Capítulo 30

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Capítulo 30

A primeira coisa que notei foi que ela era alta, bem alta para uma garota. Sua pele era branca e parecia pálida. As sobrancelhas eram grossas demais, mas não de um jeito estranho, eram bonitas, se destacavam em seu rosto. Os cabelos castanho-escuros não eram muito compridos, chegavam só à altura dos ombros. Era magra, muito magra. Estava usando uma jaqueta de couro preta, calças jeans skinny e botinhas de camurça. A roupa definitivamente não era adequada para o clima do sul da Flórida. Ela segurava uma mala nas mãos e me encarava com uma expressão atordoada.

— Você tem três segundos para me responder antes que eu chame a segurança — ameaçou.

Eu ainda estava sonolento, tentando entender o que estava acontecendo. Sentei-me na cama antes de responder:

— Me desculpa. Eu não sabia que esse quarto era seu.

— Você trabalha aqui?

— Não. Eu sou um convidado. Foi Pickford quem me convidou. Zane Pickford. Você o conhece?

— Espera aí, meu pai convidou você? — ela semicerrou seus olhos castanhos.

— Pickford é seu pai?

Nós dois perguntávamos, mas ninguém respondia.

Ela piscou repetidas vezes, como se tentasse acordar de algum sonho, mas não disse nada. Então falei:

— Me desculpe, eu realmente não sabia que mais alguém morava aqui. Seu pai não mencionou nada. Eu teria ido para outro quarto.

— Eu não morava. Bem, já morei. Mas não moro mais. Quer dizer... Ah, deixa pra lá. Pode ficar com o quarto. Vou para o chalé. — Ela se virou para sair.

— Não, por favor, espera. Eu posso ir para outro quarto. Só fiquei aqui porque não sabia que este tinha dono. Mais algum tem?

— Não que eu saiba. — Ela se virou novamente para mim. — Quantas pessoas meu pai convidou?

— Só eu, minha mãe e minha irmã. Eu acho. — Cocei a cabeça. — A propósito, meu nome é Sam.

— Rebecca. — Ela fez um gesto de cumprimento com a cabeça.

— Por favor, Rebecca, pode ficar com seu quarto.

Eu me levantei, vesti a camiseta, peguei minha mochila que estava jogada no chão, calcei os chinelos e caminhei em direção à porta. Rebecca deu um passo para o lado, permitindo que eu passasse.

— Qual é mesmo sua relação com meu pai? — perguntou quando eu já estava saindo.

— Nenhuma — falei, e a expressão no rosto dela virou um grande ponto de interrogação. Na mesma hora continuei: — Bem, na verdade ele namora minha mãe.

— O quê? — sua voz rouca saiu quase como um grito. — Tem certeza de que estamos falando do mesmo homem?

— Tenho certeza de que não existem muitos Zane Pickfords por aí. — Eu dei de ombros, rindo, mas ela permaneceu séria.

— Tenho que falar com meu pai! Você sabe onde ele está?

— Estavam todos jantando quando eu subi.

Rebecca nem sequer disse outra palavra. Saiu enfurecida pelo corredor e desceu de elevador, carregando sua mala.

Eu queria ver como aquilo ia terminar, mas estava tão cansado que só fui para o quarto ao lado e voltei a dormir.

Quando acordei, o sol ainda estava começando a nascer. O quarto estava escuro, quase não entrava luz pela janela. Mas eu já estava absolutamente sem sono, então decidi me levantar e fazer uma caminhada.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora