Capítulo 20

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Capítulo 20

Eu mal podia acreditar! Meu peito quase explodiu de alegria! No momento em que minha mãe desligou o telefone, eu já estava dentro do carro, pronto para ir encontrá-las. 

Cheguei ao hospital em literalmente três minutos. Corri para dentro ainda em estado de euforia e, quando vi Meggie de pé, não me contive; abracei-a tão apertado que a fiz tossir. Estava tão feliz  em vê-la que nem me importei com o fato de estar interrompendo a conversa dela com seu médico.

Eu a ergui do chão e carreguei-a no colo, como se fosse um bebê. Nós dois ríamos incontidamente, sem dizer nada. Após alguns segundos naquele nosso momento de empolgação, permitimos que o médico voltasse a falar.

Ele deu suas recomendações finais, orientando-a a se alimentar bem, cumprir sua rotina de exercícios, não deixar de tomar seus remédios em hipótese alguma, e outras coisas mais. Mas eu estava mesmo era com pressa para tirar Meggie de lá. Assim que o doutor concluiu sua fala, estendi minha mão para ela e chamei-a:

— Vem! Vou te levar para casa.

Ela segurou minha mão de um lado e a de minha mãe do outro, então saímos os três caminhando sorridentes. Coloquei todas as coisas delas no carro enquanto elas entravam. Meggie quis ir na frente comigo, por isso mamãe foi no banco de trás. Nenhum de nós conseguia parar de sorrir mesmo depois de termos chegado em casa.

Megan ficou impressionada com o tamanho da nova casa e com o quanto esta era diferente daquela em que havíamos crescido. Ela observou algo que eu até então não havia notado:

— Nossa casa é a única da rua que não está enfeitada para o halloween.

— É verdade — reparei também.

— Podemos enfeitar hoje, mãe? Podemos? Podemos? — Megan sabia ser pidona.

— Não temos os enfeites — mamãe respondeu.

— Então a gente pode comprar? — Meggie insistiu.

— Talvez.

Mamãe pôs fim ao assunto. Nós entramos na casa e Meggie continuava boquiaberta, zanzando pelos cômodos e corredores. Após sua pequena inspeção, sentamos os dois na sala enquanto mamãe planejava preparar algo para comermos. Depois de constatar que não havia muitas opções na geladeira, resolvemos pedir comida. Enquanto estávamos os três sentados esperando que os pedidos chegassem, Megan fez um comentário engraçado:

— Ué, não tem lareira?

— Não precisa — respondi. — Aqui está sempre calor por natureza.

— Mas por onde é que o Papai Noel vai entrar, se não tem chaminé?

Aquele comentário pegou a mim e à minha mãe de surpresa. Megan já tinha 11 anos. Eu pensava que ela não acreditava mais em Papai Noel há algum tempo. Mamãe e eu nos entreolhamos, como quem diz: "eu conto ou você conta?". Mas antes que pudéssemos encontrar um meio de nos expressar, Meggie riu alto.

— Estou brincando. — Ela ria tanto que se balançava. — Vocês sabem que não acredito nisso, não sabem? Já se esqueceram de que eu fui com vocês comprar nossos presentes de Natal no shopping quando tinha 8 anos?

Respiramos aliviados e depois caímos na risada com ela.

A comida logo chegou. Pedimos comida mexicana, porque Megan adorava. Eu comi só meio burrito porque ainda estava com medo de que as náuseas retornassem. Comemos ali na sala mesmo, ignorando a mesa de jantar.

De tarde fomos ao mercado para abastecer a despensa e aproveitamos para comprar alguns enfeites de halloween para nossa casa. Decoramos todo o lado de fora com morcegos de borracha, esqueletos e várias abóboras com rostos esculpidos por nós mesmos. Meggie e eu entramos em uma disputa para ver quem fazia a cara mais assustadora na abóbora. Ela acabou ganhando por dois votos a um, já que só eu votei em minha própria abóbora.

— Ficou ótimo! — mamãe elogiou ao ver a casa inteiramente decorada.

— É uma pena que vamos ter de retirar os enfeites logo logo. O halloween já é daqui a poucos dias — comentei.

— E se a gente não tirasse? Podíamos deixar a decoração de halloween até o dia de colocar a de natal.

A ideia de Meggie era realmente terrível! Mas, por alguma razão, eu e minha mãe acabamos concordando. Agora os vizinhos que já nos olhavam estranho quando éramos a única casa sem decoração, passariam a nos olhar com estranhamento por sermos a única casa decorada para o halloween depois do halloween.

No final da tarde subimos para o quarto de minha mãe e nos deitamos os três na cama. Eu de um lado, Meggie no meio e mamãe do outro lado. Passamos um bom tempo conversando e rindo juntos. O clima era de alívio, após tudo o que havíamos passado nos últimos meses. Só o fato de estarmos juntos em casa novamente já era motivo de sobra para sorrir!

A noite chegou e ainda estávamos rindo alegremente e contando histórias sobre o Alasca, sobre nossa vida antes de tudo aquilo ter acontecido.

— Você se lembra daquela vez que quebrou a perna? — Megan me dizia.

— Eu falei para não ir andar de skate, mas você nunca ouve sua mãe não é mesmo? — mamãe completou.

Eu apenas ria ouvindo as duas falarem. Pouco mais tarde Megan pegou no sono. Eu e mamãe passamos algum tempo somente observando-a dormir ali, parecendo tão sossegada depois de ter sofrido tanto.

A imagem era linda de se ver! Estava deitada de barriga para cima, com uma das mãozinhas repousando sobre o peito e a outra bem acima de sua cabeça, sobre os seus cabelos que mais pareciam um emaranhado de cachinhos. Ela respirava com dificuldades, mas estava respirando, e aquilo era a razão da nossa felicidade!

Quando já estava me aprontando para dormir também, ouvi a campainha tocar e quase nem acreditei.

— Quem será a essa hora? — gritei do corredor para minha mãe que já estava descendo as escadas para atender a porta.

Ela não respondeu. Nem precisava. Eu já imaginava quem era. Tamanha inconveniência só poderia vir do namoradinho de minha mãe.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora