eu estava. Outras pessoas vieram ajudar a limpar e tentaram me consolar. Minha mãe chegou e também ficou ao meu lado.
Foi quando veio o próximo sintoma: dores. Eu sentia dores agudas por toda parte. Era como se tivesse câimbras no meu corpo inteiro. Vi Jessie chorar baixinho no canto do quarto enquanto eu me contorcia na cama, coberto de suor.
Foi uma longa noite! Havia alguns momentos de calmaria, quando eu parecia estar melhor. Mas logo voltavam as dores e crises de tosse.
O pior momento da noite foi quando eu estava prestes a dormir. Comecei a sentir uma súbita falta de ar, apesar de ainda estar recebendo oxigênio direto no meu nariz. Eu não conseguia respirar e aquilo me fez entrar em pânico. Gritei, implorei por ajuda. Uma enfermeira tentou me tranquilizar:
— Calma, rapaz, você está no oxigênio. Está vendo? Bem aqui — ela apontava. — Concentre-se em respirar devagar, você consegue, vamos!
Vendo que eu não reagia da forma esperada, ela enfim apelou para medicação. Lembro-me de tê-la ouvido falar com minha mãe ao meu lado:
— Vou aplicar 0,15mg de clonidina. Vai ajudá-lo a se acalmar.
Finalmente, senti um profundo cansaço até que adormeci.
A saga se repetiu no dia seguinte. As dores me faziam sentir irritação e eu ficava cada vez mais nervoso. Um enfermeiro amarrou minhas mãos nas extremidades da cama, para evitar que eu fizesse qualquer coisa que pudesse machucar os outros ou a mim mesmo. E foi assim que eu passei a maior parte do segundo dia. Quando dormia, tinha pesadelos e quando estava acordado era como se estivesse vivendo em um.
Diarréia foi outro sintoma que me acometeu na noite seguinte. Eu tive tanta vergonha que pedi para que Jessie não ficasse mais no quarto comigo, mas ela se recusou a deixar o meu lado. Assim, ela e minha mãe se revezavam em turnos para me fazer companhia e, por vezes, ficavam as duas juntas.
Eu comecei a ter alucinações naquela noite. Era difícil saber o que era real e o que era da minha cabeça. Em um determinado momento, eu estava convencido de que havia insetos na minha cama, e um enfermeiro passou um bom tempo tentando me convencer de que estava tudo normal. Depois que ele trocou meus lençóis, eu dormi.
Após o terceiro dia, as coisas finalmente pareceram melhorar. Eu continuava sendo medicado com metadona, uma dose diária. Além disso, sempre que começava a ficar inquieto demais, eles me davam clonidina.
Dessa forma, fomos passando, até que chegamos ao quarto dia de internação. Eu já parecia estar bem melhor e mais calmo. Não havia mais a necessidade de permanecer amarrado à cama.
Minha mãe levou Megan para me fazer uma visita durante a tarde e aquele foi o momento mais feliz do meu dia! Meggie chegou arrastando seu cilindro de oxigênio como se fosse uma mochila com rodinhas.
— Irmãozão! — Gritou ao me ver.
—Ei, maninha — falei em resposta.
Nós nos abraçamos. Ela achou graça por estarmos "iguais" usando tubos de oxigênio.
— Agora você sabe como me sinto com essa coisa — Meggie disse.
Tiramos uma foto para guardar de lembrança, do dia em que nós estávamos "gêmeos" como ela mesma classificou.
Jessie tinha ido para casa, para descansar um pouco, com a promessa de que voltaria para passar a noite comigo. Na ausência dela, tive a companhia de mamãe e Meggie, que ficaram em meu quarto a tarde toda.
Houve um momento em que vi minha mãe respirar fundo do lado de fora do quarto. Eu podia vê-la pelas persianas. Ela parecia triste. Imaginei o quanto devia ser difícil para ela, ver seus dois filhos em um hospital, sem poder fazer nada. Tomei aquilo como incentivo para melhorar logo.
No quinto dia, cessaram os medicamentos adjuvantes e eu voltei a passar por alguns momentos sombrios. Contudo, as dores já estavam diminuindo e eu quase não tinha mais alucinações. Apenas tremedeira e calafrios. Foi difícil chegar até o sexto dia, mas consegui passar por ele também.
Na manhã do sétimo dia, eu estava contente e cheio de motivos para sorrir! Era o dia que eu receberia alta. Supostamente. Porém, doutora Rosenberg foi, mais uma vez, portadora de más notícias:
— Quero te manter aqui por mais uma ou duas noites, só para garantir que de fato esteja bem.
Com isso, eu tive que permanecer internado por mais dois dias, contrariando a previsão inicial. De qualquer forma, o nono dia veio e, com ele, a notícia que eu tanto esperava: alta.
Assinei os papéis da liberação médica por volta das três da tarde e saí sorridente daquele maldito quarto. Fui de mãos dadas com minha mãe e Jessie até o quarto de Megan, que ainda não tinha previsão de saída.
— Ei, Mary Poppins, como é que você está se sentindo hoje?
— Muito bem! — Respondeu entusiasmada. — Tô tão feliz de te ver sair!
— Não vejo a hora de ver você saindo daqui também — eu disse.
— Logo, logo vai ser minha vez — falou, otimista.
— É, vai sim — concordei.
— Ei, adivinha só?! Eu já estou comendo sólidos — Meggie apanhou uma barra de chocolate na mesinha ao seu lado e deu uma bela mordida. — Hmmm! É a melhor sensação do mundo!
Era lindo vê-la celebrar suas pequenas vitórias! Megan sempre foi uma pessoa extremamente otimista e nunca reclamava das dificuldades que tinha de enfrentar. Sempre a tive como meu grande exemplo de positividade.
Sair do hospital e ter que deixar Meggie para trás não me parecia nada justo. Mas eu esperaria ansioso pelo dia em que ela também receberia alta e poderia, enfim, ir para casa, como eu fui naquele dia.
Finalmente, havia chegado a minha hora de conhecer nosso mais novo lar.
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SOB O MESMO CÉU
RomanceLivro 2. A sequência da história de Sob a Luz do Sol. Este é o segundo livro da trilogia.