Capítulo 38

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Capítulo 38

Numa quarta-feira à tarde eu estava sentado estudando com Jenna quando convidei-a para o casamento de minha mãe, que seria dali a algumas semanas.

— Será que eu posso levar o meu... — Jen iniciou uma pergunta, mas não a finalizou. — Ah, deixa pra lá.

— Levar o seu o quê? — perguntei curioso.

— Nada não. Deixa pra lá.

— Ah, qual é, Jen?! Pode ir falando, vai, desembucha!

— Você jura que não vai contar para ninguém?

— OK — concordei imediatamente porque queria muito saber o que ela tinha a dizer.

— Nem para Jess!

— Tá, tudo bem. Diz logo!

— Eu estou saindo com um cara — ela finalmente falou. Seu rosto ficou tão corado quanto um pimentão vermelho. — Ele é mais velho. E acho que gosta mesmo de mim.

Aquilo me pegou de surpresa. Eu não podia acreditar que a pequena Jen agora já estava nessa fase de olhar para os garotos, namorar, se apaixonar... Ela só tinha 14 anos, caramba!

— Quantos anos esse cara tem, Jen? Qual o nome dele? Onde o conheceu? Quero saber tudo!

— Ele tem 18 anos. O nome dele é Zack. Ele já está no fim do ensino médio. Tem carro e tudo. Todas as garotas da escola babam por ele, mas ele disse que só gosta de mim.

— Jen, você tem que tomar muito cuidado! Não devia estar fazendo isso. É nova demais para namorar! E ele é velho demais para você!

— Você também é mais velho que a Jess — retrucou.

— Mas é diferente. Você ainda é um bebê! Só tem 14 anos. Não devia ter um namorado.

— Me deixa! — Ela revirou os olhos exageradamente. — Zack não é meu namorado. Nós só estamos nos conhecendo. E você jurou que não ia contar para ninguém. — Apontou o dedo indicador para o meu rosto. — Estou confiando em você, OK? Se contar para alguém, eu nunca mais falo contigo.

— OK — respondi inconformado. — Mas ainda acho que você devia contar para os seus pais. Duvido que eles aprovem.

— É por isso mesmo que ninguém vai contar nada. Agora de volta aos estudos — Jen finalizou o assunto.

Eu fiquei terrivelmente tentado a contar tudo para James ou Jolene naquele mesmo dia. Mas não podia quebrar minha promessa. Jen ficaria muito decepcionada se eu o fizesse. Por isso mantive seu segredo. Ou quase. Só contei para Rebecca no fim de semana seguinte.

— Jen é a irmã da sua namorada, certo? — Rebecca perguntou quando contei a ela.

— Certo. E ela só tem 14 anos.

— Bem, eu concordo com você. Acho que ela não devia estar namorando com essa idade. Mas, acho que é dever dos pais cuidarem disso.

— Mas eles não sabem, Becca.

— E você não deveria se meter — ela me repreendeu.

— Se eu não contar, eles nunca vão saber — argumentei em minha defesa.

— Paciência você deve ter, meu jovem Padawan. Os pais sempre descobrem.

— Padawan?

— Você nunca viu Guerra nas Estrelas? — Rebecca agora parecia chocada.

— Não — confessei envergonhado.

— E eu que pensava que todos os nerds tinham visto esses filmes.

— Ei, eu não sou nerd! — protestei.

— Você estuda na Embry-Riddle, colega. Todo mundo lá é nerd.

— Não eu! Eu sou um atleta... Bem, pelo menos eu era.

— Sério? O que você joga?

— Rúgbi.

E lá fomos nós, mudando de assunto, emendando uma conversa na outra com a maior naturalidade.

— Legal! Eu também era atleta no ensino médio.

— Líder de torcida? — perguntei ingenuamente, mas Rebecca pareceu ter ficado ofendida.

— Claro que não! Líderes de torcida são as piores! Eu fazia luta grecorromana.

— Sério? Você? Não consigo nem imaginar.

— Eu tinha muitos quilos a mais. Eu parecia um menino na minha adolescência.

— Não acredito!

Rebecca então me mostrou algumas fotos. Ela era realmente bem diferente durante o ensino médio. Usava aparelho, tinha problemas com acne e sobrepeso. Em todas as fotos seu cabelo estava preso. E ela sempre usava roupas largas. Nem sequer parecia a mesma garota que estava diante de mim.

— Ainda bem que eu mudei bastante desde essa época não é? — ela falou.

— É, tenho que concordar que você está bem mais bonita agora — comentei. O rosto dela corou instantaneamente.

— Não acredito que achou que eu fosse uma líder de torcida.

— O que você tem contra elas? Jessie era líder de torcida.

— Sua namorada? Pfff! Por que isso nem me surpreende? Não foi ela que você disse que foi rainha do baile de formatura?

— É. Isso depois de ter sido rainha do baile de Homecoming — respondi orgulhoso.

— Você namora a própria personificação das "Meninas Malvadas". — Rebecca riu alto.

— Ei, não fale assim dela! Esses estereótipos não são reais. Ela é uma ótima pessoa! A garota mais amável que já conheci!

— Tudo bem. Me desculpe. Mas e você, como era no ensino médio? — falou, provavelmente fugindo do assunto ao ver que havia me irritado.

— Bem, eu já era atleta. Migrei do futebol americano para o rúgbi. Mas também tinha alguns amigos nerds. Para dizer a verdade, minha namorada dos tempos de ensino médio era bem nerd.

— Então você era um Smart Jock.

— O quê?

— Smart Jock. Vai dizer que nunca ouviu essa expressão?

— Hmm... Não.

— Sério, em que mundo você vive?!

Senti que Rebecca estava me ridicularizando e preferi nem saber qual era a definição do termo que ela havia usado.

— Estou com fome — falei, mudando mais uma vez de assunto. — Será que eles entregam pizza aqui?

— Ah, não. Pizza não! — disparou.

— Vai me dizer que não gosta de pizza?

— Não é que eu não goste de pizza. É só que a culinária italiana é muito mais rica do que isso. As pessoas ficam aficionadas por pizza e se esquecem do resto.

— Mas pizza é vida! — defendi.

— Nada disso. Se você quer comida italiana, vou te dar comida italiana de verdade.

Naquela noite Rebecca fez o jantar para todos na casa. Ela fez salada toscana panzanella, e de sobremesa panna cotta de pistache. Estava incrivelmente delicioso, como tudo o que ela cozinhava.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora